Por Raúl Allain (*)

O ‘Vacunagate’ mergulhou o Peru em uma profunda crise moral. A presidente do Congresso da República, Mirtha Vásquez Chuquilin, pediu que a estabilidade seja mantida nesse momento de transição para que os governantes possam ser eleitos nas próximas eleições gerais, em 11 de abril.

Os depoimentos de Vásquez Chuquilin vêm em meio à crise no país devido ao escândalo em que mais de 480 pessoas, entre funcionários públicos e o ex-presidente Martín Vizcarra, aceitaram uma vacinação irregular e secreta com as doses de Sinopharm. A vacina havia chegado ao país no âmbito de um ensaio clínico, patrocinado pela Universidad Peruana Cayetano Heredia (UPCH).

A presidente do Congresso argumentou que a desqualificação política pode ser uma possível sanção para funcionários públicos que prejudicaram gravemente o sistema e minaram a confiança nas instituições, em meio à crise de saúde causada pela Covid-19.

“Se os funcionários se prestam a cometer atos tão graves, que vão contra bens fundamentais como a vida e a saúde das pessoas, acredito que a desqualificação pode ser uma das medidas aplicadas”, enfatizou.

Ressalte-se que o Ministério Público comunicou que a Procuradoria-Geral da República incluiu no inquérito preliminar o ex-presidente Martín Vizcarra Cornejo, a ex-Ministra da Saúde Pilar Mazzetti e a ex-Chanceler Elizabeth Astete, no âmbito da sua vacinação secreta com as doses experimentais da Sinopharm.

Por meio de seu relato institucional, a Procuradoria-Geral da República explicou que se estão investigando os supostos crimes de extorsão e de negociação incompatível ou uso indevido do cargo.

Vásquez Chuquilin acredita que é muito importante que se esclareça que não há interesses políticos por trás da investigação e que se faça um trabalho objetivo para alcançar a verdade. Em sua opinião, qualquer funcionário que ocupou um cargo importante e a quem foi imputada tal responsabilidade deve ser impedido de continuar no serviço público.

A Conferência Episcopal Peruana foi uma das últimas instituições a rejeitar o escândalo. A presidência se pronunciou sobre a atual crise política e social que o país atravessa em razão da aplicação irregular de vacinas contra o coronavírus.

“O Peru, mais uma vez, é atingido pela conduta condenável de algumas autoridades que se beneficiaram de forma egoísta, deixando de lado os interesses do país, o bem comum e sua obrigação de cuidar dos mais necessitados, dos que estão na linha de frente para combater a pandemia “, criticou, em nota.

Segundo os bispos, a vacinação irregular de funcionários públicos “mostra uma nova face do monstro da corrupção e da crise ética e de valores que impede a realização autêntica da justiça e o desenvolvimento do país”.

“A indignação gerada por esses acontecimentos se agrava porque deixa de lado aqueles que há mais de um ano se sacrificam na linha de frente diante desta pandemia. Não é possível que médicos, enfermeiras, policiais, servidores públicos e tantos outros voluntários continuem morrendo, enquanto um grupo insensível busca seu próprio interesse.

A Conferência Episcopal Peruana exigiu que esses eventos “sejam devidamente investigados e penalizados para que a impunidade não tenha mais espaço entre os peruanos e, finalmente, possamos trabalhar em unidade e transparência para derrotar esta pandemia”.

O Plenário do Congresso da República do Peru aprovou no dia 20 de fevereiro uma moção exortando os 130 parlamentares a se submeterem a uma perícia que permita descartar a existência de anticorpos por terem recebido vacina contra o coronavírus da Sinopharm.

Após quase cinco horas de debate no plenário convocado para a revisão deste tema, o documento apresentado pelos deputados Manuel Merino, Otto Guibovich e Ricardo Burga, da Acción Popular, foi aprovado por 111 votos.

Esta medida também se aplica aos chefes da Defensoria Pública, à presidência do Supremo Tribunal ou ao Ministério Público da Nação, entre outras instituições, bem como a todos os ministros e outros funcionários em altas posições, a partir de julho de 2020. O objetivo é descartar que funcionários públicos tenham se beneficiado com vacinas contra o coronavírus.

Diante desse cenário de crise política e social, o governo peruano anunciou que o estado de emergência sanitária durará, pelo menos, até o dia 02 de setembro, conforme publicado no Boletim de Normas Jurídicas do Diário Oficial da União El Peruano, para dar continuidade às ações de prevenção, controle e atenção à saúde para proteger a população de todo o país.

(*) Escritor, poeta, editor e sociólogo. Presidente do Instituto Peruano da Juventude (IPJ) e diretor da Editorial Río Negro.


 

Traduzido do espanhol por Mércia Santos / Revisado por Graça Pinheiro