O encerramento da campanha do MAS-IPSP (Movimento para o Socialismo – Instrumento Político pela Soberania dos Povos) foi no dia 14 de outubro, em El Alto, coração da luta indígena da Bolívia e da resistência ao golpe. El Alto, juntamente com o Trópico de Cochabamba, é a região de resistência contra o colonialismo, o neoliberalismo, o imperialismo e, atualmente, contra o golpismo. Esteve presente toda a liderança das organizações indígenas do país aglutinadas no Pacto da Unidade, a Central Obreira Boliviana (COB) e todas as organizações das juventudes, mineiros, artistas, profissionais etc. do país.

O apresentador do evento convocou a vigiar os votos: “Estamos em vigília e em estado de emergência para que respeitem o nosso voto neste 18 de outubro. Vamos defender o nosso voto, é necessário ficar de olho nas atas eleitorais, vamos conseguir a vitória no primeiro turno”. Sobre isso: os golpistas vão aplicar o DIREPRE (Difusão dos Resultados Preliminares), um novo sistema rápido de contagem dos votos, que não vai enviar as fotografias das diferentes atas eleitorais que contêm os resultados da apuração das diferentes mesas. Isso impede que as cidadãs e os cidadãos, os delegados e a imprensa possam comparar com a fotografia que tiraram, com seu celular, da ata eleitoral da sua mesa e confirmar se coincide com a informação que é transferida ao sistema do Supremo Tribunal Eleitoral (STE). Então, o que se conhecerá no sistema é o resultado final por colégios eleitorais e não pelas atas.

Os slogans do evento foram: “A democracia significa o Viver Bem”, “Basta de racismo e de ódio”, “O voto se respeita”, “O povo unido jamais será vencido” etc. Também se pediu um minuto de silêncio pelos mortos em Senkata e Sacaba, que tombaram em defesa da democracia. Acompanhavam, como fundo, música folclórica indígena e a canção da campanha: “Lucho e David um só coração”.

Em seguida, o cantor boliviano Maroyu cantou a cumbia, sucesso do momento no país: “Bolívia inteira, todos votaremos pelo MAS”. A multidão dançou, festejando um dia histórico de luta do povo boliviano. O país e a comunidade boliviana, que vive no exterior, acompanharam o evento pelas redes sociais, que explodiam de festejos. Celebrava-se o que é uma reorganização rápida e exemplar, a luta e a união do povo boliviano contra o golpe de estado em direção a um triunfo arrasador em 18 de outubro, de acordo com as pesquisas da direita que, embora exagerem a figura de Carlos Mesa da Comunidade Cidadã (CC), não podem esconder a diferença de mais de dez pontos percentuais entre os dois candidatos, o que possibilitará ao MAS vencer ainda no primeiro turno.

Na sequência, iniciou-se uma cerimônia ancestral à frente de Lucho Arce y David Choquehuanca em que os amautas lhes entregaram o cetro, enfatizando a união do futuro presidente e do vice-presidente da Bolívia para que governem juntos, com sabedoria e escutando as bases.

David Choquehuanca deu início ao evento diante de um mar de bandeiras azuis do MAS: Esta é a caminhada de Tupak Katari, estamos no quartel general de Tupak Katari”. Prosseguiu com seu discurso: “ O poder não pode concentrar-se nas mãos de poucos, o poder tem que fluir e circular, como a economia tem que circular e não pode estar concentrada em poucas mãos e em um pequeno grupo; assim, também o poder não pode ficar concentrado em pequenos grupos, deve fluir e circular e deve haver permanente renovação”.

Esta mensagem de David Choquehunca responde ao pedido de todas as organizações sociais do país que exigem a renovação de todos os gabinetes da anterior gestão do MAS, dando início a uma “segunda etapa do processo de mudança revolucionária”, como o denominou David Choquehunca. Poderiam resgatar-se os princípios andinos e revolucionários que deram origem à revolução democrática e cultural em 2006 e que se perderam nos últimos anos.

Choquehuanca continuou com sua intervenção: “Eu e o Lucho fizemos o compromisso, diante do povo boliviano, de que o poder vai fluir e não se concentrará em poucas mãos e vai circular e vai haver renovação”. Luis Arce, ratificando essa orientação, afirmou recentemente em uma entrevista na TV boliviana: “No nosso gabinete, não entrarão aqueles que participaram dos gabinetes anteriores”.

