Árvores não estão se recuperando em florestas queimadas. Esse estranho acontecimento torna-se mais frequente à medida que o aquecimento global transforma a flora verdejante em gravetos inflamáveis, causando ainda mais incêndios florestais, e de maiores magnitudes.

Esse artigo examinará a ciência por trás dessa falha das árvores em renascer em florestas incendiadas. Além disso, e como um problema colateral, acentuam-se as consequências do impacto do negócio multibilionário chamado “biomassa lenhosa”, que queima árvores, ao invés de carvão, para atender aos protocolos de neutralização do carbono.

Como consequência, entre os impactos conjuntos das florestas queimadas que não se regeneram e da biomassa lenhosa, que corta árvores maduras – importantes reservatórios de carbono – e as substitui por mudas frágeis, é preciso questionar a capacidade dos “sumidouros de carbono” na natureza. Está encolhendo justo quando mais precisamos?

A biomassa lenhosa é tão ruim, quanto a queima de carvão, se não pior. (Ver — The Woody Biomass Blunder, 15 de novembro de 2021)

A respeito da efetividade do sequestro de CO2 pelas plantações florestais comerciais usadas na produção de cavacos de madeira vendidos no mercado internacional de biomassa lenhosa: “Plantações comerciais de uma árvore talvez atendam à definição de uma ‘floresta’ — uma concentração de árvores em uma determinada área — mas, se considerarmos o desmatamento necessário à lavoura e a frequência da colheita das árvores, tais plantações podem liberar mais carbono do que sequestram”, afirma Simon Lewis, ecólogo florestal da Universidade de Londres. (Fonte: Why Planting Tons of Trees Isn’t Enough to Solve Climate Change, Science News, 9 de julho de 2021)

Existem vários estudos e declarações explícitas de cientistas a respeito da biomassa lenhosa emitir mais CO2 do que a queima de carvão. Ainda assim, para atender às normas de neutralidade de carbono, 60% da energia renovável da UE vêm dos cavacos de madeira. Alguém na UE está no mundo da lua.

Falha na Regeneração das Árvores

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Colorado/Boulder mostra que quando há incêndios florestais de grandes proporções nas Montanhas Rochosas, as florestas não se recuperam, mesmo 15 anos após as queimadas; dos terrenos avaliados, 80% não possuíam nenhuma árvore nova. (Fonte: Lisa Marshall, Forests Scorched by Wildfire Unlikely to Recover, May Convert to Grasslands, CU Boulder Today, 25 de agosto de 2020)

O estudo avaliou 22 áreas queimadas distribuídas ao longo do sul de Wyoming, centro-oeste do Colorado até o norte do Novo México, e incluiu regiões incendiadas desde 1988, como as terras devastadas pelo incêndio florestal Hayman, de 2002, perto de Colorado Springs; o incêndio em Buffalo Creek, de 1996, no sudoeste de Denver; os incêndios em Eldorado Springs e Walker Ranch, próximo à Boulder, em 2000; e o incêndio Missionary Ridge nos arredores de Durango, em 2002.

“Esse estudo, dentre outros, demonstra claramente que a resiliência de nossas florestas com relação ao fogo diminui significativamente sob condições mais quentes e secas”, afirma Tom Veblen, coautor do estudo e professor de Geografia, CU Boulder, Ibid.

O aquecimento global tem contribuído, desde 1990, para uma duplicação nos números de hectares queimados em todo o país.

O aumento da temperatura global destrói as mudas, especialmente no oeste dos EUA, onde as temperaturas no verão aumentaram tanto que as árvores novas não conseguem desenvolver cascas protetivas espessas, e a falha em regenerar-se em ambientes secos depara-se com mudas murchando antes que suas raízes possam crescer em profundidade suficiente para alcançar as águas subterrâneas.

O aquecimento global antropogênico está inibindo e/ou destruindo uma das melhores e maiores soluções da natureza para o combate às emissões de CO2. E, pior ainda, ao cortar e queimar as árvores para gerar energia, os seres humanos estão liberando CO2 na atmosfera armazenado por anos e anos nestas árvores.

