ARTES VISUAIS

 

 

Por CWeA Comunicação

 

 

As seis instituições irão trabalhar em uma rede colaborativa para apoiar artistas emergentes em situações de vulnerabilidade. A primeira ação, “Brotar”, beneficiará até setembro 36 artistas.

 

O Instituto Solar dos Abacaxis, dirigido por Bernardo Mosqueira e Adriano Carneiro de Mendonça, e integrado também por Catarina Duncan, curadora, e Ana Clara Simões Lopes, curadora-assistente, entre outros nomes, cria o Fundo Colaborativo, que será gerido por uma coligação formada por mais cinco instituições parceiras: Casa do Povo e Pivô, em São Paulo; Chão SLZ (São Luís); Galeria Maumau (Recife); e JA.CA (Belo Horizonte). A primeira ação é o programa Brotar, em que seis artistas de diversas regiões do país receberão, cada um, fomento de R$800. Por sua vez, cada um desses artistas indicará um outro para também receber este fomento, formando assim uma corrente de cuidado que se estenderá a mais seis ciclos, totalizando 36 beneficiados. “Dessa forma, os próprios artistas são responsáveis pelo desenvolvimento dessa rede de cuidado, troca, aprendizado e solidariedade”, explica Catarina Duncan.

Esta iniciativa é desdobramento do Fundo Colaborativo Emergencial para Artistas e Criadorxs, ou FunColab, criado pelo Solar dos Abacaxis em abril de 2020, como uma frente de ação diante da pandemia, e que “nasceu como uma rede de cuidado e solidariedade com o objetivo de apoiar artistas emergentes em situações de vulnerabilidade, tendo realizado até agora quatro grandes ações de distribuição de recursos, beneficiando 31 artistas, três coletivos, e oito instituições, com um total de R$ 280 mil arrecadados”, contam Bernardo Mosqueira e Adriano Carneiro de Mendonça.

 

Ativação de obra de Bote da Jararaca realizada com crianças do Instituto Todos na Luta por ocasião do Manjar Somos Muitxs, em Outubro de 2018. Foto de Renato Mangolin

 

DO COSME VELHO AO CENTRO DO RIO

 

Inaugurado em dezembro de 2015 em uma casa centenária no Cosme Velho, bairro da Zona Sul do Rio, o Solar dos Abacaxis ganhou notoriedade no circuito brasileiro e no internacional da arte a partir das dezenas de eventos realizados até fevereiro de 2020, frequentados por artistas, curadores, e líderes de instituições brasileiras e estrangeiras, que passaram por lá para ver as inventivas curadorias e novas formas de se estar junto por meio da arte. 

Agora o Instituto Solar dos Abacaxis busca espaços no Centro da Cidade e na região portuária para ter sua nova sede, que não mais é no imóvel no Cosme Velho. A falta de entendimento quanto ao objetivo comum do uso daquela propriedade, entre o Instituto e os demais membros do grupo que se reuniu para a aquisição conjunta do imóvel no final de 2019,motivou a decisão. 

“O Instituto Solar dos Abacaxis é uma instituição cultural vibrante, democrática, engajada e colaborativa, e vemos uma grande oportunidade de sinergia com a ideia de retomada de atenção da Prefeitura à zona central do Rio”, destacam Bernardo Mosqueira e Adriano Carneiro de Mendonça. “Sempre colaboramos muito com artistas, criadores, coletivos e instituições do Centro da cidade, que junto com a Região Portuária são territórios de imensa produção cultural, com histórias e questões que se relacionam muito com nossas práticas. Nos interessam também a presença de importantes espaços públicos de convivência, e a articulação com sistemas modais de transporte, que aumentariam enormemente o acesso às nossas atividades. Estamos buscando locais e parceiros para isso”, complementam.

