Para entender o que está por trás do recrudescimento da relação entre o  presidente do Brasil, Jair Bolsonaro e o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel é preciso voltar o relógio  e descobrir quem era Witzel na fila do pão antes das eleições de 2018.

O atual governador estava na rabeira nas pesquisas de intenção de voto, mas numa jogada astuta associou seu nome às mesmas bandeiras defendidas por Bolsonaro e, como por encanto, foi abraçado pela onda bolsonarista e passou a desfilar com Flávio, candidato ao Senado Federal e um dos filhos do capitão em carros abertos pelas cidades fluminenses.  O efeito dessa estratégia levou Witzel para o segundo turno das eleições, deixando para trás, nomes conhecidos da politica do Rio de Janeiro, como o jogador e senador, Romário e o ex-governador, Antony Garotinho. Na disputa do segundo turno com Eduardo Paes, que tinha o nome ligado às investigações da Lava Jato, Wilson Witzel, conseguiu reunir em torno da sua campanha as forças conservadoras e um rebanho de evangélicos frenéticos com a onda moralista que tomou conta do Brasil em 2018.

Desconhecido e eleito governador do segundo estado da federação, Wilson não poupou bravatas, vestindo a capa de super herói que tiraria o Rio de Janeiro do limbo da violência e de uma crise econômica sem precedentes. As ações e o próprio discurso do governador o colocavam já em campanha para 2022 – e, seu objetivo, estava claro, não era a reeleição, mas a cadeira de presidente da República.  E Wilson foi para o ataque tentando arrebanhar o apoio necessário para seu intento, partindo para cima dos apoiadores de Bolsonaro, como o Bispo Macedo, chefe da seita conhecida como Igreja Universal e dono de um dos maiores conglomerados de comunicação do país, a Rede Record, que  engloba tevês, rádios e jornais. A estratégia era trazer todas as lideranças evangélicas, incluindo,  Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e outros, ligados ao Partido Socialista Cristão.

Em outra frente estavam as investigações sobre a execução da vereadora Mariele Franco, do Psol, que apontavam para o condomínio onde mora a família Bolsonaro.

O Fogo amigo e a implosão da trincheira

As novas informações sobre o assassinato de Mariele e do motorista Anderson foram o estopim para a declaração de guerra entre o presidente e o governador. Dois políticos de direita, alinhados com o desejo de poder dos conservadores tinham agora uma pedra intransponível no caminho.

Bolsonaro concluiu que Witzel era o responsável pelo vazamento das informações à imprensa, que mostravam uma conexão entre a família Bolsonaro com o crime. E essa tentativa de associar o nome dele e da família à execução de Mariele despertou a ira do presidente e de seus seguidores.

Com a pandemia e as medidas sanitárias tomadas pelos governos estaduais em contraponto ao que defendia Bolsonaro, a crise entre os dois ficou ainda mais amarga. E o batalhão do chamado, gabinete do ódio, entrou em ação para desconstruir a imagem de Witzel.

Sem nenhum traquejo político e inábil nas relações com a Assembleia Legislativa do estado, Wilson Witzel se tornou presa fácil. E, somados aos escândalos de corrupção na construção de Hospitais de campanha e na compra de respiradores e insumos para o combate ao Covid-19, Wilson Witzel, passou de super herói, que defendia o abate de criminosos com tiros na cabeça, a um investigado pela Polícia Federal sob o batuta de Bolsonaro.

Na política brasileira, costumamos dizer que nada é irreversível. Já assistimos milhares de vezes, inimigos se estapeando em público, mas se acasalando no escurinho dos palácios e em acordos nada republicanos.

Na guerra entre Bolsonaro e Witzel só dá para estabelecer uma verdade – não existem heróis.

Os dois comungam da mesma sanha pelo poder e defendem bandeiras, de acordo com suas conveniências.  Resta ao povo  do estado do Rio de Janeiro resistir e se proteger das balas e bombas que podem sair desse conflito.

Com a aprovação do processo de impeachment na Alerj – por unanimidade (69 votos e uma ausência)-, Witzel, agora,  de acordo com seus críticos, perdeu o apoio das bancadas da bíblia e da bala, consideradas o Centrão da política fluminense, e faz o caminho contrário ao  de Bolsonaro que se aliou ao bloco de parlamentares do Congresso Nacional, chamado Centrão, justamente para protegê-lo das dezenas de pedidos de impeachment que se encontram na gaveta do presidente da casa, Rodrigo Maia.

Tanto os políticos de esquerda, quanto os de direita apostam que o destino do governador do Rio de Janeiro já está traçado – ele voltará para o anonimato de onde veio. Já Bolsonaro seguirá sua agenda incendiária, enquanto durar o silêncio das instituições e um suposto apoio das Forças Armadas.

O Supremo Tribunal Federal já deu sinais de que não vai admitir retrocessos constitucionais, agora só faltam o Senado e a Câmara Federal indicarem que não estão a serviço da necropolítica defendida por Bolsonaro e seus seguidores,  mas comprometidos com a Democracia. É tudo, uma questão de tempo para a história mostrar aos brasileiros e ao mundo que Witzel e Bolsonaro, como diria Leonel Brizola, são ovos postos pela mesma cobra – a ditadura militar.