Carta Magna do país foi aprovada em 1980, ainda durante a ditadura de Augusto Pinochet; presidente descartou a possibilidade de renunciar ao cargo e garantiu que chegará até o final de seu mandato

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou nesta terça-feira (05/11) que o governo está disposto a discutir reformas na Constituição do país diante da crescente insatisfação popular evidenciada nos protestos que tomam as ruas do Chile há mais de duas semanas.

Em entrevista à BBC, foi a primeira vez desde o início desta jornada de manifestações que o presidente cogitou mudanças na Constituição, pedido recorrente dos manifestantes que argumentam a presença de diversos artigos autoritárias nesta Carta Magna que foi aprovada em 1980, ainda durante a ditadura de Augusto Pinochet.

“O que que quero é chegar a um acordo, ouvir os cidadãos com atenção e humildade. […] É claro que, após restaurar a ordem pública e lançar a agenda social o debate não termina e uma segunda etapa ocorrerá quando estivermos dispostos a discutir tudo, inclusive uma reforma da Constituição”, afirmou.

Piñera ainda descartou a possibilidade de renunciar ao cargo e garantiu que chegará até o final de seu mandato. “É claro que chegarei ao fim de meu governo. Fui eleito democraticamente por uma enorme maioria de chilenos e tenho um dever e compromisso com esses que me elegeram e com todos os chilenos”, disse.

O presidente conservador ainda afirmou que não teme as ameaças feitas pelo oposição de realizar uma acusação constitucional contra ele para afastá-lo do cargo.

Fotos TVN/Flickr
Sebastián Piñera descartou a possibilidade de renunciar ao cargo por conta dos protestos no Chile
“Se alguém quer fazer uma acusação constitucional, é seu direito, mas estou absolutamente certo de que nenhuma dessas acusações prosperará porque a solução na democracia é respeitar as regras da democracia e não atentar contra a democracia, tentando desestabilizar um governo que venceu as eleições legitimamente e por uma grande maioria”, disse.

Repressão

As manifestações que tomam as ruas de diversas cidades chilenas há duas semanas começaram após o anúncio do aumento das passagens do metrô na capital. E mesmo depois de o presidente Sebastián Piñera ter voltado atrás e cancelado o aumento, os protestos continuaram. Além disso, os manifestantes reclamam do alto custo de vida, dos baixos salários e aposentadorias, do sistema de saúde e educação.

Desde o início das marchas chilenas foram registrados diversos casos de repressão e violência por parte das forças de segurança. Os números oficiais dão conta de 1.132 feridos por balas, balas de borracha, armas de fogo e perda de visão, 3.535 pessoas presas, 76 acusações de tortura e 18 de violência sexual pela ação das forças de segurança nos protestos.

Entretanto, denúncias divulgadas nas redes sociais, em vídeos, jornais e rádios comunitários revelam que os números são ainda maiores.

Nesta segunda-feira (04/11), três coletivos de juristas chilenos apresentaram uma denúncia ao 7º Tribunal de Garantias de Santiago contra o presidente Sebastián Piñera por “crimes contra a humanidade” devido aos episódios de repressão durante os protestos que tomam as ruas do país há mais de duas semanas.

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