Fechar os olhos para as mulheres que morrem não tem nada de cristão

Por Luka

Já escrevi muitos textos sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos nos últimos anos. Alguns falando da realidade das mulheres que abortam e morrem, outros falando sobre violência obstétrica. Sim, pra quem não sabe, a lógica de tratar a mulher como receptáculo apenas é bem presente na vida, seja decidindo ou não por ter filhos.

Eu sou favorável à legalização do aborto pelo fato de que não há como combater os índices de mortalidade materna do país sem encarar essa questão sem preconceitos. Também sou favorável porque a criminalização do aborto hoje no Brasil também faz milhares de mulheres não terem acesso ao socorro médico em casos de abortamentos causados ou naturais.

Sou mãe, minha filha não foi planejada e, mesmo assim, foi profundamente desejada, decidida e esperada com muito amor. Mesmo não planejada, eu sabia, na época da descoberta da gravidez, que eu teria condições materiais e psicológicas de tê-la. Muitos argumentos daqueles que são contra a legalização dizem que quem defende a legalização do aborto não pensa na criança. Ora, como ser tão taxativo? Há mulheres que simplesmente não querem ser mães, não é sobre elas que quero falar. Porém há mulheres que querem ou já são mães e abortam e é dessas que eu quero falar. Abortam pensando nos quatro filhos que têm pra criar e na falta de condição de poder prover uma vida digna naquele momento para o que viria a ser uma criança. Alguns dirão: “Ah! Mas com amor se resolve tudo”. Aham, vai falar isso pro Conselho Tutelar, pro Estatuto da Criança e do Adolescente e afins.

Criar uma criança não é algo simples. Dirão alguns que querer é poder. Em uma sociedade tão desigual quanto a nossa, querer não é poder. Ainda mais agora que o Senado aprovou congelar investimentos em áreas sociais importantes para a garantia dos direitos das crianças como saúde e educação. É preciso criar, sim, uma lei pra regulamentar a prática do aborto no país. Ou preferimos dar a pena de morte àquelas que abortaram? Fico pensando que cristão concorda com deixar uma mulher morrendo de hemorragia por aí só por conta de discordância de concepção e ideológica.

Todas as crianças deveriam ser decididas, escolhidas, aguardadas e amadas. Assim como a minha menina foi. Todas as mulheres deveriam ter seu direito à vida também garantido independentemente da concepção de vida que tenha, é direito. Simples e puro direito.

Um dia, uma senhora me disse durante uma manifestação pela legalização do aborto: “Se você tivesse abortado, não teria essa menina linda ao seu lado”. Prontamente respondi: “Ela está ao meu lado porque eu decidi, tinha condições para tal e assim o fiz”.

Por fim, antes que me digam: “Só fala isso por que já nasceu e não foi abortada”. Meu caros, minha mãe, à época adventista, decidiu me ter e sou muito feliz por ela ter DECIDIDO me ter e ter a minha irmã e nos criado pra sabermos que se quiséssemos ser mães poderíamos assim DECIDIR também.

Sou mãe, sou pelo direito das crianças e sou pela vida das mulheres!

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