PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA

Por Tony Robinson / tradução Marco Suarez

 

Na Europa, América do Norte e alguns outros países que são alimentados com informações da mídia de massa ocidental, ninguém pode ter deixado passar que estamos realmente em direção à Terceira Guerra Mundial.

As semelhanças com a década de 1930 são assustadoras:

  • Múltiplas frentes de atividade militar estão se abrindo; uma na Ucrânia e mais duas em andamento no Irã e em Taiwan.

  • O nacionalismo extremo está em ascensão, junto com a violência como bode expiatório de imigrantes de todos os matizes e, de fato, qualquer um que não seja um homem branco heterossexual, cisgênero.

  • A deterioração da situação econômica está empobrecendo grandes setores da população, mesmo nos países “mais ricos” do mundo.

  • A mídia de todas as facções espalha propaganda que desumaniza aqueles que vivem em países do outro lado do conflito.

  • Qualquer tentativa de levantar a voz em favor da paz e de soluções negociadas para os conflitos é silenciada ou difamada, e aqueles que o fazem são tachados de “apaziguadores”.

Sim, todos os ingredientes estão presentes para a eclosão de uma guerra mundial total da qual a civilização humana não sobreviverá.

Nesta conjuntura crítica da história humana, descobrimos que o movimento de ‘pacifista’ no Ocidente está totalmente fragmentado e é incapaz de dar uma resposta clara e unificada. No período que antecedeu a guerra do Iraque em 2003, milhões de pessoas em todo o mundo se manifestaram contra uma guerra que eles entendiam que nunca os afetaria pessoalmente porque estava muito distante geograficamente. Agora, quando estamos à beira de uma guerra que afetará todo o planeta, o mundo está em silêncio!

Podemos identificar duas tendências neste panorama fragmentado; aqueles que culpam o Ocidente, a OTAN e suas reivindicações militares de hegemonia mundial, por um lado, e justificam a invasão como um mal infeliz, mas necessário; e aqueles que culpam Vladimir Putin por tudo e suas pretensões de restabelecer a antiga União Soviética. Ambos os lados justificam o derramamento de sangue e chegam inclusive a pedir o envio de mais armas para a região. Ambas as facções colocam o valor do “Estado” acima da vida humana e, em ambos os casos, a última coisa que é levada em conta é o bem-estar da população da região em conflito, que nunca convocou esta guerra e que está sendo massacrada aos milhares. Ambos os lados veem esse conflito como um jogo de soma zero; alguém tem que ganhar e alguém tem que perder. Ambos os lados ignoram o fato de que o fim de qualquer conflito acaba sendo negociado em uma mesa de conferência. Ambos os lados preferem ver assassinatos em massa do que negociar uma solução que evite mais mortes.

Neste contexto, talvez tenha chegado o momento de convocar um novo movimento pela paz voltado, em primeiro lugar, para o bem-estar do ser humano e do planeta.

As bases de um novo movimento pela paz

Antes de nos perguntarmos quais seriam as bases de um novo movimento pela paz, devemos nos perguntar como é o mundo ao qual aspiramos. Não é uma questão abstrata, porque um mundo em que os conflitos não são resolvidos pelo ato armado da guerra não é o mundo em que vivemos hoje. Se queremos um mundo onde as pessoas se comportem de maneira diferente, precisamos de uma imagem de algo diferente, uma nova utopia, uma Nação Humana Universal.

Hoje, mais do que nunca, os cidadãos comuns em todo o planeta devem se unir e assumir uma plataforma comum de direitos e responsabilidades que nada têm a ver com gênero, situação econômica, religião, cor da pele, orientação sexual ou nacionalidade.

Mas como seria essa plataforma? Quais são os princípios, condições, direitos e responsabilidades que sustentam um mundo em que todos possam viver em harmonia?

A necessidade de partir da sacralidade absoluta da vida e do planeta

Primeiro, deve ficar claro que o mundo que aspiramos deve ser sustentável . Nós só temos um planeta . É ilógico e prejudicial à sobrevivência da espécie humana continuar permitindo atividades que esgotam os recursos do planeta. O planeta Terra deve ser cuidado para que todas as formas de vida possam ser sustentadas, não apenas por cinco anos até as próximas eleições, mas por centenas de milhões de anos.

Em segundo lugar, por mais organizados que sejamos, não pode haver outro valor acima da vida humana e da sustentabilidade do planeta . O Estado-Nação, as linhas nos mapas, as religiões, os monarcas, o dinheiro, o livre mercado e outros conceitos abstratos serviram de base para a organização da sociedade. Todos eles deram origem a uma incrível violência e crueldade contra os seres humanos e o planeta. Um futuro sistema de governança global deve se basear no princípio de que a vida humana é o valor central.

Em terceiro lugar, o direito a uma vida digna para todos os seres humanos deve ser consagrado na constituição de um novo mundo. Um mundo que permite que indivíduos ou grupos de seres humanos submetam outros seres humanos a uma vida de dor e sofrimento é o que temos agora e não funciona.

Quarto, a constituição do novo mundo deve ser baseada no acordo de que a guerra e as armas de guerra são ilegais . Não podemos mais permitir que um pequeno grupo de seres humanos imponha sua vontade à grande maioria sob a ameaça de guerra e violência. É improvável que em um futuro próximo os humanos desenvolvam a capacidade de prevenir a ocorrência de conflitos em sua origem, mas podemos desenvolver a capacidade – por meio de uma estrutura legal – de abolir a violência e o uso de armas como meio de resolução de conflitos.

Finalmente, devemos reconhecer que a violência não é apenas o ato físico de ferir outra pessoa. A violência também é econômica, psicológica, sexual, cultural, religiosa, moral, etc. A violência em todas as suas formas deve ser abolida e devemos educar as gerações futuras com as ferramentas para resolver conflitos por meio da transformação pessoal e social não violenta.

O momento é agora; a situação é urgente.

Um grande despertar da consciência pública é urgentemente necessário diante do perigo que nos espera.

Chegou a hora de todas as pessoas boas do mundo rejeitarem a violência imposta pelo sistema global em que vivemos.

Chegou a hora de criar o novo mundo a que aspiramos e de avançar nessa direção por meio da organização social.

Talvez esta convocatória à ação da Europa para a Paz possa ser um passo na direção certa?

Seremos capazes de fazê-lo? Não vale a pena pensar de outra forma.

tony.robinson@pressenza.com

#EuropaPorLaPaz