O projeto que cresceu durante a pandemia precisa ser ampliado

 

“Apesar do isolamento e da pandemia, o futuro virá”

A Casa de Artes e Cultura Percília Teles da Silva é um abrigo de amor. Localizada na comunidade do Divino Espírito Santo, em Praça Seca – Jacarepaguá (RJ), a “Casa Percília Teles” funciona desde 2017 com aulas gratuitas de música, idiomas, dança e pintura para crianças e adolescentes que moram dentro da própria comunidade.

Alicerçada sobre o sonho do fundador, Sidney Teles, a casa está de portas abertas para acolher quem precisa receber e também quem está disposto a dar. Ao ficar órfão de mãe com 14 anos de idade, Sidney foi cuidado pelos moradores do lugar onde nasceu e do desejo de retribuir tanto carinho, surgiu o projeto cultural, cujo nome é uma homenagem à sua mãe, dona Percília, que faleceu antes de completar 50 anos, mas deixou um legado de amor que ele pretende manter vivo através das ações de solidariedade.

Aos 62 anos de idade, Sidney ainda se emociona ao falar da própria história e de todo amor que recebeu nos momentos mais delicados de sua vida e revela os motivos que o levaram a criar a Casa de Artes e Cultura. “Eu ainda era um adolescente quando perdi minha mãe para o câncer. Toda comunidade cuidou de mim e da minha família. Pouco tempo depois, eu estava com 22 anos quando meu pai morreu e mais uma vez senti na pele a solidariedade das pessoas. Mais tarde, quando já era casado, a nossa casa pegou fogo e mais uma vez fomos acolhidos. É por isso que hoje eu me sinto na obrigação de retribuir tudo o que um dia alguém fez por mim, e como forma de gratidão nós criamos esse lugar de transformação, de promoção da vida, do afeto e do amor,” conta Teles.

Sidney Teles (foto acervo pessoal)

Até março desse ano a Casa Percília Teles já havia beneficiado cerca de 720 pessoas, mas com o início da pandemia surgiram outras necessidades e o projeto cresceu: por causa do isolamento social, as aulas foram interrompidas, mas o local se tornou referência na distribuição de alimentos e material de limpeza. Sidney relembra que no período mais severo da pandemia, quanto aumentou muito o número de pessoas desempregadas a instituição chegou a ajudar cerca de quatro mil famílias, principalmente das comunidades vizinhas.

Ele conta que quando percebeu as dificuldades dos moradores da comunidade, o sentimento de solidariedade aflorou com mais força, por isso foi necessário cria um espaço mais amplo, para que o projeto chegasse até famílias das comunidades vizinhas. Foi quando, então, surgiu uma casa maior. Na nova sede, em lugar mais acessível, a meta é aumentar o atendimento de 20 para 50 crianças, a partir de fevereiro de 2021. Além do aluguel de R$3.000,00 por mês, ainda há obras para serem feitas e serviços de manutenção. Para isso, está sendo criada uma rede de solidariedade entre pessoas que queiram contribuir.

Acostumado a superar dificuldades desde muito cedo, Sidney não tem dúvida de onde quer chegar: “Eu aprendi que aquilo que você faz com o que você passa é o que determina como você quer viver e por isso eu sei que a gente vai longe nessa batalha. Apesar do isolamento e da pandemia o futuro virá e isso nos motiva,” afirmou.

Sede da Casa das culturas. Foto Sidney Teles

Quem já faz parte desta rede solidária garante que vale apena. É o caso da assistente social Viviane Nicolau do projeto “Marias com Amor”. Criado em parceria com as filhas, as três Marias, o projeto que já atendia famílias no Vidigal, na Rocinha, na Mangueira e no Andaraí se juntou também à Casa de Artes e Cultura Percília Teles da Silva. Para ela, a vida ganhou um novo sentido: “Quando eu e minhas três Marias entendemos que podíamos trabalhar em prol de um mundo melhor, a nossa vida deu uma guinada. O projeto “Marias com Amor” é uma rede de solidariedade e amor; é um elo entre quem precisa e quem pode ajudar, por isso nós estamos totalmente engajadas em dar a nossa contribuição para a Casa de Arte e Cultura. Essa casa é um lugar de acolhimento e esse é um projeto que traz futuro, amor e carinho, então nós estamos juntos para alimentar o amor em um monte de gente, porque a vida não pode parar,” argumentou.