“Somos muito gratos pelo nosso encontro com a casa no Cosme Velho, em 2015. A experiência de imaginar as nossas ações a partir dela permitiu construir o que seria antes impensável. Sonhando junto à casa, pudemos realizar mais de trinta e cinco exposições e uma dúzia de outros programas, colaborando com mais de 200 artistas de diversas regiões do país e do mundo”, relata Bernardo Mosqueira “. “Mas, depois de cinco anos de discussões sobre o imóvel – tanto para garantir sua posse quanto sua manutenção física – percebemos que seria mais proveitoso usarmos nosso tempo, energia e afeto cuidando das relações com artistas e com a programação que oferecemos para as comunidades que nos formam”, completa Adriano Carneiro de Mendonça. 

 

MANJAR

Dentre as várias ações que congregaram milhares de pessoas, uma das mais marcantes é o Manjar, uma plataforma expositiva experimental que reúne e comissiona trabalhos de arte, música, performance, dança, educação e gastronomia para proporcionar experiências “onde o aprendizado se dá de maneiras interdisciplinares e indisciplinares”, comentam.  Em 37 edições, o Manjar reuniu mais de 200 artistas e 23 curadores, pesquisadores e educadores de 24 países e 19 estados brasileiros, recebendo no total mais de 35 mil pessoas. Ao longo desse período, o Solar articulou doações de obras realizadas para edições do Manjar para as coleções do Museu de Arte do Rio (MAR) e do MAC Niterói, por artistas como o cubano Carlos Martiel, o dominicano Engel Leonardo e o mineiro Thiago Honório, entre outros.

 

NOVO SITE + PROJETO CICLO SOLAR 2021

 

Com lançamento previsto ainda neste semestre, o novo site do Solar dos Abacaxis projetado pelo coletivo O Grupo Inteiro abrigará toda a memória do Solar e será uma plataforma expositiva online experimental para novas ações, incluindo a possibilidade de se transformar para receber obras comissionadas especialmente para esta interface interativa. O site contará ainda com espaço para acessar portfólios, publicações e referências relativas aos artistas que colaboraram com a instituição nos últimos cinco anos, tornando-se também um espaço para pesquisa, troca e aprendizado

Outro importante projeto em andamento é o Ciclo Solar 2021, que prevê a realização de três edições de uma experiência artística em espaços públicos do Rio e na nova plataforma digital do Solar. Cada um dos ciclos se propõe a pensar a cidade do Rio de Janeiro a partir de diversos ângulos, como um espaço expositivo em que a arte ocupa locais não usuais, e acessa o público de maneira inusitada. Com as instituições fechadas e artistas isolados em suas casas e ateliês, a ideia é pensar novas formas para ativar o espaço virtual e expandir a experiência da arte para o espaço da cidade. “Tanto o corpo da cidade como os espaços virtuais são territórios de disputa, negociação, expressão e invenção. Nos interessa trabalhá-los como plataformas importantes de troca e criação”, explica Bernardo Mosqueira.

Cada ciclo parte de uma curadoria convidada do Brasil e de outros países da América Latina, reunindo artistas para desenvolverem outros projetos de mundo exercitados em espaços urbano e digital. Ao mesmo tempo em que serão apresentadas obras de artistas contemporâneos em espaços públicos no Rio, haverá desdobramentos na plataforma digital. Haverá ainda um programa pedagógico para as atividades digitais e físicas, além de ações sociais com foco em educação para crianças de oito a doze anos. O projeto, previsto para o próximo verão, foi aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e está na fase de captação de patrocínio.

 

Oficina realizada com crianças do Instituto Todos na Luta por ocasião do Manjar Somos Muites, em Outubro de 2018. Foto de Renato Mangolin

 

INSTITUIÇÃO AUTÔNOMA E COLABORATIVA 

 

O Instituto Solar dos Abacaxis é uma instituição autônoma e colaborativa, voltada à experimentação em arte e educação. “Desde o começo de nossas atividades, partimos do questionamento das maneiras convencionais de propor encontros com a arte para desenvolver uma prática institucional como ‘exercício experimental da liberdade’. Para o Solar, é crucial garantir que o senso crítico e inventivo, tão importantes para o fazer artístico, também estejam presentes nos trabalhos da iluminação, da montagem, da mediação, do design, da limpeza, da arquitetura, da alimentação, do financeiro etc. Nossas questões não estão isoladas na esfera discursiva do programa. Mais do que aspirar mudanças no futuro, nos interessa sobretudo propor no tempo presente outras formas de relação entre pessoas, espaços e obras de arte”, afirma Bernardo Mosqueira. “Por meio de processos artísticos de natureza coletiva e colaborativa, buscamos ser uma associação cultural cada vez mais aberta, acolhedora, vibrante, inventiva e sustentável, comprometida com uma educação libertadora e com a transformação social”, complementa Adriano Carneiro de Mendonça. 

