São Paulo – 2016. O suor das mãos, acompanhado pelo ritmo crescente do coração, eram sinais de que conheceria algo novo naquela tarde. Pela primeira vez em toda a minha vida iria conhecer um estádio de futebol. O “Itaquerão”, localizado na Zona Leste da capital gera espanto por sua grandiosidade e pelo contraste: a obra faraônica está em uma região carente, com agudos problemas de infra-estrutura, e que abriga um grande contingente de pessoas. Uma “região-dormitório”, em que milhões de pessoas se deslocam para o centro-sul da cidade em busca do seu pão de cada dia.

Era dia de jogo. Não do time da casa, Corinthians, e sim da Austrália versus Canadá.  Futebol feminino, um dos esportes presentes na competição esportiva de nível internacional, as Olimpíadas. Foi incrível, cada lance, cada tentativa de gol, e a vibração da torcida em uma sinergia alucinante.

Hoje, dia 7 de junho inicia-se na França a Copa do Mundo de Futebol Feminino, organizada pela FIFA. A primeira edição ocorreu apenas em 1991, na China – enquanto a masculina teve sua primeira edição em 1930! –  na antiga conjuntura, a China vivia um contexto de abertura para o capital estrangeiro. Olimpíadas e Copas do mundo servem como vitrine de um país para o restante do globo, aquela edição não era diferente.

O contraste entre os salários dos jogadores e das jogadoras é gritante. A premiação da FIFA para a Copa feminina – 30 milhões de dólares – não chega nem a 10% do valor destinado à Copa da Rússia, impressionantes 400 milhões.

A briga por melhores salários no futebol feminino, faz parte de um movimento global por igualdade. A versão francesa da Copa do mundo de futebol feminino irá possibilitar uma reflexão sobre papéis de gênero, coisas que são tidas como exclusivamente de “meninos” ou de “meninas”. É pensar em um mundo em que elas, eles ou elxs possam ser quem quiserem. Engenheiras e donos de casa. Cabeleireiros ou mecânicas. Qual é o problema?

Na era da inteligência artificial, Big Data, criptomoedas, e tantas coisas inimagináveis a uns séculos atrás, fica difícil acreditar que exista pessoas que veem problemas em uma mulher jogar futebol, ou um menino vestir rosa. Quantas engenheiras, programadoras, jogadoras e tantas profissionais mais estamos perdendo por conta de uma visão equivocada?

A vitória de 2 a 0 do Canadá fez o estádio transbordar de alegria. Os gols de Janine Beckie e Christine Sinclair deixou todos os presentes – de diversas nacionalidades, idades, gêneros, profissões e etc, em um estado de júbilo. Em breve poderemos ver novamente a Marta jogar, com sua incrível habilidade, sem precisar cair tanto, como um certo camisa 10 da seleção masculina. Um momento para torcer e rever ideias. Espero que uma certa ministra dos direitos humanos acompanhe o evento.

por Zigfrid