por Henrique Cartaxo | em 22 Abril, 2016

Na noite do feriado de Tiradentes, 21 de Abril, um evento do Facebook criado quase como uma brincadeira acabou chamando milhares de pessoas para a Av. Paulista para protestar contra o golpe que está tramitando em Brasília sob a alcunha de impeachment. Diferente dos outros atos do campo democrático, este não foi coordenado por movimentos sociais organizados, sindicatos ou partidos políticos – muita gente, inclusive, participou de um ato contra o golpe pela primeira vez.

A articulação espontânea deste ato nos permite visualizar uma virada importante na luta pela continuidade da democracia em nosso país. Maiara Beckrich, cientista social presente no ato, suspeita que o teor dos discursos da maioria dos deputados que votaram “sim” no último domingo, conferindo admissibilidade ao processo de impeachment, pode ter sido responsável por trazer mais gente paras as ruas do lado democrático:

“Acredito que muita gente que estava em cima do muro, muita gente viu em nome de quem estavam votando aqueles deputados. Eu acho que essas pessoas que viram o cunho dessas falas também se mobilizaram e perceberam que não podiam estar do lado de lá, tinham que estar desse lado de cá mesmo.”

Hino nacional pela democracia e contra o golpe – Jornalistas Livres

Na linha de frente e ao longo de todo o ato, as mulheres eram maioria. Entre jovens, adultas e até senhoras de idade, elas davam o tom das palavras de ordem e demonstravam sororidade com a presidenta Dilma Roussef, muitas vezes vítima de xingamentos machistas. Para elas, muitos dos questionamentos em torno do governo Dilma existem pelo fato dela ser mulher. Mesmo assim, a secundarista Anna Júlia Potye comemora a presença feminista no ato:

“Toda vez que eu venho num protesto e tem um enorme número de mulheres, eu me sinto acolhida, me sinto à vontade num nível que não é compreensível, sabe? Você sente na pele o que é sororidade.”

Ao final do ato, uma grata surpresa. Encontramos a senhora Edíria de Oliveira Silva, ao lado do marido Reynaldo. Aos 86 anos, ela conhece bem a história da política brasileira. Por isso está agora ao lado da democracia e contra o processo de impeachment que sofre a presidenta Dilma Roussef.

“Chateada com a situação. Porque desde que a presidente foi eleita, não deixaram ela governar.”

Edíria diz que se aborreceu com os discursos do deputados que votaram a favor do impeachment no último Domingo: “Eu venho de longa data assistindo política, nunca vi tanta bobagem junta!” Para Eduardo Cunha, o recado é claro: “Que ele caia fora! Suma! Cunha, Temer, Calheiros.”

Aos 86, contra o golpe – Jornalistas Livres

Entre feministas, movimento negro, LGBT, indígenas e trabalhadores, o canto é uníssono: Dilma fica, e Cunha sai.

Direitos Reservados: Vídeo e reportagem: Henrique Cartaxo, para os Jornalistas Livres

O artigo original pode ser visto aquí