por Giulia Villa

Na última quarta-feira (17) a política brasileira sofreu mais um baque que aprofundou a crise que a segue há algum tempo, desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). O jornalista Lauro Jardim publicou notícia no veículo “O Globo” vazando conteúdo de áudio gravado em delação premiada de Joesley Batista, dono da empresa JBS, no âmbito da Operação Greenfield.

O que poderia ter sido apenas mais uma delação dentre as muitas que vêm acontecendo desde o início da operação Lava-Jato em 2014 e outras operações que surgiram de seus desdobramentos, acabou por mobilizar todo o país. Isso porque os áudios envolviam, além de outras figuras políticas, nada mais, nada menos do que o presidente golpista Michel Temer (PMDB) e o presidente do PSDB e ex-candidato à presidência, Aécio Neves (PSDB).

 

O áudio

Joesley afirmou ter visitado Temer no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, no dia 7 de março desse ano. O áudio com pouco menos de 40 minutos, gravado pelo empresário e já divulgado pelo STF (Superior Tribunal Federal), mostra conversa que deixa claro que o presidente interino estava ciente de ações corruptas de Batista.

Estas envolviam desde a infiltração de um procurador geral escolhido por ele, dentro da operação Greenfield até “segurar” juízes envolvidos em investigações. A essa segunda afirmação pode-se ouvir Temer se certificando de que ele tinha realmente “segurado” os juízes: “Está segurando os dois?” Ao que Joesley responde positivamente “Estou segurando os dois.”.

A principal acusação contra Temer feita pelo presidente da JBS é a de seu aval para comprar silêncio do deputado cassado que presidiu a Câmara,  Eduardo Cunha (PMDB). Durante conversa Batista diz “Eu estou de bem com o Eduardo [Cunha]” e Temer alerta “Tem que manter isso, viu?”.

Além disso o conteúdo total liberado mostra que Temer indicou o deputado e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, que já está afastado pela Justiça, como seu interlocutor direto e homem de confiança.

O presidente golpista ainda afirma que as portas do Palácio do Jaburu estariam sempre abertas para o empresário para encontros como este que aconteceu, ou seja, secretos e não relatados na agenda oficial de Temer.

Os encontros, também gravados, entre Joesley e Loures passaram a acontecer na própria residência do empresário. Em uma das gravações eles inclusive debatem sobre a indicação de Joesley para cargos administrativos: no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na Receita Federal, no Banco Central e na Procuradoria da Fazenda Nacional.

No que diz respeito ao senador Aécio Neves, gravações comprovam que o tucano pediu cerca de R$ 2 milhões à Batista para que pagasse sua defesa contra acusações contra Neves no âmbito da Lava-Jato. O que levou a sua cassação e fez com que deixasse a presidência de seu partido.

Desdobramentos para Temer

Em breve pronunciamento na última quinta-feira (18), Temer afirmou “Não renunciarei, repito, não renunciarei”, não correspondendo às expectativas de boa parte da sociedade brasileira. Ainda disse que seus esforços em relação a melhora da economia foram “jogados no lixo” e que provaria a sua inocência.

Fato é que a governabilidade do peemedebista está permanentemente comprometida e na corda bamba. Até o momento já foram protocolados três pedidos de impeachment: do deputado Molon (Rede-RJ), do deputado João Henrique Caldas (PSB-AL) e do partido Rede Sustentabilidade, todos acusam Temer de cometer crime de responsabilidade.

O inquérito para investigação do presidente interino já foi aberto e aprovado por Edson Fachin, ministro do STF e relator da operação Lava-Jato, o que torna Temer oficialmente um de seus investigados.

As reformas previstas e que estavam em tramite no Congresso foram pausadas devido as complicações no governo. De qualquer forma as mudanças terão dificuldades de seguir em frente, segundo especialistas, visto que Temer perdeu boa parte do apoio que tinha não só dos partidos políticos como também do Congresso. Ainda, dois ministros, Roberto Freire (PPS-SP) da Cultura e Raul Jungman (PPS-SP) da Defesa, anunciaram sua saída do governo.

Em vídeo publicado em sua página pessoal a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) se pronunciou “Nós temos que parar de votar matérias no Congresso Nacional, temos que parar a agenda absurda deste governo, e o país tem que fazer eleições diretas imediatamente. É muito grave o que ocorreu, o nível de crise vai se aprofundar muito, não se pode votar mais nada no Congresso Nacional. Tudo agora está sob suspeição”

Já o também deputado federal Jean Willys (PSOL) afirmou “A tentativa de criminalizar a esquerda não deu certo, e agora a base do governo está sendo exposta nos seus desvios éticos e morais”.

Já o atual prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB) se manifestou, sem surpresas, dizendo que “os fatos são muito graves” mas que as reformas de Temer não essenciais “para gerar crescimento e emprego”.

Desdobramentos na sociedade civil

Os protestos pedindo a renúncia de Temer e Diretas Já! se iniciaram já na quarta-feira, dia em que a matéria no “O Globo” foi publicada. Manifestantes rapidamente se mobilizaram e se concentraram no vão do MASP.

Durante entrevista coletiva concedida pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Gilmar Mauro (MST) disse: “Conclamamos todos e todas, inclusive setores que apoiaram o impeachment [da ex-presidenta Dilma Rousseff], iludidos pelos meios de comunicação, e que hoje estão se dando conta deste golpe político. Nós não queremos nenhum tipo de conflito. Queremos que a população venha às ruas, com suas bandeiras, que derrubemos Temer e que construamos eleições que garantam o voto”.

Durante a mesma entrevista, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, afirma “Este momento tem que ser importante para retomarmos a democracia no Brasil. Quero ressaltar que o país deve ter as coisas no âmbito da legalidade. Ele [Temer] tem que se defender e, se for culpado, tem que ser preso”

As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo convocaram atos em todo o país pedindo a saída de Temer e eleições diretas. Nesse momento o enfoque fica por parte do protagonismo dos movimentos populares, que devem se levantar e tomar, finalmente, as rédeas da situação. Já dizia o grito popular “Se empurrar…”

 

Imagens – Mídia Ninja