É verdade que em sua passagem não se fecharam fábricas de armas, as bombas continuam ameaçando a vida no mundo inteiro e esse sistema cruel e desumano continua vigente. Sejamos claros: a situação atual nos horroriza, mas não se pretendia com a Marcha mudar o estado atual das coisas nem organizar nada… Mas algo mudou. Deu-se um sinal e vai se criando consciência. O tempo dirá se foi um sinal fraco ou poderoso, mas o que sabemos e não duvidamos é que foi o sinal correto, necessário, urgente e valente.

E, para ser historicamente preciso, durante esse percurso, na realidade o que foi proposto vem sendo dito desde a origem do Movimento Humanista: a Paz e a Não Violência sempre foram temas de preocupação central para nós.

Tive a oportunidade de marchar e ver o contraste do mundo de hoje: vi com dor, com horror, um muro violento que separa os Estados Unidos da América Latina, cruzando Tijuana e acolhendo os sinais que lembram os 5 mil desesperados que morreram na tentativa de cruzá-lo.

Mas vi também os povos maias e quechuas madrugarem para receber com suas bençãos os caminhantes. Vi à meia noite, em Esquipulas, como ergueram um monumento à Paz e à Não-Violência, con 22 pares de pernas de crianças, de homens e mulheres, destruindo e desmantelando pistolas e rifles com sua vontade de paz. Vi muita gente boa que sonha com um mundo melhor. E a marcha das melhores aspirações humanas que construirão o mundo do futuro.

Nesta mesma paisagem inspiradora, há 40 anos, Silo comecou a nos entregar seus ensinamentos para superar a dor e o sofrimento em nós e em nossos povos. Guiados por suas palavras, desenvolvemos o Movimento Humanista.

Mas o Movimento Humanista também experimentou a crise do momento atual e necessita se renovar para ser uma ferramenta útil para as grandes transformações que vivemos.

Faremos isso a partir de amanhã.

Demos o sinal. Agora é o momento de dar continuidade e crescimento. E isso requer organização – uma palavrinha antipática, que não nos agrada muito, mas se queremos continuidade, necessitamos crescer, e se queremos crescer necessitaremos nos organizar. Organizamo-nos, porque senão, tudo se dilui e terminada em nada. Necessitaremos estruturas flexíveis, que possam se adaptar rapidamente a um mundo muito mutante.

A partir de amanhã, começamos entre todos os que estamos aqui, junto com os amigos que continuam esses diálogos nos diversos Parques de Estudo e Reflexão, os encontros e intercâmbios para impulsionar os 5 organismos do Movimento Humanista.

A Comunidade (para o desenvolvimento humano) que estuda, desenvolve e difunde a instalação de uma nova cultura baseada na não violência e que será o correlato de uma configuração de consciência avançada na qual todo tipo de violência provoque repugnância.

O Partido Humanista dedicado a modificar as estruturas políticas para alcançar uma verdadeira democracia, destacando a violência econômica, especialmente a que se deve à concentração do capital financeiro especulador, como causa do sofrimento dos povos e apontando a estabelecer uma relação justa entre o Capital e o Trabalho.

A Convergência das Culturas que busca o diálogo entre a diversidade das culturas e o encontro entre elas em seus momentos de maior grandeza, quando conseguem respeitar o ser humano sobre qualquer outra verdade.

O Centro Mundial de Estudos Humanistas que promove o desenvolvimento de um pensamento relacional e um método estrutural no campo das ciências, buscando o bom conhecimento para que a ciência esteja em prol do ser humano e nunca para sua destruição.

O Mundo sem Guerras e sem Violência que é a organização que coordenou a Marcha Mundial e nos trouxe até aqui, e continuará com sua ação até eliminar as guerras e a violência da face da Terra.

Esses 5 organismos são o meio e o modo que dispomos para levar ao mundo nosso projeto humanizador. E aqueles que coloquem em marcha e atuem em cada organismo são os que decidirão o modo de atuar.

Aproveitemos esses dias de encontro com amigos provenientes de diversas latitudes para perguntarmo-nos que tipos de organismos queremos, como será o espírito que os animará, o que projetaremos com eles para o mundo e qual é o melhor modo de impulsioná-los em cada lugar onde nos encontremos.

Amigos, a tarde está chegando ao fim e este lugar tão inspirador que nos acolhe nos presenteia com toda sua beleza. Vamos. Vamos nos encontrar com cada um que queira ajudar nesta maravilhosa tarefa de Humanizar a Terra. E logo, em poucos dias mais, voltaremos a nossos lugares com a fronte e as mãos luminosas.

Compartilho com cada um o desejo de Paz, Força e Alegria.