Partido de Morales também conseguiu maioria na Câmara e no Senado; oposição agora diz que “não tem sentido” pedir auditoria com 100% das urnas apuradas

Morales criticou o movimento dos oposicionistas. “Não querem voltar somente com democracia, mas também com golpe de Estado. Quem verdadeiramente busca fraude? São os que queimam as atas das eleições, as instituições colegiadas. (….) Eles são os que buscam fraude eleitoral”, disse, chamando a Coordenadoria da oposição de “Coordenadoria de Defesa da Fraude”.

Apuração

Na Bolívia, existem dois caminhos para divulgação dos votos. Além do TREP (sistema de apuração rápida), baseado nas informações que vêm dos colégios eleitorais, existe a recontagem manual dos votos de cada região. Este segundo caminho, que leva ao resultado oficial, costuma ser mais preciso e mais lento – e é o que confirma, agora, a vitória de Morales.

A divulgação do TREP foi suspensa no domingo (20/10) à noite, mesmo da dia da eleição, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral, para evitar confusão entre as duas apurações paralelas. “Queríamos evitar confusão. Um mesmo órgão não pode divulgar dois resultados diferentes”, disse, então, a presidente do TSE, María Eugenia Choque.

Quando houve a interrupção da divulgação do TREP, ainda se apontava a realização de um segundo turno entre Morales e Mesa. Até então, haviam sido apuradas de maneira rápida 83,7% das urnas, e a diferença entre os dois candidatos era de 7,12 pontos percentuais. Faltavam, então, muitos votos das regiões rurais – onde o presidente tem boa parte de sua força eleitoral.

Na segunda (21/10) à noite, os números voltaram a ser divulgados, mas já com 95,23% apurados. Nesta altura, Morales já havia obtido mais de 10 pontos percentuais de diferença em relação a Mesa – 46,86% contra 36,72% – e garantia uma vitória no primeiro turno.

Violência nas ruas

A partir deste momento, a oposição começou a acusar o órgão eleitoral e o governo de fraude. A recusa de Mesa em aceitar os números resultou em violência em pelos menos nove cidades bolivianas ainda na segunda.

Em Potosí, fogo foi ateado ao edifício do Tribunal Eleitoral Departamental. Também foram incendiados escritórios da apuração eleitoral em Sucre e Tarija.

Segundo relatos do jornal La Razón, duas pessoas pularam do segundo andar do edifício do TED, para fugir das chamas. Elas não teriam sido atendidas pelos apoiadores de Mesa que incendiaram o local.

Na terça (22/10), a presidente do Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia, María Eugenia Choque, rebateu as acusações de fraude feitas pela oposição e afirmou que “não há nada para esconder”. “Este processo está supervisionado e administrado por uma auditoria, não por nós, mas sim por uma empresa e a empresa também nos dirá se esses resultados são fraudulentos. Senhoras e senhores, [os resultados] não são fraudulentos porque eles estão apresentados e cada um dos cidadãos e organizações políticas nos acompanharam”, disse.

No dia seguinte (23/10), Morales denunciou que a oposição estava tentando um golpe de Estado e declarou estado de emergência no país. “Eu denuncio perante o povo boliviano e o mundo que está em processo um golpe de Estado que foi preparado pela direita com apoio internacional. Faço um apelo aos organismos internacionais para defender a democracia”, afirmou. “Não vamos buscar o confronto, porém vamos defender a democracia.

 

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