Caio Maniero D’Auria foi o primeiro brasileiro a conseguir dispensa do serviço militar obrigatório por alegar razões políticas e filosóficas.

Desde pequeno Caio é contra o uso de armas. Em 2003, à época de se apresentar ao exército, decidiu que encontraria uma forma de não ter que comprometer-se com uma causa pela qual não acredita: “Amo a vida e não a ponho em segundo plano perante a Pátria ou o Exército, cuja existência para mim não se justifica sob hipótese alguma. A vida das pessoas está acima dos exércitos das nações”, explica o jovem de 22 anos.

Caio teve que batalhar quase cinco anos para conseguir sua merecida Dispensa do Serviço Alternativo. Sua vitória começou a se delinear quando entrou em contato com os participantes do Movimento Humanista, promovedores da Marcha Mundial pela Paz e pela Não Violência, que possuem as mesmas convicções ideológicas que o jovem: “Pregamos a não violência e somos contra o serviço militar obrigatório”, diz Paulo Genovese, coordenador do grupo, que faz reuniões semanais em que se discutem formas de combate à violência e às armas.

Segundo Genovese, a solicitação de Caio já “é um dispositivo da Constituição, faltava só a regulamentação. Levou praticamente 20 anos para que acontecesse a efetivação desse direito”.

O direito a que se refere Genovese é o expresso pelo o artigo 143 da Constituição Brasileira, que afirma que as Forças Armadas devem atribuir serviço alternativo às pessoas que alegarem imperativo de consciência por crença religiosa e convicção filosófica ou política. Apesar disso, antes de Caio, só eram permitidas as dispensas por motivos religiosos.

Com o respaldo dos humanistas, Caio forneceu à Junta Militar os argumentos que revelavam as incompatibilidades do movimento com o serviço militar: destacou que os humanistas colocam “o ser humano como valor central”, enquanto os militares devem defender a pátria “mesmo com o sacrifício da própria vida”. E que o “repúdio à violência” é incompatível com o “amor à profissão das armas”.

Quatro anos e oito meses após se alistar, Caio finalmente conseguiu seu Certificado de Dispensa do Serviço Alternativo. Sua expectativa é de que outros jovens que sejam contra o alistamento obrigatório por crenças humanitárias e não violentas possam ser beneficiados por sua iniciativa: “Nós, do Movimento Humanista, estamos nos pondo contra esse recrutamento forçado que é o serviço militar. Acredito com toda a minha convicção que vamos conseguir com que milhares de jovens sejam dispensados”, conclui.