Atividades ocorrem em todo o país desde o ano passado e agora envolveu 34 cidades

São Paulo – Gestantes, pais, mães e especialistas da área da saúde fizeram ontem (19) marchas pela humanização do parto em 34 cidades brasileiras. O objetivo é chamar a atenção para questões como o crescimento da violência obstetrícia e o número de cesarianas no país. Em São Paulo, o movimento reuniu 300 pessoas na avenida Paulista.

O Brasil tem a mais alta taxa de cesarianas do mundo: o número de cirurgias aumentou de 37,8% para 52,3% entre 2000 e 2010. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa taxa seja 15%, tanto na rede pública, quanto na privada.

Segundo a advogada Ana Keunecke, uma das organizadoras da marcha, o movimento exige agilidade no julgamento da ação civil pública de 2010 sobre o número excessivo de cesarianas realizadas pelos convênios.

Entre as manifestantes, estava a gestante Manoela Mitre, com 37 semanas de gravidez. Ela será mãe pela segunda vez e afirma que a manifestação é necessária para alertar a população sobre os riscos de uma cesariana para a mãe e para o bebê.

“Antigamente era corriqueiro ver gestantes dando a luz em casa com a ajuda de familiares. Hoje optar por um parto sem intervenções cirúrgicas virou algo incomum e mal visto aos olhos do modelo obstétrico vigente”, afirmou.

Outra manifestante, a secretária Luciana Carla de Lima de 26 anos contou que sofreu preconceito de um hospital por querer ter seu primeiro filho de parto normal. Além disso, Luciana diz que foi vítima de uma série de violências ao parir o seu bebê e teve depressão. Ela está processando a Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro por negligência médica, descumprimento da lei do acompanhante e pelo parto violento.

Simone Diniz, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, ressaltou que muitas vezes, as mulheres recorrem à cesárea para fugir da violência em partos vaginais.

O movimento denunciou durante o ato a perseguição que profissionais humanizados como doulas, obstetrizes e enfermeiras obstetras em maternidades do país.

A marcha foi encerrada em frente ao prédio da Justiça Federal na Avenida Paulista, onde as mulheres entregaram um documento com mais de 300 assinaturas pedindo o julgamento da ação sobre o alto número de cesarianas.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, houve um ato silencioso no Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no centro da capital.

“O nosso ato é para apoiar nesse local todos os profissionais que lutam para que a mulher seja protagonista do seu trabalho de parto e, isso faz com que as cesáreas feitas por conveniências médicas não aconteçam”, destacou a funcionária pública Paula Inara, de 38 anos, uma das coordenadoras do Movimento pela Humanização do Parto.

Segundo a médica e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Maria do Carmo Leal, o número de cesarianas está aumentando a cada ano, na contramão do que acontece em países desenvolvidos, como na Europa, onde não ocorre a prática indiscriminada de partos cirúrgicos. “Nos Estados Unidos, que têm um modelo de atenção um pouco parecido com o nosso, eram 33% de cesáreas e agora estão com 31%, porque estão fazendo um imenso esforço para diminuir essa taxa.”

Em março de 2014, Maria do Carmo lançará a pesquisa Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, realizada nos últimos três anos em todo o país.

O documento vai descrever como é a assistência ao parto; quais são as intervenções que vêm sendo feitas sobre o parto vaginal; qual é a aprovação de cesáreas; como a decisão pela cesárea está sendo feita no Sistema Único de Saúde (SUS) e na rede privada.

“É uma pesquisa muito grande, que também vai contemplar os resultados sobre como o parto é realizado, sobre a mãe e o recém-nascido.”

O Movimento pelo Parto Humanizado também se solidariza com as mães que perderam quatro bebês de cesariana no início do ano na Maternidade Maria Amélia e pede que as causas sejam apuradas rapidamente.

O movimento afirma ainda que não é contra a realização de cesarianas. Apenas considera que elas devem ser feitas quando há indicação clara e real para mãe ou para o bebê e não de forma indiscriminada, como tem sido feita no país.

Segundo a enfermeira obstétrica Mara Libertad, que acompanha partos normais em casa e trabalha junto ao Movimento pela Humanização do Parto, o que a maternidade faz é o recomendado pelo Ministério da Saúde como mais adequado para as mulheres em trabalho de parto. “Ela tem acompanhamento em uma sala individual, com recursos para o alívio da dor, e direito ao acompanhante, reconhecido por lei.”

por Douglas Corrêa, da Agência Brasil