Uma resolução da Câmara Municipal não passa de, segundo os cínicos, “apenas palavras.” Entretanto, as palavras na Resolução 0976-2019 — abandonadas por mais de um ano sem entrar em votação — têm grande importância. Elas indicam o caminho para um mundo melhor e mais seguro.

A resolução solicita que a cidade de Nova Iorque retire produtores de armas nucleares dos fundos de previdência de funcionários públicos. Os cinco fundos de previdência da cidade têm participações de cerca de meio bilhão de dólares em empresas envolvidas na indústria de armas nucleares, representando menos de 0,25 dos ativos totais do sistema. A resolução também solicita que os EUA apoiem o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, que se tornou uma lei internacional e entrou em vigor em janeiro.

O desinvestimento representa um pequeno passo em direção a um mundo livre de armas nucleares, em um momento em que a corrida armamentista de trilhões de dólares está galopando, em grande parte ignorada e até mesmo deturpada pela grande mídia. Ainda assim, é um passo vital e importante.

É muito raro alguém ter a oportunidade de salvar uma vida, quanto mais ajudar a salvar todas as vidas humanas. O presidente do Conselho, Corey Johnson, pode fazer com que a Câmara Municipal passe essa resolução agora para deixar claro as prioridades da nossa cidade e fazer a parte dele para o futuro da humanidade.

Em abril de 2018, após ser apresentado a defensores da causa, o Presidente de Finanças da Câmara Municipal, Daniel Dromm, escreveu uma carta ao controlador Scott Stringer solicitando que os fundos de previdência de Nova Iorque excluíssem aqueles que lucram com as empresas de armas nucleares. Ver o link do documento:

“O desinvestimento mandaria uma mensagem clara para as instituições e corporações financeiras pelo mundo de que trabalhadores nova iorquinos recusam-se a obter dinheiro dessa indústria sórdida e, pode-se dizer, ilegal.”

Após repetidos pedidos, incluindo os de hoje – Memorial Day 2021 – Stringer nada fez com relação à solicitação de Dromm. Stringer é candidato a prefeito de Nova Iorque e Johnson espera assumir a posição de controlador, com um histórico de passividade semelhante na questão das armas nucleares. Mais grave ainda, Johnson tem impedido ativamente que esta resolução popularmente apoiada seja cumprida.

Tanto o Controlador como o presidente do Conselho falam de exemplos a serem seguidos e que lhes serviram de inspiração.

Quando criança, Stringer observava em ação a mãe e a prima dela, a louvável membro da Câmara dos Representantes, Bella Abzug. Quando o nobre tema — abolição das armas nucleares — ao qual Abzug dedicou-se com tanta intensidade chegou até sua mesa, ele simplesmente o ignorou. Em 1961, ela ajudou a fundar a Women Strike For Peace (WSP), uma organização que realizou a maior manifestação nacional de mulheres do século passado, exigindo o fim da corrida armamentista nuclear. Com este objetivo, continuou a ser a que mais estreitou laços com as mulheres da União Soviética durante a Guerra Fria.

Corey Johnson poderia demonstrar que ele, de fato, honra seu declarado herói e grande inspiração, o falecido Bayard Rustin. Ele também foi um gigante na luta pelos direitos civis em Nova Iorque, pioneiro do ativismo LGBT e totalmente dedicado em livrar o mundo das armas nucleares, ao ponto, inclusive, de dar a vida por essa causa.

Rustin era um importante oponente desses dispositivos nos anos 40. Em 1955, foi preso em frente à prefeitura, junto com Dorothy Day e alguns outros, por opor-se ao consentimento das nações com a insanidade e a falsa segurança de entrar em abrigos durante simulações de ataque nuclear obrigatórias. Eles bem sabiam, na época, que o governo ainda se recusa a admitir ao público: não há abrigo, não há segurança, não há proteção e não há sentido. Diante do Conselho Municipal — no qual Johnson atua como presidente —, na audiência pública da prefeitura sobre essa resolução, o parceiro de Rustin, Walter Naegle, deu um testemunho notável: “Se ele estivesse com a gente hoje, eu sei que estaria insistindo para que a Câmara Municipal desse continuidade a essas iniciativas.”

Vídeo da audiência pública: https://councilnyc.viebit.com/player.php?hash=EyjCy2Z9pnjd

De acordo com o gabinete legislativo do Presidente de Finanças Danny Dromm (após repetidas solicitações para que Dromm respondesse diretamente), Corey Johnson atrasou a permissão ao voto sem nenhuma explicação. Eles descrevem um presidente irredutível. E nem Dromm cumpriu o declarado compromisso conosco. Todos nós entendemos o atraso e o acúmulo de projetos de lei devido à prioridade da Covid-19. Eu mesmo sou um enfermeiro atuante nesse grave desafio que ainda se revela diante de nós. Entretanto, um ano e quatro meses passaram desde aquela audiência crucial.

Com Corey Johnson pedindo aos moradores da cidade para confiar-lhe a posição de controlador ocupada por Scott Stringer, o exemplo dado por ele, de atraso nos bastidores e de falta de transparência nos fez parar de apoiar alguém que, em outras circunstâncias, admiraríamos. Permitir a votação dessa resolução deixaria expostas e claras as posições dos poucos que ele afirma estarem influenciando essa inação conjunta. Isso seria de grande valor não apenas para a maioria dos membros do Conselho que apoiam a resolução 0976, mas para todos os eleitores nova iorquinos que veem nele alguém que luta por nossas prioridades financeiras.

A luta contra as armas nucleares é algo pelo qual podemos, de fato, agir de forma concreta, nesse momento. Nós fazemos as armas, com vontade política, podemos desmontá-las. Como aconteceu com a nossa usina nuclear Indian Point. 

