Posicionamento de expressões do Novo Humanismo atuantes no Brasil, diante do atual contexto de guerras e da cultura de violência

[O presente texto tem como foco central o posicionamento pela paz mundial e contrário ao uso da violência como forma de resolução de conflitos. Reconhecemos e recomendamos a necessidade de um maior aprofundamento das questões históricas, culturais e da atual geopolítica, para uma melhor compreensão das questões abordadas neste documento.]

Os conflitos entre os povos e as nações são milenares. Porém, o problema não é o conflito entre indivíduos, povos e Estados. O conflito de interesses ou de diferentes visões de mundo é inerente à sociedade e à diversidade humana, seja nas relações pessoais, interpessoais, sociais e entre nações. Na raiz desses conflitos está a violência, e a violência não será o meio de resolvê-los.

Com o crescimento do alcance das mídias e com o advento da internet, o que se pode presenciar na maior parte do tempo são notícias com cenas de sequestro, morte, dor, sofrimento, vingança, bombardeio e massacre. Para além da mera exposição destes fatos, existe também a distorção dos mesmos, decorrente da disputa de versões e narrativas dos acontecimentos, favorecendo a versão dos mais poderosos e os interesses do grande capital.

Tal grau de violência extrema torna difícil para a consciência integrar e imaginar, muitas vezes, saídas para esses grupos humanos em conflito – e para a própria história humana, tantas vezes trágica e desconcertante.

Muitos grupos, partidos, entidades e pessoas tentaram, então, entender e dar seu ponto de vista sobre os acontecimentos. E, assim, também nós, humanistas, queremos expressar nosso entendimento e possíveis encaminhamentos.

Há algo que está no núcleo de toda a violência que existe e que se expressa de tantas formas: a naturalização da violência e a falta de compreensão de sua origem. Se não formos à raiz do problema, as soluções serão paliativas.

Nesse sentido, entendemos que a divisão interna do indivíduo e a incoerência levam à violência. Essa contradição produz ressentimento, o qual se expressa como imposições, forçamentos e o desejo de aniquilar o outro.

Além disso, as crenças que perpetuam a noção de religião, estado, pátria ou grupo étnico voltadas à negação do outro, anulam a existência da humanidade em si mesmo e nos outros, e levam ao mundo destruição permanente. O ser humano, colocado à mercê de tudo isso, fica preso a um ciclo sem fim.

Todos carregamos em nós a violência e a reproduzimos; mas, quando parte do Estado, ela pode se tornar um projeto estruturado, que lança sua sombra de morte onde toca, porque é ampliada enormemente pelo poder político e econômico.

A história recente da humanidade demonstrou os horrores das duas grandes guerras mundiais, a irracionalidade dos atos de terrorismo de grupos armados e a sistemática violência das grandes potências imperialistas – as quais, historicamente, geram e alimentam conflitos armados no continente africano e no oriente médio – para citar alguns exemplos.

Para além das questões históricas e culturais dos atuais conflitos em maior evidência – as guerras entre Rússia e Ucrânia (conflito da OTAN) e entre Israel e o Hamas – sempre estão os objetivos econômicos do grande capital internacional e do complexo militar industrial, formando assim uma verdadeira “indústria das guerras”. Essa “indústria das guerras” se apoia na cultura da violência como meio cultural e institucionalmente “aceitável”, para a resolução de conflitos internacionais.

Nas guerras, as populações são as mais prejudicadas, enquanto que os representantes dos governos – que estão à frente das decisões – estão afastados das consequências da guerra no dia a dia, e se guiam pelos cálculos de aumento de poder e dinheiro.

Dessa forma, com olhar colocado nas pessoas e na nossa aspiração de uma Nação Humana Universal, propomos, de forma imediata:

  • Priorizar o cessar fogo imediato, na perspectiva do fim da guerra;
  • Realizar o atendimento humanitário à população da faixa de Gaza;
  • Libertar os reféns israelenses e os prisioneiros políticos palestinos;
  • Acatar as resoluções da ONU em sua totalidade, com a criação do Estado Palestino

Os diversos governos podem ter um papel essencial na pressão pelo fim das guerras, realizando desinvestimentos e sanções.

As pessoas, organizações e instituições podem colaborar com os boicotes participando de debates e manifestações, se posicionando nas redes sociais, na mídia e na praça pública, e utilizando todas as formas de resistência não violenta.

Nós, humanistas, acreditamos e trabalhamos pela paz mundial há muito tempo, procurando praticar a resistência justa, com a metodologia da Não-Violência Ativa contra toda forma de discriminação, opressão e violência; colocando sempre o ser humano como valor e preocupação central.

Desde nossas origens, em 1969, na América do Sul, denunciamos as várias formas de violência: física, econômica, étnica/racial, religiosa, sexual, de gênero, institucional, psicológica e moral.

Nessa perspectiva humanizadora, realizamos a histórica 1ª Marcha Mundial pela Paz e pela Não-Violência (2009/2010), impulsionada pela organização Mundo Sem Guerras e Sem Violência, em conjunto com outros organismos do Movimento Humanista, comunidades da Mensagem de Silo, centenas de organizações, movimentos sociais e milhares de pessoas de diferentes culturas e latitudes. Essa primeira Marcha Mundial tinha a aspiração de Criar Consciência de Paz e de Não-Violência e objetivos específicos bem definidos que ainda hoje são necessários:

  • O desarmamento nuclear em nível mundial;
  • A retirada imediata das tropas invasoras;
  • A devolução dos territórios ocupados;
  • A redução progressiva e proporcional do armamento convencional;
  • A assinatura de tratados de não agressão entre países;
  • A renúncia dos governos a utilizar as guerras como meio para resolver conflitos.

Estes objetivos ainda não foram alcançados; porém, a intenção foi lançada com muita força e o movimento pelo fim das guerras como meio de resolver conflitos continua cada vez mais necessário e urgente.

Criar consciência de paz e não-violência também é trabalhar sistematicamente pela desconstrução da cultura de violência, a qual se manifesta histórica e cotidianamente de várias formas: na desigualdade econômica, na violação dos Direitos Humanos, na cultura do machismo, nos casos de feminicídio, na homofobia, no racismo estrutural, na violação dos direitos dos povos originários, na violência institucional do Estado e na violência urbana provocada pelas polícias, milícias e crime organizado – que “geram balas perdidas que encontram os corpos dos jovens negros das periferias brasileiras”. Portanto, se faz necessário desnaturalizar a violência e repudiá-la veementemente como forma de resolução de conflitos; sejam estes interpessoais, sociais, entre povos ou Estados.

Nesta perspectiva, o movimento social Mundo Sem Guerras e Sem Violência promove, com outros organismos do Movimento Humanista, a 3ª Marcha Mundial pela Paz e a Não-Violência (2024/2025).

A não-violência e a reconciliação entre as pessoas e entre os povos são condições fundamentais para a implementação das reparações históricas e da justiça social.

O contexto de paz é condição para que as populações possam conquistar seus plenos Direitos Humanos e, de forma democrática e autônoma, construam o desenvolvimento social, a liberdade pessoal e um futuro aberto à expressão do melhor do ser humano.

Novembro de 2023,

  • Mundo Sem Guerras e Sem Violência – Brasil,
  • Centro de Estudos Humanistas Pindorama,
  • PH – Brasil (em formação),
  • Equipe de organização da 3ª Marcha Mundial pela Paz e a Não-Violência no Brasil
    terceiramarchamundial@gmail.com