De 2015 a fevereiro de 2020, quando foi realizado o último evento físico no Cosme Velho, o Solar dos Abacaxis ganhou notoriedade não apenas no circuito brasileiro da arte, como também no internacional. Foram muitos os artistas, curadores, e líderes de instituições brasileiras e estrangeiras que passaram por lá para conferir as curadorias e novas formas de estar junto por meio da arte propostas pela instituição.

Dentre as várias ações que congregaram milhares de pessoas, uma das mais marcantes é o Manjar, uma plataforma expositiva experimental que reúne e comissiona trabalhos de arte, música, performance, dança, educação e gastronomia para proporcionar experiências “onde o aprendizado se dá de maneiras interdisciplinares e indisciplinares”, comentam.  Em 37 edições, o Manjar reuniu mais de 200 artistas e 23 curadores, pesquisadores e educadores de 24 países e 19 estados brasileiros, recebendo no total mais de 35 mil pessoas. Ao longo desse período, o Solar articulou doações de obras realizadas para edições do Manjar para as coleções do Museu de Arte do Rio (MAR) e do MAC Niterói, por artistas como o cubano Carlos Martiel, o dominicano Engel Leonardo e o mineiro Thiago Honório, entre outros.

As quatro grandes ações de distribuição de recursos dentro do FunColab foram:

  1. Para nossos vizinhos de sonhos – Com o título inspirado em uma célebre obra de José Leonilson (1957-1993), “Para meu vizinho de sonhos”, de 1991, o programa distribuiu aportes financeiros a artistas que foram convidados a compartilharem suas práticas e pesquisas nas redes sociais do Solar. Cada participante pôde ainda indicar um outro artista para também receber recursos. As doações diretas de pessoas físicas beneficiaram 25 artistas, em três ciclos da ação: AyaIbeji (RJ), Joseane Jorge (MG), Luana Vitra (MG), Marta Supernova (RJ), Maya Quilolo (BA), Saracura Três Potes (MG), Aislan Pankararu (DF), Dayane Tropicaos (BH), Denilson Baniwa (AM/RJ), Diambe (RJ), Edgar Calel (Guatemala), Ítalo Augusto (MG), Jade Zimbra (RJ), Jéssica Senra (RJ), Luana Fonseca (RJ), Lucas Carvalho (BA), Maria Palmeiro (RJ), Massuelen Cristina (MG), Max Willa Morais (RJ), Walla Capelobo (MG) e  Yacunã Tuxá (BA).

 

2. Local da Ação – A partir do desejo de estimular o trabalho de coletivos artísticos que utilizam o espaço público como meio de suas ações artísticas, e “também fazer frente à dicotomia existente entre o isolamento social e a necessidade de manifestar-se politicamente diante dos absurdos que marcaram a atuação do desgoverno federal”, foram convidados três coletivos para elaborarem intervenções urbanas, com toda a liberdade e o protocolo adequado de saúde. Os três participantes foram Coletivo Carni (Recife), Galeria ReOcupa (São Paulo) e Tupinambá Lambido (Rio de Janeiro).  O resultado também foi visto nas redes sociais do Solar dos Abacaxis, ativadas pelos coletivos durante o período do projeto. O título foi inspirado na série homônima de Anna Bella Geiger (iniciada em 1979) em que ‘locais de ação’ são locais ‘entre’, locais-movimento, locais que resistem à objetividade e à representação, locais de ambiguidade e opacidade, locais que revelam contradições na ordem do mundo, locais-transformação. A iniciativa, feita a partir de 01 de agosto de 2020, foi financiada integralmente pelas doações realizadas pela Portas Vilaseca Galeria ao FunColab, por meio de seu programa Arte+Care! 

