À medida que os efeitos das mudanças climáticas continuam a se tornar mais evidentes por meio de fenômenos climáticos extremos, o viés da mídia australiana em relação às opiniões das gerações mais velhas está causando atrito com as gerações mais jovens, que estão sofrendo cada vez mais com a ansiedade climática.

A Austrália está ficando para trás em relação ao resto do mundo no combate às mudanças climáticas e um dos principais fatores que contribuem para isso é o desequilíbrio de vozes na mídia. Recentemente, elas têm se inclinado para as atitudes das gerações mais velhas em relação à tentativa do governo de Anthony Albanese de tornar a energia 82% renovável até 2030. Paul Broad, ex-CEO da Snowy Hydro, atacou a reivindicação do governo trabalhista em uma entrevista à Sky News, sugerindo que levará “80 anos [para a transição] e não oito”, apesar de Eva Hanly, CEO da Squadron Energy, dizer que eles têm “a experiência, as pessoas, a agilidade e a escala para atender à enorme demanda por energia verde”. O repórter da Sky News concorda: “[o governo trabalhista] está se recusando a aceitar a realidade [ao] pensar que as energias renováveis vão salvar o dia.”

Surgiram ansiedades sobre como o governo federal será financeiramente capaz de apoiar essas mudanças rápidas à luz de sua alegação contraditória de permitir a entrada de um número maior de pessoas no país agora que as leis de distanciamento social da COVID foram aliviadas. Eles não ofereceram nenhuma alternativa à mineração de carvão para gerenciar a crescente crise de empregabilidade que se agravará com o influxo populacional.

Isso também estimula o questionamento sobre como o orçamento federal poderá investir nisso, bem como nos US$ 245 bilhões que pretendem dedicar até 2055 ao programa de submarinos nucleares com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.

Várias fontes de mídia, especialmente em áreas regionais e rurais, estão pedindo aos australianos que valorizem a “verdade em vez do ativismo”. Embora não haja uma oposição total à energia renovável, muitos estão questionando se é necessária mais preparação antes do início total. Isso está causando discórdia entre os australianos, principalmente entre os jovens e os mais velhos. Os jovens australianos afirmam que a mudança climática deve ser tratada o quanto antes para criar um futuro melhor para as gerações mais jovens. A pesquisa Mission Australia Youth Survey de 2022 mostra que 1 em cada 4 (26%) dos jovens australianos está “muito” ou “extremamente” preocupado com as mudanças climáticas.

Recentemente, os jornais do sudeste de Queensland, como o Courier Mail, têm produzido inúmeros artigos pedindo que os australianos considerem a importância do dinheiro e do fornecimento de energia e meios de subsistência acessíveis aos cidadãos. Há pouca discussão sobre os impactos prejudiciais que as profissões e os recursos que utilizam combustíveis fósseis terão sobre o planeta.

As gerações mais jovens estão pedindo para ter uma participação maior nas negociações sobre mudanças climáticas e vida sustentável. Eloise Grant, de 20 anos, estudante de Bacharelado em Direito e Ciências da Universidade de Queensland (UQ), afirma que, embora manifestações menores, como a Extinction Rebellion & Co, atinjam pessoas mais jovens, “em um nível sistemático, com tantos ativistas iniciantes sendo [jovens demais] para votar, só recentemente vimos nosso poder de voto em ação”.

Na eleição federal de 2022, o Partido Verde conquistou mais cadeiras na Câmara dos Deputados do que nunca. A candidata dos Verdes para a divisão eleitoral de Ryan em Queensland, Elizabeth Watson-Brown, disse: “estamos testemunhando uma mudança tectônica na política australiana… e Queensland está liderando o caminho”.

Adam Bandt afirmou que essa foi a eleição mais bem-sucedida dos Verdes e que “as pessoas apoiaram os Verdes em números recordes e entregaram um mandato maciço de ação sobre o clima e a desigualdade”.

Os jovens também recorreram às mídias sociais para fazer valer suas vozes. Os usuários estão compartilhando inúmeras petições nos stories do Instagram, oferecendo oportunidades para exigir leis que protejam o ambiente natural. A petição da Australian Conservation Foundation pede assinaturas para proteger a vida selvagem australiana, pois “a Austrália tem um dos piores registros de extinção do mundo”. A petição já recebeu mais de meio milhão de assinaturas.

Grant acredita que “o carvão e o petróleo são bombas-relógio de responsabilidade neste momento e nós… já ouvimos a sentença de morte desses setores”. Ela sugere que, para ajudar os trabalhadores na transição dos combustíveis fósseis para a energia verde, a Austrália deveria tentar “treinar trabalhadores antigos em novos setores”.

A vida pró-sustentável é comum entre os jovens. No mês passado, as instituições de ensino do sudeste de Queensland, UQ e Griffith, receberam subsídios durante a Semana da Juventude de Queensland para aplicar em questões importantes para os jovens. Os alunos da UQ estão pedindo um ativismo mais forte em relação às mudanças climáticas, acreditando que “as energias renováveis, como a eólica e a solar, são cruciais para um futuro sustentável”. Da mesma forma, o “projeto da Griffith [tem] o objetivo de abordar a marginalização das perspectivas dos jovens sobre as mudanças climáticas, especialmente na Austrália rural e regional”.

Grant também comenta sobre a ansiedade que os efeitos duradouros das mudanças climáticas causam nas gerações mais jovens. “Os documentários sobre a natureza costumavam ser [empolgantes], mas agora são um pesadelo existencialista [e] é fácil se sentir sem esperança toda vez que um escândalo de emissões de jatos particulares ou [outros problemas climáticos são relatados] no noticiário.” A Mission Australia Youth Survey afirma que quase 2 em cada 5 (38%) dos jovens também sentem “grande angústia psicológica” devido às mudanças climáticas.

Apesar das representações desequilibradas na mídia, ainda há esperança. Grant está confiante de que “só precisamos nos lembrar de que podemos mudar o futuro” e evitar o aumento médio de 2,7 graus Fahrenheit (1,5 C) na temperatura global até 2050 se reduzirmos as emissões de CO2. Uma grande mudança que a Austrália pode fazer em direção a mudanças positivas para o planeta é fornecer uma saída maior para a geração do futuro.


Traduzido do inglês por Victor Hugo Cavalcanti Alves