A oposição tentou de tudo para interromper o processo. Queimar pessoas, fechar as ruas, amedrontar os vizinhos, fechar a saída dos bairros, incendiar os comércios, assassinar candidatos, interromper o transporte, dificultar a atividade produtiva em várias cidades, impedir a circulação de alimentos, explodir caminhões ou ameaçar quem queria votar. Difamar, agredir, assustar. Qualquer método se considerou válido para impedir a realização das eleições para a Assembléia Nacional Constituinte convocada pelo governo. Os partidos de direita encorajados na esfera internacional por uma agitação midiática permanente e com a duvidosa legitimação fornecida pela conspiração diplomática de governos de direita e sanções unilaterais dos EUA (Além do apoio financeiro e da direção geral de seus aparatos de inteligência), acreditaram que podiam derrotar o governo e evitar a ampliação dos poderes populares mediante uma Assembléia Constituinte.

Os únicos a não tentar foram os grupos da Mesa de Unidade Democrática unida(Mesa de Unidad Democrática) e de vocação democrática pouco visível a estas alturas, foi o que a maioria do mundo sensato pedia e o governo ofereceu repetidas vezes sentar em uma mesa e concertar a convivência a partir das visões políticas radicalmente diferentes.

As escalas tinham seus motivos – a pressão instalada devia corroer a paciência do povo, provocando um levantamento contra o governo e conseguir além disso atrair alguma facção rebelde das Forças Armas o que permitira um golpe militar ou o começo de uma guerra civil fratricida para abrir as portas para uma intervenção multinacional estrangeira.

Sem dúvidas, a estratégia falhou. Nada disso se realizou e a eleição para uma nova constituinte se ocorrera, tal como estava previsto para o dia 30 de Julho de 2017.

Um testemunho

“Mérida amanheceu sitiada de ponto a ponto, seguido de mais de 5 dias de duras barricadas, de vândalos destemidos e ditadura do medo. As ruas estavam desertas. Saí de casa quase que me escondendo. Se supõe que ninguém deveria sair de casa e todo aquele o fazia estava sob suspeita.Parecia que estávamos em ruas no Afeganistão. Durante a noite as forças de segurança pública tiveram que entrar em confronto com os mais violentos para poder garantir o acesso para algumas vias e a mobilidade urbana. Elas tinham que funcionar. Minha zona eleitoral era um lugar impossível de ser acessado hoje. Assim que fui para outro de contingência. Fui votar em Godoy. Ao chegar, a surpresa foi ver o lugar abarrotado de pessoas. As histórias de caronas eram muitas. Uma senhora de aproximadamente 60 anos me contou que caminhou de El Carrizal até Godoy [93,2KM, 19 horas de caminhada aproximadamente]. Tem de se viver em Mérida para ter a ideia desta distância caminhando em subida. Isto me impressionou.

 Havia muito entusiasmo na zona eleitoral. Muita alegria contra o medo e o terror. As solitárias horas da manhã chuvosa se dispersaram. Saiu o Sol. Os arredores de Godoy se converteu em um amontoado de pessoas a pé, como formigas. Apareceram primeiro as motos, depois os carros. Levando e trazendo gente. Também começaram a aparecer os caminhões, cheio de pessoas como um caminhão de evangélicos em um domingo. A atmosfera se transformou radicalmente.

Idosos, deficiente físicos, jovens, chegaram. Vieram de zonas sitiadas, felizes por ir votar. Levavam a doçura em seus sorrisos. Poucas vezes se encontra tanta ternura, firmeza e coragema. Me sinto afortunado.”

Os desdobramentos da eleição para a Assembléia Constituinte na Venezuela

Em termos regionais, logo o triunfo de Ortega na Nicaragua e da Revolução cidadã com Lenin Moreno no Equador, o forte apoio popular a esta eleição constituinte em tão árdua circunstâncias  demonstra que as forças progressistas e revolucionárias continuam vivas e são uma manifestação da organização do povo e de uma consciência política ampliada em vastos setores.

Pelo contrário, nos últimos meses, os governos neoconservadores estão debilitados. A popularidade de Lula frente ao imenso desprestígio do governo ilegítimo brasileiro. A quase segura vitória eleitoral de Cristna Fernández de Kirchner nas próximas eleições em frente a decadência social e a perda da rápida da gestão de Macri na Argentina, os avanços e no posicionamento da oposição no Paraguai e Honduras, a corrupção que atinge diversos governos peruanos e ameaça o atual, os financiamentos ilegais na Colombia e a violência endêmica e generalizada no México de Pena Nieto, tudo isso joga por terra o slogan propagado de um suposto fim do ciclo progressita, que era propagado para os povos latinocaribenhos para que os mesmos se conformassem sem resistência a um novo período de exploração neoliberal.

A Venezuela emerge soberana e vitoriosa, embora com uma divisão política em seu seio, o que não assegura a tranquilidade de imediato. O governo sai desta briga fortalecido, com a obrigação de conseguir rapidamente conter os setores violentos e realizar uma reviravolta imediata no controle da especulação monetária e nas dificuldades de abastecimento, não importa se estas são produzidas pela guerra econômica ou a causa de matrizes econômicas rentistas de larga escala.

Claro que nem os EUA, nem os outros governos aliados-vassalos, nem as corporações midiáticas aceitaram perder. Embora no melhor dos casos aceitam uma pausa tática ou simulem negociações para diminuir a tensão, insistirão estrategicamente uma e outra vez em sua tentativa de isolar, de condenar, de demonizar de minar o enorme peso que tem a Revolução Bolivariana para a independência e integração soberana da América dos povos.

Enquanto a oposição, haja vontade de ver alguns líderes compreenderem a situação, mudariam o curso e aceitariam de uma boa vez tomar a frente de seu setor e iniciar o diálogo. Pelo contrário, insistem na ideia de agredir a população, terminam concentrando o repúdio de muita gente, optando seguramente por tomar o caminho do êxodo na – pequena Venezuela – em Miami.

O povo llano [pertencente a uma região que fica entre a Colômbia e a Venezuela], por sua parte soma com a Assembléia Constituinte efetivamente a possibilidade de defender suas conquistas sociais e avançar em prol de um maior emponderamento de sua comunidade, um modelo político e econômico participativo e de co-responsabilidade de alto teor democrátivo. As demais questões a serem tratadas na Assemblía Constituinte não são menos promissórias. Mas isto terá que ser comentado mais adiante. Neste momento, a conclusão evidente da eleição ocorrida na Venezuela é que a violência não dá resultado. A paz sim.

por – Javier Tolcachier traduzido do original

Elecciones Asamblea Constituyente en Venezuela: Voto masivo por la paz

Pressenza Brasil

O QuatroV produziu um vídeo extremamente didático que ajuda a compreender a crise venezuelana