3. Afluente – A partir de obras únicas e múltiplos doados por oito artistas colaboradores – Cinthia Marcelle, Cristiano Lenhardt, #CóleraAlegria, Dalton Paula, Daniel Steegmann Mangrané, Max Wíllà Morais, Regina Parra, Rivane Neuenschwander e Yuli Yamagata – o projetodistribuiu recursos para oito instituições que lidam diretamente com algumas das maiores crises que vivemos simultaneamente no país. Realizado na ArtRio 2020, em parceria com a Act (Art Consulting Tool), o projeto beneficiou as seguintes organizações: Instituto Arara Azul, Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu (AIKAX), Aula de Boa, Casa Chama, Hutukara Associação Yanomami (HAY), Lanchonete <> Lanchonete, Ilê Iemanjá Ogunté e Quilombo Alto do Santana.

4. NtúArtistas foram convidados a apresentar a relação entre suas práticas e três conceitos cruciais para nosso tempo: rua, terra e cura. O resultado foi também compartilhado nas redes sociais do Solar dos Abacaxis e, novamente, cada um dos três participantes também pode convidar um outro artista para receber recursos e compartilhar seus trabalhos e reflexões. Nos primeiros dois ciclos desta ação, participaram os artistas: 

Ciclo I – Arthur Doomer (PI), HarielRevignet (GO) e Eliane Amorim (PE)

Ciclo II – Vanessa Nunes (PI), Roberta Rox (BA) e Maria Macêdo (CE) – em andamento

 

Crianças do Instituto Todos na Luta discutem a obra Fantasmas da Esperança de Marcela Cantuária durante o Manjar Somos Muitxs, em Outubro de 2018. Foto de Renato Mangolin

 

BREVE HISTÓRIA DO SOLAR DOS ABACAXIS

 

Batizando a antiga “Casa dos Abacaxis”, como era conhecida, com o nome “Solar dos Abacaxis”, as atividades culturais e educativas gratuitas no Cosme Velho foram inauguradas em 8 de dezembro de 2015, com o consentimento dos herdeiros então proprietários do imóvel.  Construído em 1843, o imóvel estava abandonado havia mais de dez anos. Nos anos 1950 e 1960, o casarão havia sido um ponto de encontro das artes e do pensamento brasileiro, frequentado por Carlos Drummond de Andrade, e Lucio Costa, entre outras personalidades. Joia arquitetônica, primeiro edifício neoclássico desenhado por um arquiteto brasileiro, Jose Maria Jacintho Rebello, aprendiz de Grandjean de Montigny, líder da Missão Artística Francesa, o casarão do Cosme Velho é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e protegido pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). 

Em 2019, após mais de três anos de negociações com o grupo de herdeiros para a aquisição do imóvel pelo Instituto, os proprietários decidiram anunciar a casa à venda.  Neste momento, o Solar já possuía reconhecimento institucional público, como o destaque dado em 2018 pela Revista Select, que apontou a exposição “Anna Bella Geiger – Circa MMXVIII”, com curadoria de Bernardo Mosqueira, uma das melhores individuais do ano no país. 

Em setembro de 2019, durante sua participação na ArtRio, o Instituto Solar dos Abacaxis anunciou uma campanha para a aquisição da casa que foi apoiada por outras instituições participantes da ArtRio, como o MAM Rio e EAV Parque Lage. 

Porém, no final de 2019, o casarão do Cosme Velho foi inesperadamente posto em leilão judicial, por dívidas antigas de IPTU anteriores à gestão do Instituto Solar dos Abacaxis. Um grupo de empresários se formou em parceria com o Instituto Solar dos Abacaxis para arrematar o imóvel no leilão, a fim de dar continuidade às atividades culturais do Instituto no casarão. Porém, a pandemia acentuou a falta de entendimento entre o grupo e o Instituto quanto ao uso do imóvel, o que acarretou a decisão de o Instituto Solar dos Abacaxis se retirar do imóvel e buscar novas possibilidades.

Instalação Circa MMXVIII de Anna Bella Geiger no Manjar Anna Bella Geiger – circa MMXVIII em Setembro de 2018. Foto de Renato Mangolin

 

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