Incêndios estão queimando florestas no Oeste Americano, Turquia, Grécia e Sibéria, destruindo milhões de acres, cidades inteiras, e cobrindo várias regiões com nuvens de fumaça que se estendem por milhares de quilômetros. O termo “megaseca” está sendo usado para descrever secas que duram décadas, cozinhando paisagens, deixando reservatórios, que antes transbordavam, a um nível perigosamente baixo, e ameaçando deixar cidades inteiras sem água. Recentemente, na Alemanha e na China, em poucos dias, chuvas torrenciais foram equivalentes ao que cairia em um ano, causando enchentes que mataram centenas de pessoas. Furacões e tufões estão ocorrendo mais cedo, com maior frequência e intensidade, destruindo nações insulares e comunidades costeiras. 

“A influência humana no sistema climático agora é um fato estabelecido”, disse o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, vencedor do prêmio Nobel da Paz, em seu recém-publicado Sexto Relatório de Avaliação, seu maior relatório dos últimos oito anos sobre a ciência da mudança climática. “Em 2019, as concentrações atmosféricas de CO2 eram mais altas do que em qualquer momento dos últimos 2 milhões de anos, pelo menos”, afirma o relatório.

O Secretário-Geral da ONU, Antônio Guterres, chamou o relatório de “alerta vermelho para a humanidade”. O documento de 4000 páginas oferece uma síntese detalhada de mais de 14000 artigos científicos, cuidadosamente revisados por 234 especialistas de 66 países. Eles foram auxiliados por mais de 500 autores contribuidores e receberam mais de 78000 comentários editoriais antes da publicação. O relatório inclui o alerta: “A não ser que hajam reduções imediatas, rápidas e em larga escala das emissões dos gases causadores de efeito estufa, limitar o aquecimento a 1.5°C, ou mesmo 2°C [2.7-3.6 °F] será impossível”.

Essas duas temperaturas definem o que cientistas, criadores de leis, líderes mundiais e ativistas climáticos há muito identificaram como o intervalo aceitável para manter o aquecimento global dentro de um limite seguro. Ou seja, os limites inferior e superior do aquecimento global, causados por humanos, que nossa espécie pode tolerar se quisermos manter o planeta habitável. De acordo com esse novo relatório do IPCC, já aquecemos o planeta em aproximadamente 1.2°C acima dos níveis pré-industriais. Embora isso possa parecer pouco, já trouxe consequências que alteraram o planeta.

“Não deveríamos pensar no assunto como se houvesse uma linha mágica em um grau e meio (Celsius) ou em qualquer outro nível, abaixo do qual estamos a salvo e acima do qual não estamos”, disse o cientista climático Bob Kopp, um dos autores do relatório do IPCC, no noticiário Democrary Now! “Qualquer nível de aquecimento (…) aumenta os riscos que enfrentamos”.

Em 2015, quase todas as nações assinaram o Acordo de Paris, o tratado climático histórico que afirmava o compromisso de todo país em reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa. Mais de cinco anos depois, ainda não há acordo sobre as regras pelas quais o Acordo de Paris será implementado.

Como nação mais rica do mundo, e historicamente a mais poluente, os Estados Unidos têm a responsabilidade de agir, não apenas para que a sua própria economia deixe de girar à base de combustíveis fósseis, mas também para ajudar a financiar essa transição globalmente.

Durante sua campanha eleitoral, Joe Biden fez promessas ambiciosas em relação à ação climática, em contraste com seu predecessor, que negava as mudanças. Após assumir o cargo, Biden imediatamente bloqueou o oleoduto Keystone XL, porém permitiu que o oleoduto Dakota Access continuasse funcionando. Ele também se recusou a parar a construção do oleoduto Enbridge Line 3, em Minnesota, onde milhares de pessoas se reuniram nos últimos meses, juntando-se a protestos liderados por comunidades indígenas, e onde muitos foram presos de modo violento. Biden também instou nações integrantes da OPEC que produzem petróleo a diminuir a produção para reduzir os custos da gasolina.  

Apesar disso, Biden incluiu elementos de um New Deal ecológico em seu programa “Reconstruir Melhor”, estabelecendo padrões mais altos para a eficiência da energia e energia limpa, expandindo incentivos para eletricidade limpa, veículos elétricos, e manufatura de energia limpa, e criando uma Polícia Civil Climática. O Presidente do Comitê de Verbas do Senado, Senador Bernie Sanders, acaba de apresentar uma proposta de verba de três trilhões e meio de dólares para financiar essas e outras iniciativas. O líder da maioria no Senado, Senador Chuck Schumer, promete aprovar a lei até a metade de setembro, utilizando o processo de reconciliação do Senado para derrotar a obstrução que espera encontrar por parte dos Republicanos. 

Enquanto isso, a ONU segue em frente com a cúpula climática COP26 em Glasgow, em novembro, após ter cancelado o encontro do ano passado devido à pandemia. 

“A cúpula de Glasgow, o COP26, talvez seja a mais significativa dentre as que já tivemos até hoje”, disse o cientista climático de Bangladesh Saleemul Huq, no Democracy Now! “É hora de os países ricos fazerem o que concordaram em fazer em Paris: manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 graus e fornecer 100 bilhões de dólares por ano para países em desenvolvimento lidarem com a mudança climática. Eles prometeram, mas não cumpriram.”

Os custos da transição para uma sociedade de energia renovável e livre de combustíveis fósseis será enorme. Porém os custos da inação são incalculavelmente mais altos, não apenas em termos de dólares, mas em sofrimento, deslocamento, destruição e morte. Movimentos globais populares que pedem por justiça climática, muitos deles liderados por jovens, estão crescendo. No fim das contas, essa é a maior esperança para obter mudanças nesta crucial, e cada vez menor, janela para salvar o planeta.

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Traduzido do inglês por Luísa Lucca / Revisado por André Zambolli