A remoção de dióxido de carbono (CDR – sigla em inglês) está surgindo como um caminho importante para a recuperação do clima, com uma visibilidade pequena porém crescente na COP26. Existe um ímpeto notável em enfrentar o legado de dióxido de carbono na atmosfera, mas mesmo que o mundo consiga atingir a meta de emissões líquidas zero hoje, ainda existe pelo menos um trilhão de toneladas de legado de dióxido de carbono na atmosfera. Esse legado de CO2 permanecerá na atmosfera durante séculos, agravando o caos climático que passamos a vivenciar nas últimas décadas. A CDR busca remover esse legado de gás carbônico da atmosfera e sequestrá-lo, de preferência durante muitos séculos.

No dia 8 de novembro, a Parceria Global para Remoção do Carbono (em tradução livre) foi lançada em um evento paralelo na “Zona Azul” oficial — ambiente onde ocorriam as negociações — da COP26. Essa parceria começou como uma força-tarefa formada no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), 2020, e agora é uma entidade autônoma que conta com participação influente de diversas partes interessadas.

A parceria é liderada pelo Dr. Sanjeev Khagram – reitor da Escola Thunderbird de Gestão Global, na Universidade do Arizona, EUA – e também terá sedes nas cidades de Nairóbi (Quênia) e Los Angeles (EUA). Tanto o governo queniano quanto a prefeitura de Los Angeles têm sido importantes defensores da CDR, tornando-se fortes modelos para outras nações ao redor do mundo. O setor privado também está bem representado nessa parceria, com empresas que estão trabalhando em soluções de CDR com tecnologias inovadoras e baseadas na natureza, colaborando em direção a um objetivo comum.

No mesmo dia, a Fundação Bellona organizou um evento à parte para as CDR na Zona Azul onde os palestrantes afirmaram que não há tempo a perder. As soluções de CDR devem ser ampliadas imediatamente, e as melhorias podem ser feitas no decorrer do processo, quando necessárias. As grandes quantidades do legado de CO2 que devem ser removidas da atmosfera demandam uma ampliação nos processos de CDR em, pelo menos, 60 a 80% por ano, segundo as estimativas de Christoph Beuttler, líder de Políticas Climáticas na Climeworks.

Essa ampliação nas CDR pode ser – e está sendo – promovido por diversos grupos interessados. As cidades estão demonstrando a viabilidade das CDR e apresentando soluções políticas, conduzindo-as localmente. Posteriormente, essas medidas poderão ser expandidas e replicadas no âmbito nacional e internacional. O setor privado está elevando o padrão dos compromissos climáticos, deixando para trás as metas para ser “carbono neutro até 2050” e providenciando o capital inicial necessário para alavancar o setor de CDR. A Microsoft foi a primeira empresa a se comprometer em ser carbono negativo até 2030 e, agora, um quadro crescente de empresas está seguindo esse exemplo. A população está reduzindo as próprias pegadas de carbono, exigindo que as marcas tenham práticas climáticas responsáveis e solicitando dos seus representantes no governo compromissos mais ambiciosos.

Com a importante ampliação da remoção de dióxido de carbono nos próximos anos, os níveis de CO2 na atmosfera podem ser reduzidos a 300ppm até o ano de 2050, de acordo com a Fundação para a Restauração do Clima (F4CR). Para alcançar esse objetivo, é necessário dispor de uma infinidade de soluções, tanto tecnológicas quanto naturais. Embora a CDR não tenha sido parte dos planos oficiais da COP de maneira significativa, o setor privado e os governos individuais estão seguindo em frente para provar sua viabilidade e sua efetividade.


Traduzido do inglês por André Zambolli / Revisado por Graça Pinheiro