Decreto 9.759 de Bolsonaro ameaça grupo de trabalho que analisava as ossadas de Perus, e que estava ligado a Comissão da Verdade, que tem como objetivo trazer a tona a fatos sobre os abusos ocorridos na ditadura do Brasil.

Descoberta em 1990 a ossada de Perus (região entre o Norte e Oeste da cidade de São Paulo), foi uma das inúmeras provas contundentes dos graves abusos aos direitos humanos ocorridos durante o período da ditadura militar (1964-1988). O difícil trabalho de identificação passou por importantes instituições públicas como USP  e UNICAMP, porém não obteve êxito. Após pressão do ministério público, os trabalhos foram retomados com uma parceria entre o Governo Federal, Prefeitura e a Universidade Federal de São Paulo – Unifesp.

Os ataques do presidente a memória e a História do Brasil ocorrem desde seus tempos de deputado. Inclusive, a Comissão da Verdade emitiu uma moção de repúdio à fala do político. Que é notoriamente conhecido por negar o golpe de 64 e ter dentre seus heróis um torturador condenado.

“Ustra chefiou o DOI-Codi do IIº Exército, em São Paulo, entre 1970 e 1974, sendo responsável por dezenas de mortes e pela tortura de incontáveis vítimas, algumas das quais deram emocionados depoimentos para esta comissão. Em decisão histórica, pronunciada pelo juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo no dia 9 de outubro de 2008, Ustra se tornou o primeiro oficial condenado na Justiça brasileira em uma ação declaratória por sequestro e tortura durante o regime militar (1964-1985).

Conclamamos o senso de dignidade e decência dos deputados federais a se posicionarem sobre esta questão. Das duas uma, ou os deputados confirmam a vocação democrática da casa à que pertencem e revogam o mandato de Bolsonaro, ou os deputados apoiam a atitude do deputado, abraçam a barbárie e dão as costas à democracia.” – Moção emitida pela Comissão da Verdade, na época do impeachment de Dilma Rousseff.

Porém o ditado popular: “contra fatos não há argumentos” cabe como uma luva neste cenário. Como negar as brutalidades da ditadura diante de um número de 1047 ossadas!, muitas das quais já identificadas como sendo de perseguidos políticos.

O Grupo de Trabalho de Perus, responsável pela análise das ossadas, é composto por uma equipe interdisciplinar e tem sido responsável por trazer a tona a verdade para famílias que perderam seus entes queridos. A medida do governo federal não extingue de imediato o trabalho, mas o compromete seriamente, pois afeta a contratação de peritos.

É importante lembrar do golpe e do que foi a ditadura militar para impedir que cenários catastróficos do ponto de vista dos direitos humanos não se repitam.