por Patrícia Pagu.

A Criação

Em meio ao processo de industrialização do Estado brasileiro, nasce no município de Volta
Redonda – RJ a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), organizada e planejada com ajuda de
recursos norte americanos pelo então presidente da república Getúlio Vargas na década de 40,
pós revolução de 30. Com o enorme potencial de mineração em solo brasileiro, dando ênfase
na extração do minério de ferro, bauxita, cobre, manganês, dentre outros e com a colaboração
do capital da Inglaterra e EUA em 42 esse mesmo presidente cria a Companhia Vale do Rio
Doce na cidade de Itabira, Estado de Minas Gerais, sobre às margens do Rio Doce que banha
não só essa cidade, mas diversas outras do mesmo Estado.

A Expansão

A princípio, a companhia abastecia quase que exclusivamente a CSN. Na década de 50 Getúlio
Vargas nomeou como presidente da empresa o engenheiro civil Francisco de Sá Lessa,
inaugurando os primeiros escritórios da usina no exterior.
Já na década de 60, no governo Jânio Quadros, antes de sua renúncia em 62, foi nomeado a
presidência da companhia o engenheiro rodoviário Eliezer Batista, que expandiu sua logística
levando a Companhia Vale do Rio Doce para diversos países e tendo como seus principais
parceiros o Japão e a Austrália.

Após a renúncia de Jânio e a administração de João Goulart, foram assinados quinze anos de
contrato com onze siderúrgicas japonesas, chegando a um total de cinco mil toneladas por
ano. Ainda na década de 60, ela chegou à oito milhões de toneladas de produção anual.
Nesse ritmo foram inaugurados a Docenave (empresa de navegação) em 1961 e o Porto de
Tubarão em 1966. Após a retomada do governo por um golpe militar, Eliezer permaneceu no
cargo continuando a expansão da empresa.

Outros Estados brasileiros entraram nesse processo de expansão e exploração da do solo
através da mineração, dentre eles estão: Bahia, Pará, Alagoas, Amazonas que possibilitaram
que outras atividades fossem executadas, dentre elas a mineração do ouro. Também foram
expandidas estradas e portos pelo país.

As décadas entre 60, 70 e 80 estimularam a produção da receita brasileira com a mineração,
tendo como um novo potencial na extração de minério de ferro a mina de Carajás no PA em
89.

A Privatização

Com a redemocratização da política nacional no Brasil e com sucessivos governos com uma
filosofia neoliberal, em 90 o então presidente da república Fernando Collor de Mello sanciona
a lei n°8.031 de desestatização do Estado brasileiro, autorizando empresas privadas a comprar
empresas públicas e a explorar riquezas naturais no país. Em 1991 ocorre por esse mesmo
governo a venda da Usiminas Mecânica.

Em 1997, o então presidente da república Fernando Henrique Cardoso cria uma lei de n°
9.491, para modernizar a lei criada em 90 e vender pelo valor de três bilhões e trezentos
milhões a Companhia Vale do Rio Doce, sendo que a mesma possuía um valor de mercado
aproximado de noventa bilhões de reais. A empresa foi arrematada pelo presidente da CSN,

Benjamin Steinbruch, privatizada em 92 pelo então presidente da república, cujo Fernando
Henrique Cardoso era ministro da fazenda, Itamar Franco. A transição foi financiada pelo
Banco do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A alegação desse governo para a
venda da companhia é que o dinheiro da transação seria usado para diminuir o passivo
brasileira junto a dívida externa com o FMI, promessa não cumprida.

Após o trâmite da venda a empresa deixa de se chamar Companhia Vale do Rio Doce; para
passar a se chamar Vale; dando a ela um marketing mais competitivo no mercado. Sua marca
também passa por transformação em seu design. Assim fica evidente que a Vale não é mais a
mesma.

Controvérsias da Privatização

* Em 2001 o ministro Edson Lobão, no governo Fernando Henrique, pressionava a empresa a
pagar 5 bilhões de reais de royalties pela exploração do solo no país;
*O valor das ações da Petrobras (não privatizada) subiu 1.200% entre os anos de 97 à 2007,
50% a mais que a vale já privatizada no mesmo período.
* Em janeiro de 2012 a Vale foi eleita como a pior empresa do mundo no que se refere Direitos
Humanos e Meio Ambiente pelo Public Eye People, premiação dada pelas ONGs Green Peace
e Declaração de Berna.
* A empresa ficou marcada de forma negativa pelos desastres do rompimento de barragens
nas cidades de Mariana no ano de 2015 e Brumadinho no ano de 2019.

Mariana: um marco negativo na empresa

Mariana e cidades próximas no Estado de Minas Gerais, foram atingidas por um dos maiores
desastres ambientais do planeta em 2015 com o rompimento da barragem com os rejeitos da
mineração da Vale. A empresa responsável por esta barragem é a Samarco Mineradora SA.
Esse episódio trouxe destruição de comunidades inteiras, muitas mortes e a super – poluição
do Rio Doce com metais pesados, como o mercúrio. A maior parte da população espera
providências por parte da empresa. Esse fato trouxe de volta às discussões sobre as condições
das privatizações as quais a empresa fora submetida.

A Samarco assinou um Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) junto a Vale,
governo federal, Estados de Minas Gerais e Espírito Santo (que teve parte de suas praias
contaminadas).

Brumadinho: Repetindo os Erros do Passado

Há 65km de Belo Horizonte capital de Minas Gerais, a cidade de Brumadinho também foi
atingida com um desastre ambiental semelhante ao ocorrido em Mariana. No dia 25 de janeiro
de 2019 rompeu a barragem de rejeitos da mineração da Vale na localidade de Córrego do
Feijão. Nesse segundo caso o presidente da Vale afirmou que o dano humano será maior.

Nessas condições reabre-se o debate sobre as condições da empresa e suas condições
inclusive no que diz respeito a fiscalização pelo governo federal. É relembrado, também, o
discurso do atual presidente da república Jair Bolsonaro em discurso feito em 6 minutos em Davos,
no Fórum Econômico Mundial, sobre as condições do Meio Ambiente no Brasil e a
sua intenção de acabar com este ministério.

Lembrando que o Instituto Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo se encontra em
Brumadinho e também corre risco, segundo a mídia nacional. O rompimento deixou mais de
110 pessoas mortas e mais de 230 desaparecidas.

por Patrícia Pagu
Pedagoga e Ativista