Campo do Meio, no Sul de Minas Gerais

 

O acampamento Quilombo Campo Grande foi erguido há mais de 20 anos nas terras da antiga Usina Ariadnópolis, pertencente à Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), e que faliu no final da década de 1990. Após a falência da usina, a área de aproximadamente 4 mil hectares ficou degradada por conta do monocultivo de cana-de-açúcar. Com a ocupação do MST, o local ganhou plantações de café, milho e hortaliças, além da criação de galinhas.

Fernanda Perdigão entrevista Geanini Hackbardt da Coordenação Estadual do MST, sobre a realidade diante a reintegração de posse,

 

– Estava agendada uma audiência pela Defensoria Pública do Estado no próximo dia 28 de agosto em relação a reintegração de posse. Como os moradores receberam essa decisão antes da audiência marcada para este mesmo mês?

– As famílias receberam com muita indignação e apreensão pois ainda não tinham passado por uma ação nesse sentido durante a pandemia, mesmo existindo recomendações e decretos dizendo que não é possível, sendo uma infração dos direitos humanos. Diante disso as famílias e o MST começaram a se organizar, mas sabemos que existe uma manobra que os antigos proprietários estelionatários junto ao Juiz Roberto Apolinário de Castro que concedeu a liminar e covardemente se afastou do cargo logo após a decisão, foi algo orquestrado e articulado.

– O Governador Romeu Zema (partido Novo- MG) publicou em sua rede social (Twitter) uma nota onde indica que solicitou a suspensão do cumprimento da ordem judicial para reintegração de posse da área. Você confirma a afirmação do Governador?

– O Zema muito lentamente reagiu após inúmeras manifestações da sociedade civil nacionais e internacionais e ele foi conivente por mais de 12 horas de tortura da polícia militar e de resistência das famílias enfrentando o processo de despejo que não deveria nem ter começado. Ele colocou em risco nosso povo Sem Terra e a própria polícia militar num momento que não poderia ter aglomeração sobre o apoio citado por ele, ele não faz mais que a obrigação em prestar apoio, sendo um representante do estado, as famílias necessitam do apoio do estado e o que ele deveria fazer, se fosse um governador decente e não um governador fascista, seria desapropriar a área e acabar com esse conflito que perdura por mais de 22 anos, ao contrário ele colocou todas essas pessoas em risco.

– Temos várias imagens fornecidas pelas famílias no local, onde os itens da escola estavam sendo retirados, existe um local específico onde esse material será armazenado?

– As consequências do início desse despejo não existe técnica que possa resolver, até mesmo porque nossas crianças perderam a escola e não podemos medir o que vai acontecer nossa preocupação agora é com a saúde de todos que estavam lá e vamos cuidar para que o desfecho não tenha piores consequências. Mas vamos precisar de outra sede para a escola.

– Houve uma grande mobilização de órgãos e entidades de direitos humanos anterior a essa data pressionando as entidades governamentais devido ao momento de pandemia, como está a realidade desta comunidade quanto a casos de Covid 19?

– Até o dia de 12 de agosto o acampamento estava livre do Covid 19, não tínhamos nenhum caso de Sem Terra contaminado, a polícia durante o processo de despejo, chegaram ao absurdo de apontar que as famílias deveriam ir para a Vila Vicentina que é um local, um único local de Campo do Meio onde existem casos confirmados, e nós dissemos não, que as pessoas da Vila Vicentina deveriam estar isoladas para não propagar o vírus, então assim…uma ação completamente irresponsável.

– Houve um acordo firmado em mesa de diálogo sobre o conflito, para que as famílias permanecessem no local ao menos enquanto houvesse necessidade de isolamento social?

– Houve uma orientação da mesa de diálogo feita à alguns dias atrás para não acontecer o despejo porém ela foi ignorada pelos órgãos responsáveis.

– De acordo com o relatório da CPT (Comissão Pastoral da Terra) “Conflitos no Campo 2019”, onde o primeiro ano do governo Bolsonaro teve o maior número de hectares em conflito. Você acredita que a tendência está sendo replicada pelo Governo de Minas?

– Os dados sobre os conflitos no campo, tem aumentado exorbitantemente desde o golpe sob a presidenta Dilma (PT) e se aprofundaram ainda mais com o discurso permissivo e incentivador que Bolsonaro (Sem partido) faz sobre os conflitos no campo, no papel de presidente ele autoriza quando diz que vai acabar com os Sem Terra, quando defende as armas, quando age com desfaçatez e com irresponsabilidade em relação aos incêndios da Amazônia e todos os outros conflitos, ou seja, nós temos um presidente que estimula e incentiva os conflitos no campo no Brasil hoje. O governador Zema só foi eleito após declarar apoio ao fascismo de Bolsonaro. Então, nós consideramos ele também um partidário dessa política fascista que está no governo, tem toda relação à violência que sofremos agora com o que é estimulado no país, a posição do governo é clara em defesa dos latifundiários, dos corruptos, dos fazendeiros e nós denunciamos e construímos a nossa resistência para que eles não continuem avançando, de forma pacífica organizada e reivindicando os direitos democráticos de todos os brasileiros porque o projeto que está no governo hoje é um projeto de morte, é um projeto que quer entregar o Brasil e destruir todos os bens naturais que nós temos a troco de migalhas, eles têm interesse apenas nas próprias contas bancárias e nós defendemos a agroecologia, nós defendemos a produção de alimentos saudáveis, nós defendemos que todo povo brasileiro tenha acesso à vida digna que a democracia e os direitos sejam restituídos e respeitados.

Até o final desta reportagem, estava mantida a posição do Comando da ação que seguirá o despejo nesta quinta-feira dia 13 de agosto a partir das 6 hrs. caso não recebessem a ordem de suspensão de forma oficial. Seguindo a articulação do MST para que o Governador Romeu Zema (Novo-MG) suspenda realmente o despejo e retire a polícia do local.

Fotografias MST