“Então é preciso ter clareza que se nós não mudarmos as instituições, o mundo vai continuar o mesmo”, acrescentou o Presidente do Brasil

O presidente Lula fez um duro pronunciamento nesta sexta-feira (23) na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, realizado na França. Ele criticou, desde a necessidade do uso do dólar nas relações comerciais até o funcionamento de instituições como o Banco Mundial e o FMI. Segundo ele, ao invés de ajudar, elas criam problemas graves “como os que estão acontecendo na Argentina”.

FMI provoca falência do Estado

“Muitas vezes os bancos emprestam dinheiro e o dinheiro emprestado resulta na falência do Estado. É o que estamos vendo na Argentina hoje. A Argentina, da forma mais irresponsável do mundo, o FMI emprestou 44 bilhões de dólares para um senhor que era presidente, não se sabe o que ele fez com o dinheiro, e a Argentina hoje está passando uma situação econômica muito difícil, porque não tem dólares nem para pagar o FMI”, denunciou Lula.

“Vamos ter claro que o Banco Mundial deixa muito a desejar naquilo que o mundo aspira do Banco Mundial. Vamos deixar claro que o FMI deixa muito a desejar naquilo que as pessoas esperam do FMI”, prosseguiu o presidente brasileiro. Ele destacou que esta é uma ordem econômica que está perpetuando as desigualdades.

“Ou seja, nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, apontou.

Ameaças da UE ao Mercosul

O presidente Lula criticou também o comportamento da União Europeia nas negociações com o Mercosul. “Os acordos comerciais têm de ser mais justos. Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo uma ameaça a um parceiro estratégico”, destacou o presidente.

“Ou seja, nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, apontou.

¿Por que dólar para comércio com vizinhos?

Ele questionou o motivo que leva os países a serem obrigados a usar o dólar para fazer comércio com seus vizinhos. “Tem gente que se assusta quando eu falo que é preciso criar novas moedas para a gente fazer comércio. Eu não sei por que Brasil e Argentina têm de fazer comércio em dólar. Por que que a gente não pode fazer nas nossas moedas. Não sei por que Brasil e China não podem fazer nas nossas moedas”, indagou.

Lula perguntou por que os países têm que depender do dólar. “Por que eu tenho que comprar dólar? Então essa é uma discussão que está na minha pauta e, se depender de mim, ela vai acontecer na reunião dos Brics, que será em setembro. E vai acontecer também na reunião do G-20, porque nós vamos precisar colocar mais companheiros africanos para participar do G-20. Como vocês estão fazendo no G-7”, prosseguiu.

O chefe do Executivo brasileiro falou também sobre a Amazônia. “Eu espero que todas as pessoas que prezam tanto a Amazônia, que admiram tanto a Amazônia, que dizem que a Amazônia é o pulmão do mundo, espero que essas pessoas participem da COP-30, no Estado do Pará, para que tenham noção do que é realmente a Amazônia. Porque muita gente fala, mas pouca gente conhece”, afirmou.

Eu vim falar da Amazônia e da desigualdade

“Eu não vim aqui para falar somente da Amazônia. Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde”, ressaltou Lula.

“Nós queremos fazer disso um patrimônio não apenas de preservação ambiental, mas um patrimônio econômico, para ajudar os povos que moram na floresta. Nessa floresta brasileira nós temos 400 povos indígenas. E desses 400 povos indígenas, nós temos 300 idiomas. E nessa mesma região, nós enfrentamos muitas adversidades. Nós enfrentamos o garimpo, nós enfrentamos o crime organizado. E nós enfrentamos muitas vezes pessoas de má-fé querendo tentar fazer com que nessa floresta se plante soja, se plante milho, se crie gado, quando na verdade não é necessário fazer isso”, argumentou.

Lula voltou a criticar a falta de uma governança global nas questões climáticas. “Se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira”, denunciou. “E por que vira uma brincadeira? Quem é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que nós fazemos? É o Estado Nacional? Vamos ser francos: quem é que cumpriu o Protocolo de Quioto? Quem é que cumpriu as decisões da COP-15, em Copenhague? Quem é que cumpriu o Acordo de Paris?”, indago. “Ou seja, e não se cumpre porque não tem uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente cumprir”, apontou.

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