Hoje são 09 de outubro. Ao ligar, aparece logo a informação de que mais de um milhão de pessoas humanas estão mortas. As cifras? A tela é entristecida pelo número de 1.062.360 óbitos pela política desastrosa que impera no mundo e cria pranchas confortáveis para o vírus surfar nas pessoas. Tempo esse que olhar os números, para além de entristecer, precisa criar ar de insurreição na alma. Estamos no início de outubro, mês no qual gritamos “não” para todos os tipos de violência. No dia 02 o “não” ficou evidente, mas é esse o som que jamais deve acabar para defender a humanidade. Ou seja, é pela nossa inteligência coletiva, solidária e pela defesa da vida que clama a insurreição da qual precisamos no presente. Uma insurreição potente, que grite esse “não” unificado para qualquer tipo de violência, para este outubro e para todos os meses que seguem em sequência. Para nós, hoje com mais força que antes, está colocada a defesa de todos os tipos de vida, da natureza, dos seres sencientes, sapiens ou não sapiens, e que se construam dignas acima de tudo.

Dizem os números que há 8 bilhões de pessoas no mundo. As fontes, há quem diga, são as mais confiáveis também. Afinal a ONU já avisou que a população mundial em 2017 ultrapassou 7,6 bilhões de habitantes. E os aparelhos de Estado que fazem essas contas em seus países dizem existir nos Estados Unidos 329.634.908 habitantes em 2020; e, no Brasil, no mesmo ano, 211.755.692 habitantes. Ou seja, se há 8 bilhões de pessoas no globo terrestre, é possível informar que nos EUA estão 4,1% dos seres humanos, enquanto no Brasil estão 2,7%. Atenção, essas contas, na fase pandêmica com a covid-19, estão mudando, afinal as pessoas estão morrendo! E que não nos deixemos enganar, quem mata é a política desastrosa e decrépita que segue no mundo com suas variadas escalas, deitando tapetes para o vírus desfilar e nos enterrar.

Os números que também dizem por aí serem confiáveis afirmam que, para cada um milhão de pessoas em dimensão global, 4.345 são envolvidas com o vírus. No Brasil, a cada um milhão de pessoas, o envolvimento ocorre com 22.619 pessoas e nos EUA ocorre com 21.936 pessoas. Um pouco mais de atenção para essas cifras se faz necessária. Ainda que no EUA, que representa 4,1 da população mundial, tenha 20,41% dos óbitos, o Brasil que representa 2,7% da população mundial acumula 14,16% dos óbitos. Ou seja, em números absolutos e em proporções a violência e as desigualdades gritam mais alto. Ou seja, a cada um milhão de pessoas há mais seres humanos envolvidos pela sombra das doenças e das mortes. Lamentável! Não há maior violência do que essas desigualdades impostas pela necropolítica que apavora a parte mais oprimida, explorada, subalternizada e desrespeitada do mundo.

É, falar de números e de datas não é tarefa fácil, mesmo para quem padece por dentro e por fora por sentir a vida tomada. Dia nove de outubro poderiam estar brilhando, em todas as telas, os ensinamentos que o médico revolucionário argentino nos ofereceu, principalmente após Cuba. No ano de 1967, na Bolívia, Che foi assassinado. Nós, que somos assassinados todos os dias, com a impossibilidade dos direitos e com a diminuição da vida imposta pelo capitalismo, temos noção disso. Mas só noção mesmo, enquanto muitos nem noção possuem. Esse revolucionário foi amante da vida em todos os sentidos, brilhou em músicas potentes na América Latina, aparece em camisas vendidas nos shoppings que fazem o culto ao dinheiro, essa mercadoria que empurra para lá o corpo existente. Che se misturou às cifras e às telas. Que sirvam, então, para mostrar um médico que se dedicava às pessoas, ao estudo e à vida, tudo o que precisamos nos dias atuais e que tanto nos falta.

As denúncias são necessárias, as reclamações são enfraquecedoras, mas apontar os caminhos para a superação lacra nosso encontro para a vida. Se viajarmos e prestamos atenção em números, só somos surpreendidos com as notícias devastadoras das desigualdades crescentes. A carta aberta da Auditoria da Dívida para o atual Ministro do que chamam de Economia afirma assertivamente que as privatizações que ampliam as desigualdades precisam parar e apresenta uma fala assertiva e agregadora: É hora de virar o jogo.

Entramos em outubro de 2020 e as hashtags que devem nos acompanhar são #02deOutubro; #DiaDaNaoViolencia; #GandhiLutherKingSilo; #NaoViolenciaéForça; #AForçaDaNaoViolencia; #AçãoNãoViolenta. Muitas opções, de grande valia para as necessidades do momento atual. Enfrentar a violência, dar um basta a todas as formas de violência, defender a vida e criar um mundo de convivência com respeito e inteligências coletivas que ampliem a potência humana são desafios de todos os tempos nesse sistema. Mas no período atual, são desafios que clamam com mais vibrações no corpo.

De um lado, o massacre contra a vida, com doenças e mortes assustadoras. Do outro, se vive uma organização de exploração e de ampliação das desigualdades que forçam a desprezível e individualizada saída pelo “salve-se quem puder”. Mas a única saída é nos salvarmos e superarmos a ordem imposta com uma arquitetura que unifique a vida. Essa vida múltipla, de singularidades diversas, com seres humanos diferentes, que se encontram no direito de viver e se fortalecem contra todos os tipos de violência. Assim precisamos entrar e navegar no mês de outubro, tornando-nos mais fortes para conquistar o mundo com dignidade humana.

O governo brasileiro, no percurso pandêmico, aposta em contrarreformas que direcionam o dinheiro controlado para os bolsos e cofres de quem vive do lucro e com grandes fortunas. Não há a menor dúvida para nós que, nesse momento, para além de uma grande onda unificada a favor da vida, garantindo questões básicas relativas aos direitos sociais, precisa-se também acumular forças para uma Renda Básica Incondicional e Universal. As pessoas, quando nascem, precisam já ter as condições para viver e não sofrer a violência das condições para morrer. Precisamos disputar o direito à vida com quem nos empurra para a morte em todos os sentidos. O que disputamos é o direito à vida plena e com dignidade e, para tanto, precisamos viver em condições de sermos sujeitos ativos, plenamente humanos em todos os sentidos e significados. O suporte material para a existência humana é a garantia de suas condições básicas para viver e, neste modelo vigente, no qual o desenvolvimento das forças produtivas geram concentração, centralização e privatização das riquezas do mundo, num vetor de destruição dos direitos sociais pela via dos aparelhos de Estado, a renda básica incondicional e universal é uma condição irrefutável, irredutível e não excludente em relação a todas as outras condições que a ela devem, também por direito, se sobredeterminar.

Portanto vale dizer e gritar: Outubro será o mês da não violência em todas as dimensoes humanas. Outubro será o mês da unidade, do crescimento, do investimento em conhecimentos, ações, formações e solidariedade coletiva para a vida ter mais força que a morte! Vamos ligar as máquinas com o corpo e com os sentidos, todos ligados na conquista do viver.