Neste fim de semana volta a acontecer o encontro da juventude do Partido Trabalhista da Noruega na ilha onde, em julho de 2011, o terrorista de direita Anders Behring Breivik matou 69 pessoas.

No dia 22 de julho de 2011, o terrorista radical de direita Anders Behring Breivik pegou uma balsa em direção à idílica ilha de Utoya, a uma hora de Oslo, e matou 69 pessoas – a maioria crianças. Mais cedo naquele dia, ele explodiu um carro-bomba na frente da sede do governo chefiado pelos trabalhistas, na capital norueguesa, matando oito pessoas.

Eskil Pedersen era líder da juventude do Partido Trabalhista na ocasião e prometeu, no dia seguinte ao ataque, que o grupo retornaria a Utoya.

Quatro anos mais tarde, Hakon Knudsen será um entre as centenas de membros do grupo a retornar. No dia do massacre, ele estava no prédio da cafeteria quando ouviu os primeiros tiros e avistou alguém que parecia ser um policial norueguês.

Quando viu Breivik atirar em um de seus colegas a sangue frio, percebeu que não era uma simulação. Ele se atirou no mar quando Breivik abriu fogo contra vários jovens encurralados na praia.

 

Breivik chegou à ilha de balsa

Breivik chegou à ilha de balsa

“Para mim, Utoya reúne tanto histórias felizes como as minhas piores recordações”, disse Knudsen em entrevista à DW. “Eu estou empolgado por poder voltar. Em 2011, não era certo que voltaríamos. Foi uma longa jornada.”

O longo caminho de volta

Algumas das cabanas da ilha foram reconstruídas, um pavilhão foi reativado e um grande anel de aço com o nome das vítimas gravado for erguido entre as árvores como memorial.

Algumas instalações, como a cafeteria principal, ainda têm as marcas dos disparos de Breivik, preservadas de propósito como reflexão sobre “o racismo e a necessidade de defender a democracia”, explica Jorgen Frydnes, o diretor de projetos de Utoya.

Mas a ideia de retomar o acampamento em Utoya enfrentou resistência nos primeiros anos após o ataque – tanto por parte das pessoas que estiveram lá como das famílias das vítimas. Nos últimos dois anos, o acampamento foi realizado em Gulsrud – uma área continental próxima de Utoya – e teve patrulhamento policial.

Neste ano, a ideia do acampamento voltar à ilha avançou e será um divisor de águas para o país, que ainda se recupera da maior tragédia em seus tempos de paz.

Marcas de disparos foram mantidas de propósito

Marcas de disparos foram mantidas de propósito

“O clima geral é otimista, mas especial”, diz Knudsen. “Existem vários participantes que voltarão porque sabem que é importante não apenas para a nossa organização, mas para todo o país… Eu acho que este é um grande passo. É como o ápice dos últimos quatro anos e de como nós resgatamos nossa rotina e nossa vida política.”

Este ano, o acampamento também será histórico pela expectativa de comparecimento recorde. Cerca de mil integrantes da juventude do Partido Trabalhista se inscreveram para participar dos três dias de acampamento de verão, quase o dobro da presença registrada naquele fatídico julho de 2011.

A maioria dos jovens registrados para o evento deste ano não estava na ilha com Breivik. Segundo Pedersen, aproximadamente 70% daqueles que comparecerão são novos membros. Essa também é uma das razões pelas quais houve grande interesse em voltar à ilha, “antes que eles [os 30%] ficassem muito velhos para participar”.

Tempos difíceis

“Foram quatro anos frenéticos e dolorosos, mas eu acho que isso mostra a força de vontade das pessoas depois do 22 de julho”, disse Pedersen em uma entrevista à DW em Oslo. “Nos dias imediatamente posteriores ao ataque nós fomos às ruas com flores e dissemos ‘nós não queremos que o atirador defina o nosso país.’ Por isso, ainda que seja doloroso, a vida continua e tem que continuar.”

Pedersen é um dos vários convidados especiais esperados em Utoya neste fim de semana. Além dele, são aguardados dois ex-primeiros-ministros noruegueses – Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, e Gro Harlem Brundtland. Ambos foram os alvos não atingidos por Breivik naquele dia.

O auto-proclamado militante nacionalista acusou o Partido Trabalhista de promover a “colonização islâmica” da Noruega através de suas “políticas favoráveis ao multiculturalismo” e tinha planejado inicialmente decapitar Brundtland na ilha.

Grupo quer mostrar que retomou a vida política

Grupo quer mostrar que retomou a vida política

Mani Hussaini, sucessor de Pedersen como líder da juventude do partido, pediu que o encontro deste ano se concentre na solidariedade internacional. Em uma carta enviada a seus correligionários, ele enfatizou a importância do encontro para lembrar as vítimas e promover os ideais que foram atacados em 22 de julho de 2011, para mostrar ao atirador que ele não destruiu a sociedade que eles construíram juntos.

“Utoya é o coração da juventude trabalhista, e a ilha tem uma longa e brilhante história”, disse Hussaini em entrevista coletiva na quarta-feira na ilha. “Utoya é também palco do dia mais sombrio em tempos de paz na Noruega.”

Para ele, restaurar Utoya significa não permitir que a história sombria encubra a história brilhante. “Nós estamos reconstruindo Utoya passo a passo, pedaço por pedaço, desde o ataque terrorista de 2011. Usá-la mais uma vez como sede do acampamento de verão é um passo importante nesse trabalho”, disse.

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