Todos concordam que qualquer mexidinha na casa provavelmente será com muita dor de cabeça, idas e vindas. Depois de tudo, quando pensamos que acabou, quando o agora é curtir o feito e descansar, descobrimos que falta o entulho acumulado no quintal ou na frente da casa. O que fazer?
Para benefício do Ambiente, existem leis e procedimentos para se “livrar” do entulho. De nada adianta, nem é permitido, jogar entulho em um terreno qualquer ou dentro de rios e etc. Pode ter certeza de que a conta um dia virá, e quando chegar, os problemas serão maiores do que os já passados durante a “reforma”. De novo, o que fazer?
Basta fazer o óbvio. Seguir os procedimentos corretos, investir mais um dinheirinho, para depois sim… sentar na poltrona abrir uma garrafa, relaxar e chamar os amigos e amigas para a comemoração verdadeira. Não que a primeira, do fim da obra, não fosse merecida ou justa. Foi, e foi com direito àquele suspiro de alívio.
E o que tem haver a obra com a esperadíssima prisão daquela coisa geradora de entulhos, o Bolsonaro? Tudo!
O entulho de sua prisão é infinitamente maior do que todo o processo de sua prisão. A diferença é que não existem leis para procedimento da retirada do entulho bolsonarista, o que existe é vontade, desejo de justiça social, coerência e ética. Elementos não normalizados na escrita da Lei. Elementos que devem ser construídos no seio da população, ombro a ombro, olho no olho com muita paciência e companheirismo. Situação que o sistema conseguiu meio que destruir, normalizando o individualismo, a competição e o querer levar vantagem em tudo, como dizia o jogador Gerson.
Abrimos mão destes elementos e a conta, quando chegou, destruiu todo um trabalho iniciado décadas antes. Abrimos mão de nossa história junto as comunidades eclesiásticas de base, da luta de Paulo Freire a favor da alfabetização, da organização popular, das ações sindicais e educacionais. Abrimos mão em nome do pragmatismo eleitoral, da institucionalização da luta. Abrimos mão das ruas, pelas salas acarpetadas e com ar condicionado, lembrando Betinho, também esquecido, “a cabeça pensa onde o pé pisa”. Sequer prestamos atenção ao que aconteceu em 2013, mas o leite já havia derramado.
Ah! O mundo mudou, as tecnologias estão aí. Que bom que estão, Marx e Keynes, entre outros, apostavam nas tecnologias como possibilidade de uma vida melhor para os trabalhadores. Keynes em 1930 apostava que em 2030, a nossa única preocupação seria como gastar o nosso dinheiro em nosso tempo livre. Suas propostas não foram aceitas, e depois da queda do muro de Berlin… nem tempo, nem dinheiro. Assistimos o fim do “walfere state”, do Estado de bem-estar social. O Financeiro toma o lugar da Produção e a desigualdade torna-se a mais crua realidade.
De novo o que fazer? Como na Segunda Guerra Mundial, existia a “Resistência” e sua luta contra o estabelecido. Também temos a nossa “Resistência” e devemos organizá-la e expandi-la por esse país a fora. Temos a felicidade de termos presente neste país uma das melhores e maiores organização de trabalhadores, o MST. Movimento que prima pela formação política e educacional de seus militantes. A cada nova ocupação, a escola é uma das primeiras estruturas montadas. Nós, por outro lado, abrimos mãos de nossas organizações políticas e de estar junto nas organizações populares, seja participando e/ou fomentando suas existências e atuações. Devemos repensar e retomar este trabalho em nossas estâncias de atuação. Voltarmos a ter presença, a estar junto da população, discutindo nossas vidas e afazeres para melhora-las.
O companheiro Lula, como todos nós, começa a sentir o corpo cansado, e por mais que tenha uma mente brilhante, o corpo dói, a idade pesa. E nós, ao nos afastarmos da luta nas ruas, sobrecarregamos uma das melhores mentes deste mundo. Passa da hora de darmos ao companheiro, não uma aposentadoria, porque sabemos que não faz parte dele parar. Mas, podemos dar as condições para que ele ainda dê muito trabalho a essa corja de bandidos, “idiotas”, segundo os gregos. Lembro da época em que discutíamos acirradamente se atuaríamos na linha da Teoria, Prática e Teoria ou Prática, Teoria e Prática. Bons tempos em que não saíamos das ruas.
Há braços,
Sérgio Mesquita