Se a resolução não passar nas próximas semanas, terá perdido o incentivo inicial para a reforma e estará em uma posição difícil para ser reintroduzida no próximo Conselho Municipal, com uma nova liderança e novos membros. O membro do Conselho Danny Dromm não está buscando reeleição e descreveu que a legislação era uma prioridade especial para ele e se comprometeu a levá-la até o fim, mas ainda não o fez.

Ele pediu que centenas de nova-iorquinos se mobilizassem, ligassem e fizessem lobby em apoio à resolução, que, como resultado, logo se tornou muito bem-sucedida, ganhando rapidamente uma maioria absoluta de membros consignatários do Conselho e um grande número de testemunhas diretas enchendo a audiência pública da prefeitura com inteligência e bom senso. Danny Dromm e outros apoiadores, incluindo o membro do Conselho Ben Kallos, agora concorrendo para Presidente do Distrito de Manhattan, têm a obrigação de gastar capital político para reunir colegas e convocar o Conselho para votar.

Para continuarem um legado de serviço público, agora é o momento de Danny Dromm e Corey Johnson assumirem a responsabilidade e seguirem em frente. Caso contrário, pode ser devidamente anotado e publicamente registrado que dois anos e meio de esforços comunitários foram jogados no ferro-velho político, sem prestação de contas aos cidadãos, sem a cortesia básica de uma explicação legítima. Meses de respeitosos telefonemas e e-mails ficaram sem resposta.

Todos os defensores e ativistas se beneficiam por deixarem de ser “apoiadores de uma única causa”. No entanto, a questão das armas nucleares retornará, de novo e de novo, até que a respondamos ou que a civilização termine. O custo desse problema específico é um atraso para todas as outras prioridades urgentes.

As duas questões principais que, sem responsabilidade alguma, estamos deixando para nossos netos enfrentarem são: o tremendo fardo do clima/meio ambiente, além de terríveis dispositivos de aniquilação. Eles são ameaças existenciais que se relacionam intimamente e que exigem toda a nossa clareza e energia. Os efeitos adversos de qualquer episódio de detonação nuclear, seja por erro, ataque cibernético ou conflito, seriam um percalço imediato e irreversivelmente devastador para todos os objetivos ambientais e para a vida humana.

Sem exageros, a evasão e a omissão dos líderes atuais de Nova Iorque sustentam a propaganda enganosa de um complexo industrial militar descontrolado ao qual nos acostumamos. Esse silêncio contraria todo o conhecimento científico, médico e jurídico estabelecidos sobre a indústria nuclear e seus efeitos. Alguns de nossos bravos generais aposentados, que chefiaram todas as nossas Forças Estratégicas (armas nucleares), admitem a futilidade delas para qualquer propósito militar legítimo.

Esse silêncio possibilita e, com isso, acelera, a atual corrida armamentista nuclear, uma corrida sem envolvimento dos cidadãos, nem processo democrático. Como outro nova-iorquino renomado, o reverendo Dan Berrigan, deixou claro no tribunal em 1980 para a primeira ação do movimento Plowshares: “Essas coisas nos pertencem. Elas são nossas…”. Ele encerrou o discurso para o juiz e os jurados com uma palavra final: “Responsabilidade”.

O silêncio é o que permite que a teoria falha e antiquada da dissuasão nuclear floresça, bem como o mito completo de que seremos “sortudos para sempre”. É o chamado “pensamento mágico”. A maioria dos membros do Conselho de Nova Iorque não apenas quebrou esse silêncio, mas mostrou sabedoria, coragem e bom senso para agir. A mesma maioria, seguindo o exemplo das décadas anteriores, alinhou-se com essa nova e brilhante lei internacional apoiada na resolução.

O presidente do Conselho está ouvindo alguém que não identificou. Se ele está impedindo essa conquista da comunidade no cargo atual, o que o impede de fazer o mesmo quando for controlador? E, se a resolução for aprovada, não queremos um controlador resistente e moroso, como foi Scott Stringer na questão da alienação de combustíveis fósseis.

Para nos representar, o controlador de Nova Iorque é chamado a ter responsabilidade fiscal, a ficar de olho em nossas “responsabilidades fiduciárias”. É “o” trabalho, um serviço vital. Danny Dromm, como Presidente de Finanças da Câmara Municipal e introdutor da resolução 0976, estava cumprindo a exigência da responsabilidade fiscal.

Falando em responsabilidade, vamos destacar um banco nacional fundado e baseado aqui em Nova Iorque pelos últimos 98 anos. Houve uma boa razão para o Amalgamated Bank ter enviado um vice-presidente sênior para testemunhar em favor da Resolução 0976 na audiência pública do Conselho e falar sobre o motivo do desinvestimento da indústria de armas nucleares ser uma vitória para a cidade. A instituição explicou por que o apelo para apoiar o Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares Banimento Nuclear ajuda os bancos e também os objetivos de investir em uma cidade e em um planeta sustentável. Sim, para este banco a realidade é que nossa cidade, nação e mundo são inseparáveis ​​e interdependentes. Quando se trata do clima, de armas nucleares e de racismo, somos um mundo pequeno, precioso e interconectado. Precisamos defendê-lo e investir nele.

Leia por que o Amalgamated Bank tem políticas firmes para não investir ou permitir transações com empresas que lucram com armas nucleares e por qual motivo eles consideram essa postura inteligente, responsável e lucrativa em todas as formas. A cidade de Nova Iorque pode se orgulhar do primeiro banco dos EUA a conduzir negócios dessa forma: https://www.amalgamatedbank.com/blog/divesting-warfare


Traduzido do inglês para o português por Felipe Balduino / Revisado por Larissa Dufner