Este artigo faz parte da série “5o anos depois: VIVA a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS!” que a PRESSENZA está a publicar desde meados de Março 2024.
A “Revolução dos Cravos” 1974-75 trouxe aos portugueses a liberdade após 48 anos de fascismo, e às colónias portuguesas de África a independência após 500 anos de domínio imperial.

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O partido socialista (o PS) esteve 9 anos no governo em Portugal, os sete primeiros dos quais em coligação parlamentar com pequenos partidos de esquerda e, nos últimos dois anos, até com maioria absoluta.
Em Novembro do ano passado, o presidente da República (liberal-conservador), depôs o primeiro ministro socialista, António Costa, com base num alegado caso de corrupção não comprovada, e apressou-se a dissolver a Assembleia Nacional e a convocar novas eleições para ontem, dia 10 de Março de 2024, desejoso de passar a pasta a um governo mais próximo das suas simpatias políticas…

Os resultado foram os seguintes (dados desta manhã, ainda não definitivos):

  • A conservadora Aliança Democrática (a AD) foi o partido mais votado com 29,5% (e 79 deputados),
  • mas com pouca diferença em relação ao PS, que obteve 28,7% (e 77 deputados).
  • No entanto, o terceiro partido mais votado é claramente da extrema-direita (o CHEGA) com cerca de 18,1% de votos (e 48 deputados).

A Assembleia Nacional tem 230 deputados no total. Para obter uma maioria, são portanto necessários pelo menos 116 deputados.

Conclusões destas eleições:

  1. Nenhum partido conseguiu a maioria absoluta;
  2. Os socialistas do PS não podem nunca arranjar uma maioria à esquerda;
  3. Os conservadores da AD só conseguirão obter uma maioria no Parlamento se fizerem uma coligação com a extrema-direita do CHEGA;
  4. Pela primeira vez em Portugal desde a queda do fascismo em 1974, parece chegar-se ao fim do bipartidarismo, entrando a extrema-direita em grande na corrida, como em muitos outros estados europeus;
  5. Os outros 4 partidos mais importantes, têm um peso relativamente baixo, e não-decisivo nestas eleições.
    São eles a Iniciativa Liberal (IL) e os 3 partidos à esquerda dos socialistas: o Bloco de Esquerda (BE), a aliança dos comunistas (CDU), e o partido Livre (L).

Quo Vadis Portugal?

Como a AD, antes das eleições, prometeu que não faria uma coligação com a extrema-direita do CHEGA, Portugal encontra-se assim num impasse político. Os cenários mais prováveis parecem ser: ou a constituição de um governo minoritário conservador da AD, que se apoiará em maiorias parlamentares variáveis; ou mesmo a realização de novas eleições.

O espantalho da imigração é o principal cavalo-de-batalha do partido CHEGA, como aliás um pouco por todo o mundo quando se trata de ganhar votos de forma fácil. Nos últimos tempos, tem-se registado uma forte corrente migratória vinda do Brasil.

A economia de Portugal vai relativamente bem, cresce atualmente cerca de 2%, e o país precisa de imigrantes para manter o seu nível de vida e responder ao crescendo sobretudo do turismo. Também se regista uma forte imigração de muitos jovens “nómadas digitais” que gostam da qualidade de vida de Portugal e que trabalham em firmas internacionais que dão bom rendimento. Essa imigração “rica” de fora, aumenta a inflação interna, contribuindo assim também para “espantar” ainda mais uma parte dos jovens portugueses que trabalham precariamente em empregos menos “rentáveis”.

Isso explica em parte que, ao mesmo tempo, cresça a emigração de uma boa parte da juventude (há quem avance o número de cerca de 1/3!), maioritariamente de jovens bem qualificados, para outros países sobretudo da Europa, à procura de melhores salários e melhores condições de trabalho e de vida. O salário mínimo em Portugal anda à volta de 800€, a maioria da população ganha cerca de metade do que a média europeia, mas o custo de vida é tão alto como lá fora, e as rendas de casa (sobretudo nas cidades) é até superior! Além disso, Portugal continua a sofrer com a corrupção das suas elites.