Sinto como se estivesse deixando um trabalho inacabado. Deve ser este o sentimento de centenas de milhares de egípcios que vêm protestando, sem cansar, há mais de 15 dias, pedindo a renúncia do presidente Mubarak.

**Ganhando tempo**
Até agora, esse objetivo não parece possível. O governo está ficando cada vez mais confiante ao lidar com a crise e está ganhando tempo, com concessões e medidas cuidadosamente calculadas.
No restante do grande Cairo, a vida voltou quase completamente ao normal, salvo entre as 18h e as 6 da manhã, o tempo em que a maioria dos egípcios fica, como que hipnotizada, em frente à televisão, raramente assistindo aos canais nacionais.

**Irreversível**
No entanto, mesmo se Mubarak e seu grupo ainda conseguem se equilibrar no poder, o Egito já mudou, de maneira irreversível.

As três ferramentas de controle mais importantes de controle, comando e repressão, meios de comunicação, polícia e o Partido Nacional Democrático, foram agora desmoralizados.

**Canais de TV**
Os meios de comunicação do governo, em particular as televisões, perderam toda a credibilidade e a integridade com a filtragem de notícias e com a tentativa de ignorar a revolução que estava diante dos olhos de todos. Por algum tempo, a mídia do governo retratou os manifestantes como um punhado de jovens inocentes influenciados pela Irmandade Muçulmana, Hamas, Irã e Israel.

A legendária influência da mídia no interior do país e no restante do mundo árabe começou a se desfazer há muito tempo, graças aos novos canais via satélite dos pequenos, porém ricos, países. Mas o desempenho das mídias do governo durante a crise chegou quase a alienar o seu público.

**Caos**
Outras duas grandes perdas para o Estado egípcio foram a polícia e a organização de segurança do estado, que literalmente fugiram à luta e permitiram o caos, roubando, provocando incêndios, e até mesmo fazendo parte da confusão, segundo muitos observadores egípcios.

Essas organizações vão precisar de muito tempo e recursos para serem reorganizadas e reabilitadas para resumir suas tarefas legais e não podem ser mais as organizações brutais, que causaram tantas humilhações ao povo egípcio em todo este tempo.

**Bandidos a cavalo**
Do Partido Nacional Democrático e do presidente Mubarak, o único que os egípcios vão lembrar, após essas duas semanas, será que eles conseguiram contratar bandidos montados em camelos e cavalos para atacar os manifestantes.

Isto pode ser adicionado à reputação de corrupção, nepotismo e abuso de poder. Muito poucos vão sentir falta desse governo se a situação se encaminhar para uma solução semelhante ao que aconteceu na Tunísia.

Apesar de eu realmente não saber como esta situação vai terminar, algo está muito claro: a juventude no Cairo pode perceber que muitos dos seus objetivos já foram atendidos.

*Por Mohammed Abdulrahman*