Nós, professores, costumamos afirmar, com alguma pompa e solenidade, e muita convicção, que as universidades são o local por excelência da liberdade, da livre-expressão, do pluralismo, do debate de ideias. Isso faz da universidade um grande, senão o maior, aliado da comunicação e dos jornalistas.

É na universidade onde estão muitas fontes de boa informação, dados estatísticos, resultados de pesquisas, e opiniões abalizadas sobre os mais diversos assuntos. É um local onde novas ideias arejam o pensamento e enfrentam o establishment; onde se pratica a resistência a autoritarismos governamentais e culturais de todas as espécies.

Entre o que afirmamos, com fé e esperança, e a realidade, há diferenças, mas mesmo assim as universidades mantem-se acima da média, quando o tema é liberdade de expressão. Por isso, o episódio envolvendo a correspondente do jornal O Estado de S.Paulo em Washington, Claudia Trevisan, na Universidade de Yale é chocante, ainda que se possa compreendê-lo no contexto antiterrorismo dos EUA.

Claudia compareceu em Yale, durante um Seminário em que o Ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF, era um dos palestrantes. Informada pelo ministro que este não daria entrevista no evento, ela resolveu esperar do lado de fora do auditório, no campus da universidade. Eis que a polícia da universidade detém a jornalista, como se fora uma arruaceira, e a conduz algemada para uma cela, onde permaneceu por cerca de cinco horas. A justificativa oficial foi “invasão de propriedade”.

Pergunta-se: o que fazia a jornalista no campus da Universidade de Yale? Exercia o seu trabalho, ofício tão fundamental para a democracia que, até mesmo numa guerra, jornalistas são credenciados para atuar, com imunidade, no campo de batalha.

Ranqueada como a 11ª melhor universidade do mundo (pelo THE), Yale é considerada, junto com Harvard, a melhor escola de Direito dos EUA. Na Suprema Corte Americana, os juízes são todos oriundos de uma daquelas duas escolas. Como explicar que uma instituição desse nível aja de maneira tão abusiva e violadora dos Direitos Humanos? Lembrei-me de ter visitado uma prisão universitária na Universidade de Coimbra, que funcionou até poucos séculos atrás. Os reitores de então tinham jurisdição sobre professores, alunos e servidores e podiam decretar prisão e aplicar penas. Hoje, aquele cárcer em Coimbra é um museu… que parece ter revivido, como num pesadelo, em Yale.