Frei Betto, um tradicional apoiador do PT, afirma que a política saiu do racional para o emocional, o que pode permitir o surgimento de um ‘salvador da pátria’; para ele, o partido precisa enquadrar Dilma.

por Vinícius Mendes

As palavras saem com estranha naturalidade da boca de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 71, durante a manhã em que recebeu a reportagem da Calle2 no convento onde vive desde 1979, no bairro de Perdizes, zona oeste paulistana: “erro”, “crise”, “impeachment”, “golpe”, “fascismo”. Pareciam ter sido pensadas com precisão para quando fosse necessário falar da política nacional. E foram ditas 72 horas após a Polícia Federal ter conduzido de forma coercitiva o ex-presidente Lula, seu amigo há mais de 30 anos, para depor em uma sala do aeroporto de Congonhas a mando do juiz Sérgio Moro.

Quando conectadas a conclusões, no entanto, via-se no rosto do teólogo certa aflição, ainda que distante, mas suficiente para fazer-se perceber incomodado: três anos depois de gigantescas manifestações populares pelo país, quase dois anos depois das eleições presidenciais e mais de uma década de governo petista, o Brasil entrou em um ciclo complexo: uma presidente que não segue o programa do partido (considerado um erro político por parte da cúpula partidária), que ainda tenta governar um país paralisado pela crise, que sofre um processo de impeachment no Congresso (uma tentativa de golpe para os seus apoiadores) e que ainda vê, nas ruas, uma polarização emocional. Para Frei Betto, esse momento em que a “discussão política baixou do racional para o emocional” pode ter como consequência uma espécie de regime fascista brasileiro.

“Meu temor hoje é que a gente esteja caminhando do Estado de Direito para o Estado da direita. Na Alemanha dos anos 1930, em uma situação tão crítica quanto agora, isso favoreceu o fascismo. (…) A insatisfação com o governo de Dilma Rousseff pode desembocar em um fascistoide nas eleições de 2018 ou até antes, caso a chapa Dilma-Temer seja cassada”, observa, recorrendo ao fatídico processo que levou a Alemanha ao nazismo na metade do século XX.

Em uma hora de entrevista – e entre outras palavras estranhamente difíceis de ouvir e, da mesma forma, significantes para o momento do Brasil – Frei Betto criticou o caminho de governança consumista escolhido pelo PT, defendeu que o partido “enquadre a presidente” e ainda lamentou a distância da Igreja Católica do momento político que o país atravessa.

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