É possível que surjam experiências que não fortaleçam o capitalismo dentro do sistema capitalista? O que acontece quando o capitalista deixa de ser o proprietário da empresa e os próprios trabalhadores a assumem? Trata-se de uma mudança de mãos que não altera a lógica do próprio sistema capitalista?

Estas e outras perguntas são abordadas num estudo amplo, profundo e contundente no livro Fábricas Ocupadas e Controle Operário de Josiane Lombardi Vergano, ela mesma uma trabalhadora numa fábrica controlada por operários. Pressenza foi ao seu lançamento, realizado no ECLA – Espaço Cultural Latinoamericano, em São Paulo, no último dia 15 de Setembro.

Resultado da tese de doutorado em História da autora, o livro analisa as experiência de tais fábricas na Argentina e no Brasil. Veja a seguir um pequeno trecho:

“A experiência do controle operário e do controle social da produção, portanto, mesmo que isoladas, nascem das contradições do capital, mas também permitem captar melhor estas contradições e trazem em si um potencial para o desenvolvimento da ‘consciência necessária’ ao processo de ruptura com a concepção que apresenta o sistema capitalista enquanto forma única possível para organizar a sociedade e, portanto, de certo que contribuem para ruptura com a condição de subordinação dos trabalhadores(…)(*)”

Com a ótica marxista, o livro faz uma extensa análise do histórico das fábricas ocupadas por trabalhadoras, desde as experiências européias e russas, até chegar às experiências latino-americanas recentes. Em especial analisa a Argentina e o Brasil, centrando o estudo em quatro fábricas: a Zanon (Argentina), a Flaskô, Interfibra e Cipla (Brasil). Segundo a autora, estas fábricas tiveram uma proposta mais combativa e crítica inclusive das propostas dos respectivos governos.

A autora também explicita a situação do movimento sindical em ambos os países, colocando uma visão crítica dada a atitude sindical de (pouco) apoio ou sua total ausência quando se trata de fábricas ocupadas por trabalhadores.

Além do mais, procura colocar a questão do ponto de vista revolucionário, opondo-se à redução da questão em termos somente de geração de emprego e renda excluindo a dimensão política, como às vezes é colocada pelos que fundamentam a chamada Economia Solidária.

Feito com rigor acadêmico, é um livro de fôlego, uma produção importante não somente porque a autora vive a experiência que estuda, o que por si só já é raro em estudos acadêmicos . Mas também por ser feito no ambiente das ciências humanas brasileiro, carente de autores que complementem o campo da reflexão com o do ação. Uma contribuição valiosa para os marxistas em geral e para todos que procuram respostas além do capitalismo. Uma grande auxílio para que o leitor responda se essas experiências tem mesmo potencial para um horizonte além do arrogante sistema atual que se apresenta como único, repetindo todos os outros sistemas que a história humana já superou.

O livro é editado pelo Centro de Memória Operária e Popular – CMPO. Para mais informações entre em contato com: cemop@memoriaoperaria.org.br | 55 (19) 3832 8831 | Rua Marcos Dutra Pereira, nº 300 – Parque Bandeirantes – Sumaré SP – 13181-720

(*) página 52