O cachorro e o rabo

                                                    Por Sérgio Mesquita

Já que vai ser cachorro, seja um cachorro de um grande dono.

Provérbio japonês

Tentando fugir da máxima – a esquerda só se reúne na cadeia, recorro aos melhores e leais amigos da humanidade: os cachorros e as cachorras. Em especial, a imagem de suas corridas atrás do próprio rabo. Dizem que o fazem por brincadeira ou problemas. Como o assunto aqui é um pouco sério, vou ignorar o lado brincante.

Estamos amargando, desde a primeira eleição do Lula em 2002, ataques sistemáticos da direita, que até então poderíamos colocar como normais, da luta. Essa é a nossa história desde de quando o Brasil foi invadido. Mas neste início de século XXI, a partir de 2005, a coisa passou a ser instrumentalizada e planejada. Sempre afirmei que o golpe começou em 2005, com a farsa do “mensalão” capitaneada pelo Barbosa no STF, depois com a nova farsa da Lava Jato com o “juizeco” Moro, que levou ao “impeachment” da Dilma, seguido da prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro em 2018. Foram uns 20 anos que andamos comendo o “pão que o diabo amassou”.

Longe da bonança, com a ajuda da total falta de cognição de nossa oposição, e principalmente, pela mudança de nossa postura em relação a comunicação e ao embate político, antes tímido e agora aberto e incisivo, começamos a sair do fundo do poço. Com novas energias e propensões ao debate e a disputa ideológica, um tanto quanto abandonada até então. Lula melhora os índices, a população começa a conhecer o lado verdadeiro da moeda e a repensar suas atitudes. Melhor, aquela população mais militante do campo à esquerda, independente de partido, volta a ser aguerrida.

E o cachorro?

E justamente neste período, de reorganização das forças à esquerda, dois grandes da mídia alternativa – não me interessa quem começou, ou se tem certo ou errado, e muito menos os julgo pessoalmente – discutem publicamente sobre quem é mais ou menos honesto. Uma discussão de caráter pessoal, não sobre os conteúdo de suas matérias. Não seria melhor, estarmos discutindo qual a nossa prioridade (no singular), para termos uma sociedade mais próspera, menos desigual? Não é hora de deixarmos de pensar em “nosso rabo” e pensar no rabo de todos, na busca de mais harmonia, cooperação e solidariedade contra o fascismo?

Sem ufanismo, se o Brasil cair, cai a América Latina inteira.

Há braços.