CENTRO CULTURAL

 

 

A cultura é a inimiga número um dos grupos de extrema direita e ultra conservadores. Toda vez que um representante desse grupo chega ao poder, a primeira coisa que faz é ceifar o ministério e secar os recursos da pasta. E isso ocorre, porque eles sabem do poder que a cultura tem de mudar a atitude das pessoas e sua visão de mundo e sabem também que a cultura nas suas mais variadas linguagens é a única capaz de gerar novas sensibilidades frente à barbárie cotidiana e isso lhes assusta e lhes preocupa, por isso a perseguem, a renegam e a abandonam. Mas, frente a essa atitude institucional ou dita política governamental, existem pessoas, produtores, empreendedores, criadores e criativos que resistem e seguem firmes e corajosos fomentando ações culturais e artísticas em diversos territórios carentes de incentivo e acesso a estes bens.

Em 2018, amigos me chamaram para conhecer um espaço novo, alternativo e independente que estava abrigando uma série de atividades culturais e que ficava fora do eixo (centro x zona sul) da cidade do Rio de Janeiro. Ao passar pelo portão de entrada do Centro Cultural Phábrika de Arthes parecia que eu tinha sido transportada para outro lugar, nunca havia imaginado que teria um lugar com uma atmosfera tão mágica e bonita, um lugar que exala sonhos e vida.

E hoje lhes conto a trajetória da família Souza ou melhor dizendo da Phamília Phábrika, composta pelo Mauro Barros de Souza que é Jornalista, um inconformado social, articulador cultural e que atualmente ocupa a Cadeira de Territórios da Sociedade Civil no Conselho Municipal de Cultura do RJ, pela Leize de Souza sua esposa, com quem vive desde os 16 anos de idade e seus filhos Siouxsie Anne, Katherine Andreas, Stephanie Andréas, Samantha e Samuel Joshua, que juntos, compreenderam esse poder e alcance que a cultura tem e pode vir a ter dentro de uma comunidade, e decidiram em 2002 empreender, investir e dedicar o seu tempo, sua energia e suas vidas à cultura.

Neste primeiro ano, liderada pelo Mauro e sua esposa Leize, a família iniciou a ocupação do prédio da Ação de Recuperação do CSU – Fazenda Botafogo, localizado em um dos territórios mais complexos e carentes de cultura da zona norte do Rio de Janeiro, oferecendo acesso a oficinas que não existiam na região.

Phamília Phábrika, imagem do Jornal Extra (09/12/2018)

Deram início a revitalização do prédio que estava abandonado pelo governo à décadas, com o objetivo de resgatar a identidade sócio cultural da região. Iniciaram com muita garra e amor pelo que fazem a Associação Phábrika de Arthes, e a transformaram em um empreendimento familiar que visa a promoção e o fomento das artes visuais, espetáculos cênicos, apresentações musicais, exibição de filmes e festivais internacionais de cinema, além da realização de eventos literários e esportivos, tendo como público alvo os moradores e principalmente às crianças e jovens do próprio entorno e bairros vizinhos.

Foto cortesia do centro cultural

Ao conhecer a história do Mauro e do trabalho de sua família, me dei conta de que a atuação da Phábrika das Artes desde sua fundação tem sido crucial e de extrema importância para o desenvolvimento de ações culturais, sócio-educativas e esportivas da região e que são oferecidas todas de forma gratuita, sem apoio do governo, fabricando possibilidades e circulando afetos para todos os cantos da zona norte.

O Centro Cultural Phábrika atende a população do bairro de Coelho Neto, Fazenda Botafogo, Acari e outros territórios adjacentes com oficinas artísticas e esportivas que culminam em torneios, mostras, desfiles e montagens de espetáculos de teatro e dança, além de eventos e ações pontuais como: Shows musicais, peças teatrais, feiras de empreendedorismo, saraus e exposições, mostrando que é possível oferecer com qualidade, cultura e arte à população da região, contribuindo para a formação cidadã.

Atualmente com o fechamento dos espaços de arte e cultura por conta da epidemia do coronavírus, a Phábrika à convite do Instituto Ekloos, que junto ao Instituto Phi Eno Banco da Providência, criaram o União Rio, que vem tocando o movimento Rio Contra O Corona e dessa forma a Phábrika foi convidada a participar do Movimento União Rio para receber e distribuir produtos de higiene pessoal, máscaras, álcool em gel e cestas básicas para pessoas que precisam durante a pandemia, e dessa maneira a Phábrika passou a atuar socialmente na linha de frente para ajudar essas famílias.

E conversando com o Mauro que é jornalista e articulador cultural, para a produção desta matéria, lhe perguntei como estava sendo para eles atuarem na linha de frente durante esse período e como estava acontecendo e ele me disse que no início da pandemia foi difícil a organização por conta das informações desencontradas, mas que desde abril, com o passar dos dias, foram conectando os parceiros e criaram uma grupo dentro da rede de distribuição da União Rio e começaram a receber e a fazer a distribuição de kits de material de limpeza, higiene pessoal, máscaras e álcool em gel, bem como alguns alimentos e cestas básicas para as pessoas do território, como ele mesmo nos conta.

“Nas duas ou três primeiras semanas, a gente estava chegando a marca de mil cestas distribuídas e nós começamos a perceber que a ação não estava atingindo de fato as pessoas em situação mais vulnerável e sim atingindo pessoas que via a nossa ação como uma oportunidade de economizar ou como complemento, talvez pelo fato atuarmos no campo da cultura e ocupar um espaço público e o governo não estar presente nesses locais, mesmo assim, algumas pessoas ainda confundiram com alguma ação do governo, mas depois isso mudou, criamos um cadastro e começamos a organizar as entregas e a ampliar a ação a partir da identificação de ativistas locais, criando dessa maneira uma rede de lideranças para efetivar todo o processo e a atender as famílias que estavam em situação de maior vulnerabilidade nas comunidades aqui próxima como: Gogó da Ema, Chapadão, Bairro 13 em Guadalupe e outras comunidades que ficam a 200 metros o Centro Cultural Phábrika como a Pedreira, Bagdá, Fim do Mundo, Final Feliz entre outras .” 

Foto cortesia do centro cultural

Mauro e sua família passaram a agir diante desse problema mundial para amenizar o sofrimento das famílias que estavam respeitando o isolamento social. Os jovens que se somaram a ação começaram a despertar não apenas o interesse das pessoas do bairro, mas também ganharam o respeito delas. E agora que o governo afrouxou o isolamento, as pessoas tem que seguir com esse novo normal, mas que no fundo a vida para essas pessoas moradoras de comunidade em nada mudou e elas continuam expostas a doença que vai estar por aí. Além de toda essa atuação os membros da Phábrika atuaram na produção de faixas, lambes e pinturas para conscientizar as pessoas sobre a importância de se proteger e proteger os outros.

Fica o convite a todos e todas para que conheçam o espaço físico ou virtual e participem das atividades que são realizadas pelo Centro Cultural Phábrika de Artes que age impactando e fomentando o desenvolvimento cultural da região.

Foto cortesia do centro cultural


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