Esse anúncio põe fim aos muitos dias de aparente disputa interna entre o exército e os remanescentes do establishment.

Mubarak gostaria de ficar no poder, pelo menos simbolicamente, após ter delegado o poder para o general Suleiman.
O exército foi contra essa solução, que ficou claro na primeira reunião que o Conselho Supremo das Forças Armadas realizou em três décadas, e que aconteceu nessa quinta-feira, sem a presença de Mubarak e Suleiman. Após quatro dias de manobras e contornos, a opinião do exército conseguiu prevalecer, o que frustrou a tentativa de Suleiman em manter Mubarak como presidente.

**Regime militar**
Agora que todo o poder será transferido aos militares, as primeiras questões são quando e como o exército irá devolver o poder a um governo civil eleito democraticamente. A experiência no Oriente Médio é que o exército toma o poder por um suposto período de tempo limitado e permanece eternamente. O exército egípcio disfruta do apoio total dos manifestantes e sempre foi considerado como uma alternativa sensata para o período transitório.

Mas o Egito não é, de fato, uma república de bananas e a situação é complicada para que o exército tente ficar mais tempo do que o necessário no poder. Especialmente após o que testemunhamos nas ruas de Cairo por pelo menos três semanas. Milhares de comentaristas apareceram na TV até agora e nenhum deles disse que o processo indicasse o retorno da era dos golpes militares na região.

**Mudança real?**
Acabar com um regime isolado, corrupto e autoritário em um país importante como o Egito é uma grande mudança. Mas o legado de Mubarak e de seus dois antecessores é impressionante. Com certeza, ainda vai demorar para que os frutos da mudança cheguem a todos os egípcios.

De qualquer forma, veremos o impacto imediato se o governo militar conseguir convocar rapidamente eleições livres e justas e mostrar um genuíno respeito pelos direitos humanos. Outra prioridade para as novas lideranças é se esforçar seriamente para conter a corrupção generalizada que danifica a economia, o que não é uma tarefa fácil.

A comunidade internacional também irá opinar sobre o futuro do país porque esse desempenha um papel essencial no processo de paz na região.

Enquanto isso, milhares de pessoas se reúnem nas ruas do Cairo e de todas as cidades egípcias para discutir sobre a saída de Mubarak. Se você perguntar para eles se a mudança é para pior ou para melhor, eles simplesmente darão de ombros e continuarão festejando.