As mulheres se uniram confiantes em todas as ações desenvolvidas pelos revoltosos: elas cantaram, recitaram poesias, puxaram gritos encorajadores, contrabandearam comida e medicamentos e cuidaram de manifestantes feridos.

Estas atitudes são nada usuais e até arriscadas, principalmente na tumultuada Praça Tahrir. Nos últimos anos, Cairo desenvolveu a reputação de cidade onde as mulheres eram sexualmente assediadas em qualquer concentração de pessoas.

**Blogueira**

Desta vez, a situação foi completamente diferente na Praça Tahrir. Pelo menos é o que conta Abir Suliman, blogueira e ativista conhecida que durante anos fez campanhas no Facebook (e fora dele) contra o assédio sexual.

*“Nenhum caso de assédio foi reportado em quase duas semanas de demonstrações e ocupações na Praça Tahrir”*, diz Abir. Ela ainda acrescentou: *“Eu não estou surpresa de ver que as mulheres foram tratadas com respeito por aqui. A juventude está inspirada pela esperança e pelo otimismo e isso provoca o melhor deles, ao contrário da repressão, negligência e corrupção que quase transforma as pessoas em animais selvagens”*.

**Furtos**

Um manifestante que estava passando e ouviu parte da nossa conversa acrescentou: *“não houve nem mesmo um caso de furto, é um milagre!”*.

Algumas centenas de mulheres se atreveram até a passar a noite com os manifestantes na Praça Tahrir, isso em uma sociedade que raramente permite que uma mulher saia durante a noite.

**Ataques**

Suad Abdulla, uma jovem de 26 anos, e algumas outras centenas de mulheres passaram a noite da última quarta-feira na Praça Tahrir, quando manifestantes pró-Mubarak, com o apoio de bandidos, atacaram o local, mataram 4 pessoas e feriram pelo menos 500. Suad tem orgulho por ter permanecido em Tahrir: *“Meu irmão mais velho também estava lá. Ele não ficou nada feliz com a minha decisão, mas deixou por minha conta”*.

Relembrando o que aconteceu naquela noite, Suad se arrepende um pouco pela presença de todas aquelas mulheres no momento do ataque. *“Um grande número de homens não puderam ajudar a expulsar os bandidos porque tiveram que proteger as mulheres”*.

**Momento de triunfo**

No final da nossa conversa, a blogueira Abir Suliman é bem realista. *“Eu não estou afirmando que o assédio sexual e o comportamento inapropriado em relação às mulheres estão enterrados e pertencem ao passado. Mas todos nós vivemos e aprendemos, em um momento de triunfo, como devemos nos tratar com respeito e dignidade. Tudo isso não vai desaparecer de uma vez, mas hoje nós somos um pouquinho melhores do que éramos há três semanas. E eu tenho orgulho disso”*.