Bogotá (Prensa Latina) Após superar obstáculos e críticas de detratores, as persistentes negociações para pôr fim ao conflito interno se constituíram, sem dúvidas, no acontecimento político de maior repercussão na Colômbia durante 2014.

Os diálogos entre representantes governamentais e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP), encerram o ano com discussões sobre a reparação às vítimas do conflito, o único no continente.

Quando restam ainda consensos em questões cruciais como o fim do período bélico, a deposição das armas e a reintegração dos guerrilheiros à sociedade, muitos apostam em 2015 como o ano da paz.

A solução de um impasse nos diálogos após a captura pelas FARC-EP do general Rubén Darío Alzate, foi interpretada por analistas como uma demonstração de maturidade e vontade para preservar os esforços pacificadores.

Com a libertação do alto militar e seus dois acompanhantes, Havana acolheu novamente a ambas equipes negociadoras, interessadas em avançar nos ciclos, ainda que com discursos discordantes sobre a maneira como devem continuar os diálogos.

Enquanto o executivo advoga por reduzir ou abrandar os confrontos, o movimento insurgente propõe um cessar bilateral para gerar um ambiente de confiança e minimizar os impactos da guerra sobre a população civil.

Desacordos aparte, o fato de que siga o processo em busca da distensão é uma conquista em si, passando por cima também dos irados questionamentos do partido Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe.

Muito ruído e pouco avanço, opinam alguns ao se referir às tentativas de sabotagem da mesa de encontro em Cuba.

O certo é que a proposta de paz foi decisiva também durante a reeleição de Juan Manuel Santos para um segundo mandato à frente da Casa de Nariño.

Depois de permanecer atrás de seu adversário, Oscar Iván Zuluaga no primeiro turno, com 25,6% dos votos, frente a 29,2%, o atual presidente alcançou 50,95% de apoio no escrutínio decisivo, e prometeu pôr fim aos confrontos como a principal proposta de sua campanha.

Com a definição desse roteiro obteve o respaldo de organizações políticas e sociais como o Polo Democrático Alternativo, a Aliança Verde e outros grupos a favor de uma saída pacífica para mais de 50 anos de violência, cujas sequelas são muito acentuadas nas zonas rurais. O conflito prejudicou de forma direta seis milhões de cidadãos em decorrência de mais de meio século, registro que inclui 230 mil mortos, além de desaparecidos, torturados e sequestrados.

Atento aos acontecimentos da ilha e com pronunciamentos ante cada passo, o Congresso colombiano teve uma intensa agenda de debates, ao submeter a análises polêmicas projetos de lei como o referido à legalização da maconha com fins medicinais ou o relacionado com os terrenos baldios, ainda pendentes de outras reflexões.

A este último opõem-se setores camponeses, ativistas e senadores como Iván Cepeda, por considerar uma “jogada” legislativa para tirar dos camponeses seu autêntico direito às terras ociosas.

A abolição da reeleição presidencial é avaliada também pelos congressistas e, não obstante os degraus restantes, tudo indica que será finalmente aprovada pelo Parlamento.

Não faltaram no panorama nacional novos escândalos por “chuzadas” ou espionagem dos participantes na mesa de diálogos (governamentais e das FARC-EP), bem como de jornalistas e outros facilitadores desses gerenciamentos, e também ameaças de morte contra algumas dessas personalidades, investigadas agora pela promotoria.

Escândalos dentro das forças armadas por supostos desfalques causaram alvoroço na opinião pública, o mais recente dos quais envolve 30 militares de Medellín, supostamente responsáveis por desvios de recursos financeiros, encobertos mediante obscuras operações com empresas mineiras.

Uma paralisação agrária mobilizou para as ruas produtores de numerosas regiões colombianas, em protesto pelos prejuízos derivados dos Tratados de Livre Comércio.

Os manifestantes reivindicaram também rebaixamento no preço dos fertilizantes e insumos, além da concessão de auxílios financeiros, junto a maiores investimentos sociais nas instalações rurais, reclames silenciados com o pacto de estabelecer um canal de comunicação permanente entre o executivo e o sindicato, junto à promessa de dedicar cerca de 2,5 bilhões de dólares para esse setor, previstos no orçamento anual.

Lamentavelmente, em abril passado, os colombianos choraram junto a homens e mulheres do mundo pela morte do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, vítima de um câncer, que legou para a posteridade comoventes obras como O amor nos tempos de cólera e Cem anos de solidão.

A ponto de terminar 2014, a maioria dos cidadãos faz votos por um desenlace positivo dos diálogos em Cuba, devido os inegáveis benefícios do fim da guerra, que permitiria afastar o rastro de destruição e morte, para concentrar esforços no progresso do país e na busca de justiça social, quiçá ainda longínqua.

Por Adalys Pilar Mireles, correspondente da Prensa Latina na Colômbia.