Depoimento (homem adulto com diagnóstico de TEA): “A vida de uma pessoa autista tem muitas nuances. Desde o momento em que nascemos já temos um problema com este mundo real (real, cruel e desumano); primeiramente, não falamos com os outros, sentimos solidão em nossa relação com o ambiente. Depois há a falta de compreensão, o modo como somos vistos como pessoas que não se encaixam em uma sociedade que só faz de nós máquinas para o consumismo (comprar, produzir). Nós, autistas, fomos tidos por muito tempo como pessoas que não se encaixam, porque somos pessoas que se voltam para dentro, que tentam de todas as maneiras possíveis mostrar que são capazes, à nossa velocidade de compreensão, compreender o ambiente em que nos relacionamos, ou seja, no âmbito de nossos sentimentos, no âmbito profissional (se conseguimos destacar isso, a maioria de nós não consegue fazê-lo).

Quando nos falam, nos sentimos atacados e ofendidos porque os não T.E.A. sentem que temos que ser como eles.

Às vezes, dependendo do nível em que temos autismo, ou seja, nível 1, nível 2, nível 3, e nível 4, é como nos comportamos. No nível 1, temos raciocínio, mas, quando nos relacionamos com outras pessoas, temos sentimentos de medo ou desconfiança e é difícil para nós desenvolver empatia. Segundo algumas pessoas, podemos ser vistos como agressivos, quando pensamos que estamos certos, lutamos para provar nossa perspectiva.

Normalmente uma pessoa com T.E.A. pode ter maior dificuldade em aprender certos tipos de conteúdo em seu processo de estudo, por exemplo, matemática, química; mas, se uma pessoa é apaixonada por história ou algum outro assunto, ela facilmente alcançará uma posição excelente nesse assunto.

Se uma pessoa for diagnosticada precocemente como tendo T.E.A., ela poderá ser capaz de se adaptar bem ao mundo cotidiano, ao contrário, se for diagnosticada tardiamente, será muito mais difícil para ela se adaptar.

Por outro lado, se os tratamentos forem muito invasivos para a pessoa, esta deixará a medicina psicotrópica, porque o sistema hoje em dia tem a tendência de aumentar a medicação a tal ponto que chega a ser excessiva, resultando em um comportamento semelhante ao de um zumbi. Na sociedade de hoje não somos úteis, somos lixo e este tratamento nos incomoda porque somos pessoas pensantes e atuantes.

Em nossas relações românticas damos tudo, ou seja, amamos do coração, embora exijamos demais da pessoa amada, porque não confiamos muito na reciprocidade.

Quando entramos em um estado de conflito, ou não podemos agir à nossa maneira, nos fechamos, mas sentimos, como todos vocês, tristeza, alegria, frustração, o desejo de sermos amados, de sermos reconhecidos pela sociedade e nos sentimos discriminados, porque TEA, repito, a gente é visto como estranho”.

As Nações Unidas definem tópicos sobre o assunto.

Estima-se que cerca de 1% da população mundial – cerca de 70 milhões de pessoas – estão no espectro do autismo. “Como parte da diversidade humana, os autistas deveriam ser aceitos, celebrados e respeitados. Entretanto, a discriminação contra crianças e adultos autistas é mais a regra do que a exceção”.

As pessoas Autistas estão particularmente expostas a abordagens profissionais e práticas médicas que são inaceitáveis do ponto de vista dos direitos humanos.

Tais práticas, muitas vezes justificadas como tratamento ou medidas de proteção, violam seus direitos básicos, minam sua dignidade e vão contra as evidências científicas.

“Crianças e adultos autistas enfrentam uma proliferação de abordagens medicalizadas que dependem da prescrição excessiva de medicamentos psicotrópicos, colocação em hospitais psiquiátricos e instituições de assistência de longo prazo, uso de restrições físicas ou químicas, terapia eletro-convulsiva, etc. Isso pode ser particularmente prejudicial e reduzir a capacidade das crianças e adultos autistas de lidar com sua condição. Isso pode ser particularmente danoso e retardar a deterioração de sua condição. Além disso, com muita frequência, estas práticas equivalem a maus-tratos ou tortura.

Os Autistas devem ser respeitados, aceitos e valorizados em nossas sociedades, e isso só pode ser alcançado respeitando, protegendo e realizando seus direitos e liberdades fundamentais”.

No Chile, pessoas com TEA denunciam maus tratos físicos e psicológicos em antigas instalações do SENAME, bem como diagnósticos médicos errôneos, que resultam em excesso de medicação psicotrópica, o que anula suas respostas emocionais ao ponto de perder seu progresso e seus esforços de adaptação às atividades diárias.

Em que consiste a nova Lei TEA, aprovada pelo Congresso do Chile?

Assegurar o direito à igualdade de oportunidades e salvaguardar a inclusão social de crianças, adolescentes e adultos com transtorno do espectro autista, eliminando qualquer forma de discriminação; promovendo uma abordagem abrangente a essas pessoas nos âmbitos social, da saúde e da educação; e aumentando a conscientização da sociedade sobre esta questão, são alguns dos principais conteúdos da recém aprovada Lei-Quadro para a proteção e integração de pessoas com transtorno do espectro autista.

“As pessoas com transtorno do espectro autista têm direito a cuidados de saúde relevantes às suas necessidades, de uma perspectiva dos direitos humanos, de acordo com a legislação atual, incluindo a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e os tratados internacionais assinados pelo país sobre o assunto e que estão em vigor”, disse a Senadora Yasna Provoste, presidente dos órgãos unidos, ao defender a pronta promulgação do texto legal e inclusão no GES.

Ela estabelece definições de conceitos como, por exemplo, uma pessoa com TEA. Isso será entendido como aqueles que apresentam uma diferença ou diversidade no típico desenvolvimento neurológico.

Ela reconhece a existência de cuidadores para aqueles com TEA.

São estabelecidos novos princípios aos quais o cumprimento desta lei deve estar sujeito: tratamento digno, autonomia progressiva, perspectiva de gênero; intersetorialidade, participação e diálogo social; detecção precoce e monitoramento contínuo, e neurodiversidade.

Ela contempla medidas contra a discriminação arbitrária. O Estado também adotará as medidas necessárias para prevenir e condenar a violência, o abuso e a discriminação contra tais pessoas.

Ela determina os deveres do Estado de assegurar o desenvolvimento pessoal, vida independente, autonomia e igualdade de oportunidades para as pessoas com TEA. Assegurar o pleno gozo e exercício de seus direitos em condições de igualdade com o resto da sociedade.

Saudamos o progresso feito com esta lei e esperamos que ela tenha o financiamento e o pessoal necessários para garantir sua plena implementação. A sociedade chilena precisa superar a discriminação e avançar na valorização da diversidade, para que possamos olhar para nós mesmos com alegria à medida que nos desenvolvemos sobre as questões realmente importantes.


Colaboradores: César Anguita Sanhueza; M. Angélica Alvear Montecinos; Guillermo Garcés Parada e Sandra Arriola Porto. Comissão de Opinião Política

 

Traduzido do inglês por Victor Hugo Cavalcanti Alves