Este artigo faz parte da série “5o anos depois: VIVA a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS!” que a PRESSENZA está a publicar desde meados de Março 2024.
“Revolução dos Cravos” 1974-75 trouxe aos portugueses a liberdade após 48 anos de fascismo, e às colónias portuguesas de África a independência após 500 anos de domínio imperial.

Aqui podem ser lidos todos os artigos desta série publicados até hoje!


A partir de hoje, com esta publicação, a PRESSENZA inicia uma série de artigos sobre a “Revolução dos Cravos” em Portugal há 50 anos. A maioria desses artigos será publicada nos meses de Março e Abril.

No dia 25 de Abril de 1974 houve em Portugal um golpe de Estado por parte de largas centenas de militares portugueses, organizados no chamado MFA (Movimento das Forças Armadas), que quiseram depor a ditadura fascista em Portugal e devolver a liberdade ao povo português. Foi nesse dia que, espontaneamente, se deu início à chamada “Revolução dos Cravos”, a qual obteve esse nome porque toda a gente punha cravos — a flor da época – nas lapelas dos casacos e nos fuzis vazios dos soldados, sinal de paz, felicidade e esperança.

Mas, tão ou mais importante ainda do que a reconquista da liberdade para o povo português, foi o facto de o MFA ter dado a independência às colónias portuguesas em África (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe). Estas foram as últimas colónias portuguesas e, com o fim do colonialismo português, terminou também o colonialismo europeu – pelo menos na sua forma clássica (por ocupação dos territórios e domínio completo sobre as populações).
A independência das colónias foi, assim, talvez o motivo principal que levou os militares a deporem o regime fascista, que os obrigava a lutar em três colónias ao mesmo tempo (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau) contra os respetivos movimentos de independência, até aí denominados de “terroristas”… Nos últimos anos, Portugal estava a perder essas guerras, que gastavam já cerca de metade do orçamento do Estado português. Dar a independência às colónias, não foi, portanto, um ato de benevolência, mas sim uma forma de reconhecer as realidades…

Em Portugal, desde o primeiro dia do golpe de Estado, a população portuguesa não ficou em casa com medo, mas veio logo para a rua festejar o fim do fascismo e a liberdade, agradecer aos militares e lutar por mais liberdades. Muitos empresários fugiram do país como medo de perderem os seus bens para um novo regime socialista, deixando assim as suas empresas ou propriedades ao abandono. Daí que o povo tenha começado a ocupar fábricas e quintas em regime de autogestão, para poderem sobreviver. Os sindicatos, finalmente livres também, reivindicavam melhores salários e condições de trabalho. Os professores gozaram de uma liberdade e criatividade sem paralelo até hoje. Todos esses movimentos de base constituíram essa “Revolução dos Cravos”, que durou de 25 Abril de 1974 até 25 de Novembro de 1975, data à qual um golpe militar de tendência moderada-conservadora destituiu os representantes mais esquerdistas dentro do MFA e abriu o caminho para Portugal entrar na via capitalista da maior parte dos países europeus ocidentais…

A Revolução dos Cravos foi, portanto, um tempo romântico em que se levaram à prática ideias novas, se realizaram utopias mesmo que por um tempo limitado, e isso em todos os campos: na autogestão da economia e do ensino, na emancipação da mulher, numa enorme criatividade da cultura, na liberdade total da imprensa e dos meios de comunicação (muito maior do que atualmente), numa forte solidariedade internacional, etc. E, como “ouro em cima do azul”, foi uma Revolução praticamente sem mortos, pacífica, que também por isso foi admirada por muitos revolucionários doutros países!
Nós nunca esqueceremos essas experiências e, mesmo que tenha sido uma Revolução abortada ao fim de 1,5 anos, muitas das suas conquistas foram conservadas, sobretudo nos campos da democracia política e das liberdades individuais. Mas a luta por uma verdadeira justiça social e por iguais direitos para todos os portugueses, essa terá ainda de continuar … sempre inspirada na Revolução dos Cravos!


Grândola, Vila Morena”, uma canção popular de solidariedade escrita em 1964 pelo grande cantor e compositor português José Afonso em homenagem à cidade de Grândola no Alentejo/Portugal, foi escolhida pelo MFA como a derradeira “luz verde” que início ao golpe de Estado do 25 de Abril, quando foi tocada na Rádio Renascença às 0:20 horas do mesmo dia. Desde aí, tornou-se no hino da Revolução para todos os portugueses!

Grândola, vila morena

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

 

Mural ao 25 de Abril de 1974 e a José Afonso na cidade de Grândola (Foto da PRESSENZA)