ARTES VISUAIS

 

 

Ricardo Sacih tem 42 anos e é formado em artes plásticas pela EBA/ UFRJ, fez segundo grau – atual ensino médio – em desenho mecânico, o que lhe despertou um interesse pelas ciências exatas, o que lhe ajuda hoje, com a técnica de impressão 3D à qual incluiu recentemente em seu leque de habilidades.

– Há quanto tempo faz arte e quais as maiores dificuldades de circular e comercializá-la?

– Desde criança. Saltando de uma modalidade pra outra. Já flertei com a animação, com o teatro, com cinema; faço esculturas, charges, pinturas, graffitis, etc. A urgência de conseguir dinheiro sempre falou mais alto. Isso acaba comprometendo a qualidade e até nos fazendo topar fazer trabalhos que não tenham muito a ver com nossas propostas artísticas. Mas vim de um meio também onde a cultura não era valorizada. Então o apoio também era bem escasso.

– Quando se interessou pela impressão 3D, qual seu interesse nela e quais as vantagens da nova tecnologia?

– Faz 2 anos e meio que estou trabalhando com impressão 3D. O que mais me atraia e distraía no início eram simplesmente os desafios técnicos que se apresentavam a cada novo serviço. Mas com o tempo comecei a pensar em explorar essa técnica como expressão artística para otimizar meu tempo. Ou seja, no princípio foi mais uma questão de praticidade. “Unir o útil ao agradável”. Mas então comecei a amadurecer a ideia e pensar sobre aspectos que me pareceram bem interessantes. A impressão 3d, por exemplo é uma forma do trabalho refletir também sobre isso: novas tecnologias. E nós, provenientes das periferias estamos sempre tão defasados nesse sentido. Me parece interessante fazer esse contraponto.

– Quem são os artistas que lhe influenciam hoje ?

– Atualmente não tenho pensado muito nesse assunto. É difícil dizer, pois no fundo tenho me sentido tão chacoalhado no meio desse maremoto de informações que ainda não estou filtrando o que tem mais me influenciado. Tenho até prestado mais atenção aos assuntos sociais e políticos do que aos artísticos. Mas de todo modo, tenho olhado bastante pro Ruben Valentim. Mas não posso dizer, ainda pelo menos, que tem sido uma influência diretamente. Lembro até de ter ficado chocado quando vi a entrevista da ex-sinistra da cultura (Regina Duarte) com quadros dele no fundo. Bateu logo um medo de criarem uma associação entre uma coisa e outra, assim como aconteceu com as cores da bandeira do Brasil. E tem o Antony Lister também, que curto muito. No passado me influenciei pelas idéias de Joseph Kosuth e René Magritte. As pinturas de Oskar Kokosca, O estilo de traço quase que gestual do Bill Sienkiewicz. Mas tem alguns que ficam quase que naturalmente com a gente pro resto da vida. Van Gogh, Manet, Boromini, Delacroix, enfim…

Ponta de lança (2019). Dimensões: 26cm X 44cm X 19cm. Técnica: impressão 3D. Material: plástico PLA.

– Como desenvolveu seu traço inconfundível?

– Fazendo. (Risos)

Dandara e Zumbi dos Palmares no muro do Quilombo Urbano Agbara Dudu.

– O muro do Quilombo Urbano Agbara Dudu apresenta a imagem de Dandara e Zumbi dos Palmares representados com expressão firme e em cores muito vivas . Como desenvolveu esta vívida habilidade de retratar?

– As pessoas me interessam. Acho que sou um reparador. (Risos)

– Certa vez vc e uns colegas deixaram um “despacho fake” na sala de um controverso reitor da UFRJ do ano de 2001. A ação preocupou e afetou de verdade o sujeito, que deu um xilique que até saiu no jornal do sintufrj. Que estranha força é esta do simbólico e até do religioso, no nosso cotidiano?

– Em geral a força da superstição é proveniente da cultura. Muitas pessoas que dizem não crer nessa ou naquela religião, mas a nível de subconsciente são sim afetados pelas simbologias e iconografias religiosas. Mas vale a pena ressaltar também que existe um medo por religiões de matriz afro, incutido nas pessoas por via do racismo cultural. Resumindo, são coisas que apelam para um lado não tão racional.

– Se você fosse gravar uma canção de amor, para lançar num disco voador, como intitularia?

– Vida.

– Que projetos está envolvido, no momento?

– Estou trabalhando no livro infantil “O barquinho de Luandê”, dou um curso de grafitti no Quilombo cultural Agbara Dudu, em Oswaldo Cruz – que está parado por conta da pandemia – e estou produzindo as histórias em quadrinhos do Super Cristo.

– Uma mensagem aos leitores, sobre este momento.

– Vamos praticar a solidariedade e a cooperação pois mais do que nunca, nossas vidas dependem disso.


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