Aquecimento Global Destrói Florestas em Todo o Mundo.

“Novos estudos apontam que ondas de calor e secas causarão extinções em massa, exterminando a maioria das árvores vivas atualmente”. (Fonte: We Need to Hear These Poor Trees Scream: Unlocked Global Warming Means Big Trouble for Forests, Inside Climate News, 25 de abril de 2020)

De acordo com Bill Anderegg, pesquisador em Ciências Florestais na Universidade de Utah: “O aquecimento global levou muitas das florestas do mundo a uma situação de incerteza… no Oeste, você não consegue viajar por uma estrada nas montanhas sem perceber como o aquecimento global está afetando as florestas”, Ibid.

As sequoias-gigantes, avós das árvores do mundo, estão “morrendo de cima para baixo”. Isso nunca havia sido documentado antes. Segundo Christy Brigham, chefe de gestão de recursos dos parques nacionais: “Nós nunca havíamos visto isso antes”. (Fonte: Craig Welch, The Grand Old Trees of the World are Dying, Leaving Younger and Shorter, National Geographic, 28 de maio de 2020)

Conforme o artigo da National Geographic, a perda das sequoias-gigantes é um só exemplo de uma tendência mundial preocupante: “As árvores nas florestas estão morrendo em proporções cada vez maiores, especialmente as robustas e mais velhas”, Ibid.

Nate McDowell, cientista da terra no Departamento de Energia do Pacific Northwest National Laboratory e autor principal de um estudo mundial sobre a perda de árvores, diz: “Vemos isso em todos os lugares que olhamos”. (Nate G. McDowell, et al., Pervasive Shifts in Forest Dynamics in a Changing World, Science, Vol. 268, Issue 6494, 29 de maio de 2020)

Os números são surpreendentes: entre 1900 e 2015, o mundo perdeu mais de um terço de suas florestas antigas. Desde então, os números crescem de maneira acelerada. As causas são antropogênicas em sua maioria, isto é, a extração de madeira e o desmatamento, as emissões de combustíveis fósseis que geram um aumento das temperaturas globais e ampliam significativamente a proporção das mortes, as secas cada vez mais longas e severas, que geram gravetos extremamente frágeis, os quais provocam incêndios florestais massivos. O resultado é um mundo em chamas como nunca visto antes, onde as árvores mortas queimam fácil e rapidamente.

De acordo com Henrik Hartmann, do Instituto alemão Max Planck de Biogeoquímica, na Europa Central: “Nem precisamos procurar por árvores mortas… elas estão em todos os lugares”, Ibid.

A África e a América do Sul estão, também, sentindo o impacto das mortes em massa das árvores. O aquecimento global leva a estiadas severas, que se repetem em intervalos de tempos cada vez menores e impossibilitam que a natureza tenha tempo de reviver, regenerar e sobreviver.

Incêndios recentes na Sibéria tiveram proporções bíblicas. Um artigo publicado na SciTechDaily,em junho de 2020, intitula-se: “Meteorologistas Chocados com o Calor e Fogo que Devastam a Sibéria”. A metade desses incêndios vastos ocorrem em turfas que, uma vez atingidas, podem queimar quase que para sempre, se o calor for intenso o suficiente — o que era, e ainda é —, emitindo tanto CO2 como CH4.

O Ciclo do Carbono em Funcionamento

A “maldição do carbono” que cobre a atmosfera e retém calor, à medida que o planeta se torna cada vez mais quente, faz com que a atmosfera absorva níveis excessivos de umidade. Para as árvores, isso acarreta em perda de folhas e no fechamento dos poros, para que possam reter a maior quantidade de umidade possível. Esse processo, por sua vez, reduz a absorção de CO2, formando um círculo vicioso que obstrui o ciclo de absorção de carbono, chave para manutenção do equilíbrio ecológico do planeta.

Na análise final, “Florestas são nossas últimas e melhores defesas contra o aquecimento global. Sem as árvores do mundo no auge de sua condição física, não temos a menor chance”. (Eric Holthaus, Up in Smoke, Grist, 8 de março de 2018)


Traduzido do inglês por Edmundo Dantez / revisado por André Zambolli