Com sua grande população e sistemas de saúde frágeis, a África registrou mais de três milhões de casos de Covid-19, ainda menos letais em comparação com outras regiões do mundo, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África (CDC da África). De acordo com o CDC da África, até o dia 10 de janeiro, mais de 3 milhões de casos da doença foram registrados. O número de mortos foi de 72.121 e o número de recuperados foi de 2.450.492. O maior número de casos de coronavírus foi relatado na África do Sul, Marrocos, Egito, Tunísia e Etiópia.

A África do Sul, com mais de 1,2 milhão de casos notificados, incluindo 32.824 mortes, é responsável por mais de 30% do total de casos do continente composto por 54 países e 1,3 bilhão de pessoas. A alta proporção de casos identificados na África do Sul foi atribuída a mais testes realizados do que em muitos outros países africanos.

Os países africanos esperam obter equipamentos médicos, principalmente a vacina, para ajudá-los a sair da pandemia. Eles esperam esses equipamentos de fontes externas. Durante os dias 4 e 9 de janeiro, o conselheiro de Estado chinês e ministro das Relações Exteriores Wang Yi fez visitas oficiais à Nigéria, República Democrática do Congo (RDC), Tanzânia, Botsuana e Seychelles. Wang Yi enfatizou que a China está disposta a aprofundar a cooperação mutuamente benéfica em diversas esferas com a África. Por exemplo, os esforços da China para criar uma nova imagem na África através da cooperação feita entre China e União Europeia quando o assunto são as vacinas.

Tanto a China quanto a UE prometem trabalhar como uma colaboração global perante a Organização Mundial da Saúde com o objetivo de acelerar o desenvolvimento e a fabricação de vacinas de Covid-19, e garantir acesso justo e igualitário para todos os países do mundo. Trata-se de tornar a vacina um bem público global.

Em dezembro do ano passado, durante sua entrevista coletiva anual, o presidente Vladimir Putin deixou claro que a Rússia está pronta para ajudar países estrangeiros, incluindo a África. No que diz respeito à cooperação com outros países, haveria o impulsionamento das capacidades tecnológicas, das empresas para produzir a vacina e os países estrangeiros investiriam seu próprio dinheiro na ampliação de suas capacidades de produção e na compra dos equipamentos correspondentes, explicou.

Os países estrangeiros estariam investindo nesses projetos: na ampliação das instalações de produção e na compra de equipamentos. “Quanto à cooperação com países estrangeiros: nada nos impede de fabricar componentes de vacinas em instalações de outros países, justamente porque precisamos de tempo para melhorar as capacidades tecnológicas de nossas empresas de fabricação de vacinas. Isso não impede a vacinação na Federação Russa de forma alguma”, afirmou Putin.

Segundo um relatório de janeiro da agência de notícias russa Tass, o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) só registrou a primeira vacina russa Sputnik V na África. “O Fundo Russo de Investimento Direto anuncia o primeiro registro da Sputnik V na África. Ela foi registrada pelo Ministério da Indústria Farmacêutica da Argélia em 10 de janeiro”, de acordo com um post em sua conta oficial no Twitter.

Em concordância com o Fundo Russo de Investimento Direto, o registro foi feito sob o procedimento acelerado de autorização de uso emergencial. Este procedimento também foi utilizado para registrar essa vacina na Argentina, Bolívia e Sérvia. O Fundo disse que o fornecimento à Argélia seria possível graças aos seus parceiros internacionais na Índia, China, Coreia do Sul e outros países.

Na notícia “A estrada para a recuperação da África em 2021 é um novo começo”, publicada originalmente pela Chatham House, o Dr. Alex Vines, diretor do Programa Africano da Chatham House, afirmou que muitos países africanos seriam muito mais seriamente afetados pelas consequências socioeconômicas da desaceleração econômica global desencadeada pela pandemia. Antes mesmo do impacto da Covid-19, um número crescente de países africanos estava endividado e estressado financeiramente.

Vines escreveu que a dívida africana se tornaria uma maior preocupação global em 2021, já que muitos estados africanos continuam sendo os mais pobres e frágeis do mundo e foram duramente atingidos pelos custos econômicos e financeiros impostos pela pandemia.

Em sua análise, o Dr. Vines ainda apontou que 2021 também verá uma maior rivalidade geopolítica por influência na África. Isso incluirá a concorrência pela generosidade, desde o posicionamento sobre o cancelamento da dívida até o fornecimento de vacinas da Covid-19. A China tem sua vacina Sinopharm e já aderiu à Covax Facility, iniciativa internacional que visa garantir acesso global igualitário. Os russos têm sua vacina Sputnik V, o Reino Unido tem sua vacina AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, e os EUA as vacinas Moderna e Pfizer-BioNTech (com a Alemanha).