Prosseguiu com conceitos do Viver Bem e reivindicou a identidade como o motor da luta dos povos em oposição à visão eurocêntrica impregnada na política, nos chamados, em Bolívia, “intelectuais de classe média” e no conhecimento científico em nível regional e mundial: “Somos a favor da economia circular, da redistribuição, da desacumulação, não da acumulação capitalista. Recordemos como os nossos avós procuravam o equilíbrio, devemos voltar ao caminho do equilíbrio” (…) “Vamos defender a nossa pollera (mulher boliviana com sua saia típica), nossa cultura, nossa música, nossa Whipala (bandeira de origem andina) e o voto popular, não nos poderão apagar jamais, somos fogo que nunca se apaga, somos fortes irmãos”.

Diante da repressão brutal ao movimento indígena por parte do golpismo, Choquehuanca afirmou: “Não irão nos reprimir nem nos calar, recuperamos as esperanças” e, dirigindo-se a Lucho: “Vão querer nos dividir e nos destruir; não vão nos separar do nosso povo, porque somos povo e só povo pode salvar o povo, é o povo quem tem a última palavra, o mais importante são as bases, vocês são os alicerces”.

Dessa maneira, destaca-se o clamor das bases, que os governantes devem “governar obedecendo ao povo” e não que esta frase permaneça na retórica discursiva, mas que se prepare a democracia participativa genuína que foi deixada de lado e que é o único fator que pode garantir o Estado Plurinacional em disputa. Para concluir: “Este instrumento político é do nosso povo e vamos votar por nossos candidatos, votar pelo MAS é votar por nós mesmos”.

Então, Luis Arce tomou a palavra: “Temos vivido um pesadelo no período pós-golpe de estado, em que o povo sofre, sente fome e em que voltaram o racismo, a discriminação e a prepotência; pensaram que matariam o MAS, mas seguimos aqui e seguimos vivos” (…) Tentaram matar e tornar o MAS ilegal, mas se esqueceram de que o povo é imortal. Nestes 11 meses, em sua ambição pelo poder e com sua incapacidade de governar o país, temos visto a direita fazer a partilha do Estado como se fosse uma recompensa de guerra, roubar seu povo, tomar a saúde da gente, tomar os respiradores, assaltar as empresas públicas, roubar-nos a educação, isso não podemos permitir”.

Continuou seu discurso: “Demonstraram que não conhecem as necessidades do povo boliviano, que não pensam como o povo boliviano, que não gostam da cultura do povo boliviano; por isso, no dia 18 de outubro, o povo vai acorrer às urnas e dizer sim ao MAS, porque precisa de um presidente que conheça seu povo e que respeite suas necessidades”.

Em relação aos golpistas e seu objetivo: “A direita veio da única maneira que poderia ter vindo: veio com armas, veio para massacrar o povo boliviano, está nos transformando em um povo faminto, nos afundando em uma crise econômica, sem educação, sem saúde, isso tampouco lhes vamos permitir”.

Lembrou sua gestão anterior em relação à economia do país: “Quando entramos em 2006, encontramos um país quebrado, sem recursos (…) e conquistamos os melhores indicadores macroeconômicos, recorde em toda a região. Hoje temos o mesmo desafio, porque nos deixaram um país quebrado, vamos trabalhar para fazer o país progredir”.

Seguiu seu discurso com uma mensagem às Forcas Armadas e à polícia boliviana: “Soldados e policiais de base nos relatam que os oficiais de alto escalão lhes dizem que, se ganharmos, o MAS vai procurar se vingar dos policiais e dos militares. Os soldados e os militares são nossos irmãos, são quechuas, aimarás, guaranis etc.; sempre vamos recebê-los com os braços abertos porque eles devem estar ao lado do seu povo”.

Também enviou uma mensagem aos jornalistas e à juventude: Aos que foram ameaçados por denunciar (inclusive, com ameaças às suas famílias), vamos garantir a liberdade de expressão” (…) “Queremos nossos ministérios repletos de jovens profissionais comprometidos com seu país, porque não basta que sejam profissionais, é necessário um compromisso com seu país, com a sociedade e com o povo boliviano”. Destaque-se que esses comentários fazem referência ao que se chamou de “perfis profissionais”, que não eram grupos políticos, nem se identificaram com os princípios e valores que geraram a revolução boliviana e que entraram para trabalhar em cargos-chave na gestão anterior do MAS, e que logo mudaram de lado e/ou, simplesmente, desapareceram de cena.

Concluiu com o prognóstico de um triunfo categórico: “Neste 18 de outubro, quando vencermos com mais de 50% dos votos, recordemos dos nossos mortos e heróis, que tombaram em defesa da democracia e que sempre estarão em nossas mentes”.


Traduzido do espanhol por Graça Pinheiro / Revisado por José Luiz Corrêa da Silva