*”Fora Mubarak”*, gritavam os manifestantes na Praça Tahrir (Praça da Libertação), epicentro da revolta contra o regime. Muitos exibiam cartazes com a imagem de Mubarak pendurado e a frase: *”Sua cabeça vai rolar”*.

*”A bola está do lado dos europeus e americanos. Não queremos nada deles, mas também não queremos que ajudem Mubarak”*, afirmou à AFP o manifestante Usama Alam, de 43 anos.

Helicópteros militares sobrevoavam a cidade, e os soldados mobilizados na capital desde sexta-feira controlavam os pontos de acesso.

Mas o Exército – um dos pilares, ao lado da polícia, do regime autoritário – destacou na segunda-feira que considera legítimas as reivindicações do povo e anunciou que não usará a violência contra os manifestantes.

*”A liberdade de expressão de forma pacífica está garantida para todos”*, afirmou o porta-voz do Exército.

Quase 50 Organizações Não Governamentais (ONGs) egípcias de defesa dos direitos humanos pediram a Mubarak *”que se retire do poder para evitar um banho de sangue”*.

Mubarak, 82 anos, no poder desde 1981, esboçou nos últimos dias gestos de abertura, mas não conseguiu aplacar os protestos que deixaram pelo menos 125 mortos e milhares de feridos desde a terça-feira da semana passada.

Os organizadores dos protestos também convocaram uma greve geral, iniciada na segunda-feira, em um país já paralisado, com a Bolsa e os bancos fechados, os postos de gasolina sem combustíveis e os caixas automáticos vazios.

Uma passeata similar à do Cairo foi convocada em Alexandria, norte do país, como resposta à decisão das autoridades de interromper o tráfego ferroviário.

A rebelião reúne forças políticas de todos os espectros, da oposição laica à islâmica, passando por uma rede de internautas que iniciou o movimento.

O vice-presidente Omar Suleiman, designado para o cargo no fim de semana em um ato de aparente concessão do governo, anunciou na segunda-feira que Mubarak pediu o início de um diálogo com a oposição.

*”O presidente me encarregou de iniciar contatos imediatos com todas as forças políticas para um diálogo sobre todas as questões ligadas à reforma constitucional e legislativa”*, afirmou Suleiman.

O Egito, o mais populoso dos países árabes (80 milhões de habitantes), é um aliado do Ocidente na região e administra o Canal de Suez, essencial para o abastecimento de petróleo dos países desenvolvidos.

Além disso, o Egito é um dos dois países árabes (o outro é a Jordânia) que assinou um tratado de paz com Israel.

Por todos estes fatores, o desfecho da crise gera ansiedade em todo o mundo.

A Casa Branca pediu calma na segunda-feira e se disse satisfeita com a *”moderação”* exibida pelas forças de segurança egípicias.

O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Musa, ex-ministro egípcio das Relações Exteriores, pediu uma *”transição pacífica”*.

A União Europeia (UE) defendeu eleições *”livres e justas”* no país.

Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mencionou o fantasma de um regime ao estilo iraniano, caso, aproveitando o caos, *”um movimento islamita organizado assuma o controle do Estado”*.

O chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, aproveitou a oportunidade para afirmar que a rebelião no Egito vai ajudar a criar um *”Oriente Médio islâmico”*.

*”Pelo que sei a respeito do grande povo revolucionário do Egito, que está fazendo história, tenho certeza de que vai desempenhar um papel na criação de um Oriente Médio islâmico, para todos os que buscam liberdade, justiça e independência”*, declarou Salehi, segundo o portal da televisão estatal iraniana.

A Irmandade Muçulmana, o grupo de oposição mais influente no Egito, pediu o prosseguimento das manifestações até a queda do regime de Mubarak.

As autoridades tentam limitar os deslocamentos da população e obstruir ao máximo os contatos dos organizadores dos protestos.

Na segunda-feira, os trens deixaram de funcionar e o último provedor de internet egípcio em funcionamento, o Grupo Noor, parou de operar, o que deixou o país sem acesso à rede.

Em resposta ao bloqueio à internet, a Google anunciou a criação de uma forma de acesso ao Twitter pelo telefone.

O barril de petróleo é negociado desde segunda-feira por mais de 100 dólares, pela primeira vez em dois anos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), por sua vez, anunciou que está disposto a ajudar o Egito a reconstruir sua economia.

*”O FMI está disposto a ajudar a conceber o tipo de política econômica que poderia ser aplicada no Egito”*, disse Dominique Strauss-Kahn, diretor geral da instituição.