Rússia apresentará provas de que os rebeldes sírios usaram armas químicas, numa tentativa em conjunto com a Síria para frustrar uma resolução da ONU, impulsionada por potências ocidentais, que habilitaria atacar o país árabe se não cumpre o recente acordo sobre seu arsenal químico.

“Temos suficientes provas de que os informes sobre armas químicas refletem o fato de que os rebeldes armados recorrem com frequência a essas provocações para causar uma intervenção estrangeira”, explicou o chanceler russo Sergei Lavrov, numa roda de prensa em Moscou.

As palavras do chefe da diplomacia russa chegaram pouco depois que Moscou criticasse em duros términos o trabalho dos inspetores de armas químicas na Síria, ao que qualificou como “politizado, parcial e unilateral”.

“Escreveram um informe seletivo e incompleto”, assegurou o chanceler russo Sergei Riabkov, durante uma visita a Damasco, segundo reportou a agência estatal russa de notícias RIA Novosti.

O organismo internacional deu a conhecer [dia 17.9.] um informe no qual credita o uso de gás sarin o passado 21 de agosto na periferia de Damasco, mas não determina quem foi o autor do ataque.

Reino Unido, França e Estados Unidos atribuem o uso de armas químicas ao governo do presidente sírio Bashar Al Assad.

A contraofensiva diplomática russo-síria se produz também enquanto o Conselho de Segurança da ONU tenta traduzir em uma resolução o acordo alcançado em Genebra sábado passado entre Estados Unidos e Rússia, que estabelece um cronograma para que Damasco destrua todo seu arsenal químico.

O ponto mais ríspido , inclusive depois de haver chegado a um acordo base na cidade suíça, é a inclusão ou não de possíveis sanções militares que seriam executadas se o governo sírio não cumprir com os prazos e os objetivos do desarme.

Neste marco, Estados Unidos, Reino Unido e França buscam que a resolução invoque o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas que habilita “o uso da força armada” […] “para fazer efetivas suas decisões” em caso de ameaça à paz.

Riabcov condenou as tentativas dos países ocidentais de adotar uma resolução baseada no capítulo VII e lembrou que isso só pode acontecer “se o Conselho de Segurança constata casos, ou algum caso, de não cumprimento das obrigações assumidas no regime da Convenção sobre Armas Químicas”.

No meio da oleada de declarações que apontam antecipadamente a responsabilidade do governo sírio no ataque que deixou 1400 mortos, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama, aumentou a aposta e sinalizou que era “inconcebível” que mais ninguém que o governo o teria levado a cabo.

Rússia rejeita a dura resposta contra Síria colocada por estas potências ocidentais e o porta voz da Chancelaria russa, Alexander Lukashevich, qualificou como “simples demais e infundado acusar a dirigência síria de tudo”.

“Em nossa opinião é inadequado e muiti precoce retirar a responsabilidade da oposição”, agregou Lukashevich, citado pela agência de notícias DPA.

Ademais, a Chancelaria russa lembrou a través de um comunicado que a Casa Branca apoia com armas, dinheiro e treinadores às milícias opositoras que combatem na Síria, entre as quais se destaca o Frente Al Nusra, uma organização islamista vinculada à Al Qaeda.

Tudo isto enquanto o presidente francês Francois Hollande anunciou em Paris um maior apoio financeiro e humanitário à Coalizão Síria, o principal grupo opositor no exílio, durante um encontro com o ministro de Exteriores de Qatar Jaled al Attiyah, outro férreo aliado dos insurgentes.

O acordo entre Washington e Moscou, em virtude do qual Damasco deve entregar suas armas químicas para controle internacional e posterior destruição, produziu-se depois de que estados Unidos ameaçou com empreender ações militares contra Damasco em resposta ao último ataque químico.

Por enquanto, o pacto permitiu deter a anunciada ação militar, mas Estados Unidos deixou claro que não é uma opção descartada, enquanto o Secretário Geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen, defendeu a necessidade de mantê-la ativa para garantir que Síria mantém sua promessa de renunciar às armas químicas.

Tradução: Ernesto Kramer