No Fórum Social Mundial, que acontece na cidade de Túnis, Tunísia, diversas organizações sociais concentraram seus esforços, nesta quinta-feira (28), para denunciar o papel das empresas transnacionais sobre os territórios e seus povos, e os impactos socioambientais que suas atuações causam sobre os países.

Sob o lema “Lutar contra o poder das corporações transnacionais e revelar a inversão global, o comércio e os regimes financeiros”, a paraguaia Lidia Ruiz, dirigente da Via Campesina, lembrou o golpe parlamentar que aconteceu em seu país em 2011. Configurado como o país com a maior concentração de terras do mundo, em que 2% da população detêm 85% das terras, como destacou a camponesa, o papel das empresas do agronegócio foi um dos principais atores que derrubaram o ex-presidente Fernando Lugo. A não liberação de sementes transgênicas de algodão pelo Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave), o Ministério da Saúde e o Meio Ambiente – que afeta milionários interesses da multinacional estadunidense Monsanto -, foi um dos principais fatores responsáveis pelo golpe instituído no Paraguai.

Lidia denunciou que o atual o governo de fato fez um trato com os EUA em que 2 mil soldados estadunidenses ficarão em território paraguaio para treinamento de suas tropas e intercambio com os soldados do país latino-americano. “As transnacionais não apenas ostentam um poder econômico, mas também um poder político e militar sobre os territórios”, ressalta.

Vale

A segunda maior mineradora do mundo não passou despercebida durante o debate. Padre Dario, do Movimento dos Atingidos pela Vale, salientou a violência com que a empresa atua em seus espaços de extração. “Ao chegar ao local, a Vale acaba com a economia e a cultura local e força um outro modelo de vida não compatível com aquela realidade”, afirmou.

Presente em 38 países, a Vale se tornou símbolo de violentos impactos socioambientais, ao desrespeitar leis trabalhistas e violações de direitos humanos.

No Brasil, investigações do Ministério Público e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já apontaram as relações comercias da empresa com siderúrgicas que se utilizam de trabalho escravo e infantil. Um relatório do Greenpeace sobre os impactos da mineradora em 2010 no país denuncia os mais de 740 quilômetros quadrados de área de florestas destruídas naquele ano, além de mais de 200 mortes, acidentes graves e lesões em seus espaços de trabalho.

“A Vale costume fazer um informe e propagandear sua suposta sustentabilidade, e uma das ações dos atingidos é justamente denunciar a insustentabilidade da atuação da empresa”, apontou Dario. Não por acaso, a Vale ganhou o prêmio de pior empresa do mundo em 2012, organizado pelas Ongs Greenpeace e Declaração de Berna.

O ouro banhado de vermelho nas Filipinas

A maior desgraça das Filipinas foi ter sido abençoada por enormes quantidades de ouro e cobre, lamenta Joahna Goyagoy, da WMW. A ganância das mineradoras transformaram as águas da região norte do país em grandes córregos de venenos. “O objetivo das mineradoras é o lucro. O que era um paraíso, com águas claras, se transformou em rios e mares contaminados, onde os pescadores não podem mais pescar”, relata.

Goyagoy ressalta a perda de identidade e dignidade que a atuação dessas transnacionais causam ao seu povo. “Necessitamos de um desenvolvimento que respeite as singularidades de cada local, que não será colocado por essas empresas,” pondera.

Congo

Com quase 10% das reservas de cobre do mundo e dois terços do depósito de cobalto, a República Democrática do Congo também sofre as consequências da voracidade das transnacionais do minério.

Este setor, que representa 74% das exportações do país, emprega informalmente 950 mil trabalhadores, que chegam a ganhar ate U$$ 1,00 por dia.

Modeste Ndongala, da União Nacional dos Trabalhadores do Congo (UNTC), destaca a relação de cumplicidade entre o Estado e as transnacionais, já que em diversos episódios foram enviadas forças nacionais para conter protestos nas áreas de mineração.

O lado escuro da Shell

“Acontecem mais de 4 mil derramamentos de petróleo por ano nas costas da Nigéria e eles dizem que não há efeitos nenhum em suas atividades”, denunciou Nnimmo Bassey, da FOE, ao relatar a atuação da empresa petroleira Shell no país africano.

Para o nigeriano, essas corporações não se preocupam com as pessoas e o meio ambiente e tampouco sofrem punições pelos seus males. Diante disso, Bassey destaca a utilização de indicadores para denunciar essas empresas e relembra a condenação sofrida pela empresa ao contaminar uma localidade no país africano.
Matéria de Luiz Felipe Albuquerque, de Túnis, Tunísia, publicada pelo Brasil de Fato