Representantes de movimentos sociais e governos debatem sobre capitalismo e democracia

Pontos positivos e limitações do processo democrático, além da crise do capitalismo, foram os temas que serviram de base para a segunda mesa de convergência do Fórum Social Temático 2014, na manhã desta sexta-feira (24/01). O debate intitulado “Contra o capital, democracia real” aconteceu no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, teve a participação de cinco representantes de movimentos sociais e dois do Executivo estadual e federal.

Os ativistas sociais denunciaram problemáticas, dificuldades, obstáculos do processo democrático, que, para se sobressair a crise pode promover ainda mais as desigualdades sociais. Governistas também revelam limitações do estado democrático, mas contrapõem com avanços e conquistas que promovem alternativas ao sistema financeiro atual. Porém, todos os participantes da mesa tiveram consenso ao saudar o espaço de debate e de troca de experiências, oportunizado pelos Fóruns Sociais e a participação da sociedade civil organizada.

O painel desta sexta-feira teve como mediadora a conselheira internacional do Fórum Social Mundial (FSM) e integrante da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Salete Camba.

Fórum Social x Fórum Econômico

Bernard Cassen, da Universidade de Paris (França), lembrou que o Fórum Social Temático acontece na mesma época do Fórum Econômico Mundial de Davos, lugar emblemático que reúne empresários e líderes políticos de grandes potências do planeta. Encontro que o convidado denominou como antidemocrático, onde cada estadista, para participar, precisa dispor de U$ 30 mil e empresários com U$ 400 mil. Segundo Cassen, os participantes de Davos estão reunidos para identificar os riscos globais de 2014, não só econômicos, mas também os ambientais, tecnológicos, geopolíticos e sociais, para manterem a sobrevida do sistema.

Um homem do campo

Hamoudha Soubhi, da ONG Alternatives (Marrocos), assumiu-se como um homem do campo, que sonha. O ativista social sonha com uma rede internacional de combate ao imperialismo. De um grupo que busca espaço, cuja vida de cada integrante compõe a luta comum para mudar o mundo. “É preciso a participação social para construir uma democracia”, ressaltou o palestrante.

Crise sistêmica

Para Ricardo Abreu, do Instituto de Estudos Contemporâneos – IECINT – (Brasil), a crise do capitalismo é sistêmica e o momento revela a situação atual sobre este sistema. Lembra que a crise nos anos 30 teve um impacto social menor por que houve uma interferência menor do Estado, ao contrário da crise econômica dos últimos cinco anos, por exemplo. E ressalta: “o capitalismo não é capaz de sustentar o desenvolvimento social”.

Amandla!

Wilhelmina Trout, da Marcha Mundial de Mulheres (África do Sul), integrou a mesa de debates com uma saudação em dialeto africano. “Amandla!” A ativista explica que a expressão significa “poder” e que em resposta, na sua terra e em sua língua, as pessoas complementam, “para o povo”. Ela se assume como mulher negra e conta que nasceu e viveu o Apartheid, sistema que separa as pessoas pela raça. Mas, na sua história, cita uma aldeia onde as pessoas falavam diversas línguas e que debatiam as problemáticas vividas.

Não à energia nuclear

Chico Whitaker, do Conselho Internacional do Fórum Mundial Social (Brasil), pontuou as desvantagens da política estatal de energia nuclear no país. Para ele, a nação está deixando uma herança maldita para as futuras gerações, que é o lixo nuclear. Segundo ele, mesmo com alertas e contrariedades de grupos sociais, o Brasil investe no processo nuclear. Entre outras colocações, o conselheiro também disse que a democracia brasileira é insuficiente.

Foco na união dos movimentos sociais

Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, concorda com o ativista Chico Whitaker quando coloca que o processo democrático brasileiro é precário. Mas, em contrapartida, a sociedade tem avançado em muitos pontos. E que este ano seguirá com situações importantes para todos, na sequência do surgimento de novas formas de mobilização, como a realização da Copa do Mundo e a escolha de novos projetos com as eleições. Por isso ele acredita que é importante manter a união dos movimentos sociais, a permanência de processos de reflexão, num processo evolutivo de uma democracia de direito.

Refém do poder financeiro

Em sua fala, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, comentou que o governo e o estado são reféns do poder financeiro, estando algumas vezes em seus limites na gestão. Segundo o chefe do Executivo estadual, a conseqüência disso são as restrições sofridas pela democracia, que, para fugir dessa situação acaba gerando mais desigualdades sociais. “O projeto democrático tem pontos positivos e limitações. Para sair da crise é preciso promover mais desigualdades. Para ter governabilidade, os gestores se submetem a políticas globais do estado capitalista”.

Texto: Elaine Barcellos de Araújo publico na página oficial do Fórum em http://www.forumsocialportoalegre.org.br/index.php?link=34&acao=Ver&id=360

Foto: Tiago Silveira