Muitos se confundem com a palavra “neoliberal”. Essa confusão é compreensível. O termo “neoliberal” é um pedaço peculiar e desconcertante da linguagem que é confundido frequentemente com o termo “liberal”. Eles não são a mesma coisa.

Nos Estados Unidos, os termos “liberal” e “esquerda” são usados frequentemente como sinônimos. Desde meados da década de 1930, em geral, a esquerda liberal tem sido defensora dos valores e políticas socioeconômicas que floresceram a partir do New Deal (Novo Acordo, implementado durante a crise de 29 no governo Roosevelt). Pautas como oportunidades iguais, redes de segurança social, educação pública, seguridade social, etc., têm sido as principais preocupações dos liberais dos EUA, possivelmente até hoje. Essa definição de liberalismo difere um pouco do significado de ser liberal na Inglaterra.

Embora as raízes do liberalismo clássico datem do final do século 18, a definição do termo varia dependendo de onde e por quem está sendo usado. Por exemplo, na Inglaterra, o significado da palavra “liberal” é muito semelhante ao que era há duzentos anos. O liberalismo econômico na Inglaterra significa que é melhor deixar a economia em paz e que as preocupações sociais e políticas devem ser mantidas à distância dos mecanismos, supostamente, autocorretivos do “livre mercado”. O termo francês “laissez-faire”, que significa “deixar fazer”, é o princípio central do liberalismo econômico clássico. Isso é praticamente o oposto do que o liberalismo passou a significar nos EUA.

No final dos anos 1970, na Inglaterra, e no início dos anos 80, nos EUA, houve um ressurgimento da versão inglesa do liberalismo econômico. Esse ressurgimento se manifestou nas administrações de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Uma característica central da forma que essa ideologia assumiu foi demonizar as instituições de “esquerda liberal”, que tiraram os Estados Unidos do desespero social e econômico quarenta anos antes. Medidas como sindicatos, redes de segurança social e tributação dos ricos foram todas colocadas na berlinda. Em seu lugar, veio a privatização das instituições públicas, a desregulamentação dos mercados e uma transferência da carga tributária dos muito ricos para os ombros da classe média e dos pobres. Essa mudança na política, que foi inicialmente impulsionada pelos republicanos conservadores nos Estados Unidos, mais tarde foi denominada “neoliberalismo”.

Para acrescentar a esta confusão entre os termos e facções, no início/meados da década de 90, o Partido Democrático nos EUA começou a rejeitar sua ideologia liberal de centro-esquerda e começou adotar as políticas “neoliberais”. Na verdade, muitos consideram a Era Clinton (1992 – 2000) como o período dos esteróides para o neoliberalismo. Sob a direção de Alan Greenspan, que também foi o principal assessor econômico de Nixon e Reagan, o governo de Clinton praticamente acabou com as restrições aos monopólios corporativos nas áreas de comércio internacional, mídia, do sistema prisional e sistema bancário. As últimas duas décadas do século XX, a Era Reagan-Clinton, foram basicamente um golpe neoliberal.

No ano 2000, a esquerda liberal das políticas governamentais de centro do Partido Democrata dos Estados Unidos foi amplamente abandonada em favor de políticas neoliberais. Desde aquela época, sofremos dois grandes colapsos econômicos (no final de 2000 e no início de 2008) e uma aquisição quase completa de todas as principais instituições dos EUA por monopólios corporativos durante os anos Bush, Obama e Trump. Quanto ao presidente eleito Joe Biden, suas principais posições e propostas estão em sintonia com quase todos os seus seis predecessores neoliberais.

Na verdade, com exceção de menos de um punhado marginalizado, TODOS os atuais políticos dos EUA nas camadas superiores do governo são mais ou menos um defensor da ideologia neoliberal. O que nós testemunhamos no século XXI até agora é o triunfo do neoliberalismo e a queda da esquerda liberal dos EUA.

O resultado de toda esta atividade tem sido o que essencialmente equivale a uma unificação tácita das ideologias básicas dos partidos Republicano e Democrata quando se trata de política econômica e, consequentemente, militar. Os grandes meios de comunicação que, devido à desregulamentação neoliberal, se tornaram porta-vozes de seus patrões corporativos multimilionários, nunca falam dessa fusão de ideologias. Em vez disso, as maiores redes de notícias a cabo, como MSNBC, Fox News e CNN, estão jogando com o público, o afastando do conluio econômico e militar dos principais partidos Democrata e Republicano.

Estes políticos corporativos e mídias servidoras da super riqueza confundiram completamente o público ao direcionar sua atenção para diferenças periféricas e sensacionalistas, com o objetivo de alimentar constantemente o ressentimento entre a “esquerda” e a direita”. A propagação dessa confusão tem, até agora, mantido a divisão entre as massas cada vez mais marginalizadas das supostas “esquerda” e “direita”.

Será interessante ver o que acontecerá quando essa estratégia corporativa divisiva for finalmente vista pelo público em geral, que está cada vez mais marginalizado. Será fascinante fazer parte do que acontecerá quando a linha fantasmagórica entre as abandonadas “esquerda” e “direita” finalmente se dissolver, e nos unirmos em uma luta coletiva para salvar nosso destino compartilhado.

 


Traduzido do inglês por Mychelle Medeiros / Revisado por Luma Garcia Camargo