Notícias da Quartz também declararam que a África não parece fazer parte das prioridades de fornecimento das empresas farmacêuticas que produzem as principais vacinas contra a Covid-19. Embora a Pfizer-BioNtech tenha concedido fornecer apenas 50 milhões de vacinas de Covid-19 para a África a partir de março até o final deste ano, a Moderna e a AstraZeneca ainda não alocaram suprimentos para a África. A AstraZeneca orientou a União Africana (UA) a negociar com o Serum Institute of India para obter sua vacina e ver se conseguem um acordo. O Serum Institute of India obteve anteriormente a licença para produzir a vacina AstraZeneca.

Uma reportagem da Quartz afirmou que a maioria dos países africanos dependia principalmente do cofinanciamento público-privado da Covax apoiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para permitir acesso rápido e igualitário às vacinas de Covid-19 para países de baixa renda. Esse mecanismo prometeu acesso a vacinas para até 20% da população dos países participantes, com um fornecimento inicial a partir do primeiro trimestre do ano para imunizar 3% de sua população. No entanto, a COVAX é subfinanciada, e esses países devem procurar outros caminhos para acessar mais doses e vacinar os 50% de sua população a fim de alcançar a imunidade.

Desde o início da pandemia, vários países ao redor do mundo têm feito esforços para facilitar o desenvolvimento local de vacinas, ensaios clínicos, e alguns fizeram pagamentos antecipados por vacinas para incentivar a produção precoce. Fora da África do Sul, a maioria das economias africanas têm desempenhado muito pouco ou nenhum papel no desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19, além do pouco esforço para garantir vacinas enquanto outras economias ao redor do mundo se asseguravam disso.

Por exemplo, um laboratório de doenças genômicas e infecciosas respeitado globalmente na Nigéria, anunciou o desenvolvimento de uma vacina de Covid-19 em setembro que é 90% eficaz contra o vírus no teste pré-clínico, mas não foi capaz de realizar os ensaios clínicos devido à falta de apoio e financiamento.

Embora o Quênia tenha anunciado recentemente que, por meio da Covax Facility, encomendou 24 milhões de doses da vacina AstraZeneca, com fornecimento previsto para começar a chegar ao país na segunda semana de fevereiro, vários outros países africanos estão optando por vacinas da Índia, Rússia e China. Apesar de todo o ceticismo em torno das vacinas da Rússia e da China em particular. Ambos os países implementaram suas vacinas sem resultados dos ensaios clínicos de fase 3 que possam confirmar a sua eficácia.

A África do Sul afirmou que fez um acordo com o Serum Institute of India e receberá 1,5 milhão de doses da vacina AstraZeneca para seus profissionais de saúde a partir deste mês. O país também está fazendo negociações com a Rússia e a China para obter vacinas. Atualmente, a Guiné está testando a vacina russa, Sputnik V, e encomendou 2 milhões de doses.

O Marrocos encomendou 65 milhões de doses da vacina produzida no laboratório chinês Sinopharm e da vacina AstraZeneca do Serum Institute of India. O Egito planeja comprar 40 milhões de doses da vacina Sinopharm. O país já recebeu 50.000 doses em dezembro e espera outras 50.000 na segunda ou terceira semana deste mês, quando a vacinação terá início. A Nigéria disse que o acesso à vacina estava em suas discussões durante a visita do ministro chinês de Relações Exteriores ao país, de acordo com a Quartz.

Apesar da África ter registrado seus três milhões de casos, o continente ainda está atrás dos Estados Unidos e países europeus, e países asiáticos como China e Índia no que diz respeito ao surto de Covid-19. Para muitos países africanos, ainda é hora de refletir sobre como responder à pandemia. Embora tenha recursos abundantes, a África continua a ser o continente mais pobre e menos desenvolvido do mundo, e pior, com políticas de desenvolvimento insuficientes. É hora de priorizar e focar em um desenvolvimento sustentável.

É evidente que a pandemia global expôs as fraquezas no sistema de saúde da África, afetou adversamente seus setores econômicos, portanto, é necessário que os líderes africanos, a União Africana (UA), as organizações regionais e os parceiros africanos sejam lembrados das questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável e integração. É um lembrete para destacar e priorizar as tarefas significativas definidas pela Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável e pela Agenda 2063 da União Africana.


Traduzido do inglês para o português por Larissa Dufner / Revisado por Luma Garcia Camargo