Realizou-se entre o 4 e o 18 de novembro o Curso online: “Cidades não violentas: uma transformação cultural profunda, individual, institucional e social, por meio da não-violência ativa”. Este curso, intensivo e gratuito, se desenvolveu por meio de uma plataforma virtual desde a que se capacitaram participantes de 9 países: 2 de Europa (Itália e Espanha) e 7 de América Latina (Argentina, Equador, Colômbia, R. Dominicana, Bolívia, Chile e Brasil). Na Argentina participaram da proposta desde 6 províncias: Buenos Aires, Chaco, Entre Rios, Santa Fe, La Rioja y Tierra Del Fuego.

Entrevistamos o Licenciado Juan Jose Pescio*, um dos integrantes da rede de construtores de Cidades Não Violentas, para que nos comente quais foram os passos para chegar a esses resultados e em que consiste a rede de construtores dos diversos nós.

 

Pressenza: Poderias nos comentar em que se baseia a proposta?

Esta proposta parte de reconhecer o grande poder que o sistema violento em que vivemos tem sobre a mente de cada indivíduo. O sistema tem um poder hipnótico capaz de afastar ao ser humano da espiritualidade latente em seu interior e do contacto com suas aspirações profundas de um mundo solidário e não violento. E exerce esse poder em forma permanente por múltiplas vias: os meios de comunicação, as instituições, o sistema econômico, etc. Por isso nós entendemos que essa influencia que afasta do único importante, é a ação mais destrutiva que realiza o Antihumanismo.

Então o curso, como parte desta proposta, se centra fundamentalmente na urgência de converter (inverter) a “direção possessiva” que está orientado a vida das pessoas numa direção destrutiva na civilização atual. Uma civilização impulsionada por um individualismo acumulativo e competitivo acelerado.

É evidente que esta direção de vida errônea já está instalada também como “normal desde faz muito nas instituições e nas estruturas sociais. Por isso, pela dimensão que tem esta direção de vida, a Proposta de Mudança Tripla intenta contribuir de alguma maneira para a conversão da direção individualista que leva est cultura globalizada e que seja substituída por uma nova cultura Solidária e Não Violenta. Estas ações em marcha tratam de abrir caminhos para a expressão da nova espiritualidade que está nascendo.

Entendemos que esta mudança da direção errônea da cultura global requeira de uma escala significativa de pessoas que o intentem. É por isso que esta proposta que se iniciou faz quase 13 anos a partir de algumas escolas hoje está se desenvolvendo em quase 30 cidades de 10 países. Foi evoluindo desde então e se foca desde faz alguns anos na Construção de Cidades Não Violentas e na formação de uma Rede de Construtores de Cidades Não Violentas. Em síntese, esta proposta baseia-se no Humanismo Universalista de Silo.

 

Pressenza: De onde parte esta iniciativa e onde se enquadra?

Surge desde um Frente de Ação de “A Comunidade para o Desenvolvimento Humano”, Organismo cultural e Social do Movimento Humanista.
Este frente se denomina: “Conselhos Permanentes pela Não Violência Ativa e Redes” (CPNVA) e hoje trabalha com a proposta de construir “Cidades Nõ Violentas com o Método Triplo de Mudança”.

 

Pressenza: Poderia nos dizer qual é o objetivo do curso e o seu conteúdo?

Este curso está destinado à formação de Construtores de Cidades Não Violentas e se compõe de dois Unidades Didáticas:

1) “Por que é necessário construir Cidades Não Violentas”?
2) “Como construir Cidades “Não Violentas”?

 

Pressenza: Que avanços experimentaram os participantes a partir do curso?

Em geral eles têm destacado que:

– Tiveram uma forte confirmação em seu projeto de vida com sentido solidário. Valoraram muito a existência de uma Rede que se está construindo com esse sentido.

– Lograram ampliar a escala na que estavam tratando de mudar seu meio, chegando a se propor a construção de “cidades” e incluso em alguns casos, de “países não violentos”.

– Reconheceram a importância de contar com uma metodologia preventiva para as diversas formas de violência, baseada na construção de novos espaços não violentos permanentes e se propuseram começar a aplicá-la (Ao menos em 8 cidades de diferentes países se constituíram equipes de trabalho durante o curso, com a intenção de aplicá-lo no seu meio).

Pressenza: em forma sintética, qual seria o procedimento par superar as causas profundas da violência em cada um dos três planos?…

a) Nas instituições, democratizando-las, isto é, fazendo com que num mediano prazo, seus integrantes participem nas decisões. Ademais, que incorporem o enfoque triplo para superar as “causas” da violência.
b) No mundo interno dos indivíduos, tratando que superem os seus ressentimentos, temores e desorientação, focando o processo de mudança interna na conversão gradual do projeto de vida individualista por um projeto solidário baseado em ações válidas.
c) No Plano Comunitário – Social, a ação se orienta a superar a desigualdade de oportunidades. Para isso se constroem Redes de Instituições Solidárias e Não Violentas (Atualmente se trabalha com Escolas, Famílias, Colégios profissionais, Municípios, Hospitais, etc.).

O trabalho em cada um dos três planos é inseparável e simultâneo com o que se faz nos outros dois, potenciando os efeitos nesta interação.

 

Pressenza: Quais são os pilares no que se apóia a construção de uma Cidade Não Violenta?

Os pilares são 3 a Nível Local:

a) “Equipes Motores”: formados por voluntários capacitados em cada cidade, dispostos a formar a outros e estender a proposta.
b) “Centros de Formação Permanente de Construtores de Cidades Não violentas com o Enfoque Triplo”: São lugares físicos significativos onde se capacita a novos construtores. (Desde faz vários anos existem estes Centros em Universidades, Municípios, Colégios Profissionais, Escolas, Ministérios, etc.).
c) “Autoridades” e “meios de comunicação”: São fatores que aceleram a transformação de conjuntos sociais significativos quando se conta com os pilares anteriores.

E também são importantes estes 3 pilares da Rede: a) A Formação Virtual a Distancia, que facilita a apertura e instalação da proposta em novos países e cidades (por exemplo, com este curso). b) A existência da Rede de Construtores de Cidades Não Violentas, que facilita o intercambio de experiências e reforça a confiança em que “a mudança é possível”. c) O “Encontro anual Internacional de Construtores de Cidades Não Violentas”, que em grande medida potencia a confiança na mudança ao vincular-se cara a cara com outros construtores de lugares distantes. (Realiza-se anualmente em Buenos Aires na Aula Magna da Universidade Tecnológica Nacional desde 2011).

 

Pressenza: O Curso vai ser novamente dado, e nesse caso, como podem se informar os interessados?

Este curso gratuito voltará a ser ditado durante o presente ano em varias oportunidades. Informes: cpnva2006@yahoo.com.ar Atividades da Rede: Facebook: Consejos Permanentes por la No Violência Activa.

 

Pressenza: Qual é a referencia bibliográfica do curso?

Este Curso é uma versão abreviada do manual teórico-prático “Em direção a uma cultura solidária e não violenta” de Juan José Pescio e Patrícia Nagy. A versão completa pode se baixar livremente de: www.consejosnoviolencia.org Outros textos utilizados no curso são:
Autoliberação, de Luis Ammann e Experiências Guiadas, de Silo. A apresentação do curso abreviado está disponível em: http://www.imwonline.org/curso/ciudades-violentas-una-transformacion-cultural-profunda-individual-institucional-y-social-por-medio-de-la-no-violencia-activa/

 

* Co-autor do Manual “Hacia una cultura solidaria y no violenta”, utilizado nas capacitações.