A recessão econômica é um caminho sem volta para o planeta Terra. Independente do sistema, – capitalismo, comunismo ou socialismo –, sendo quê , esses dois últimos, nunca existiram de fato, foram apenas placebos para disfarçar a sanha e a cobiça dos humanos. A nova era mundial pode estar apontando aos  seres humanos, o mesmo caminho de extermínio, que viveram os antigos habitantes do planeta- os dinossauros. Esse hiato na historia, que até hoje nos assombra, exterminou  milhões de dinossauros,  que dominavam a vida no planeta, e pode se repetir em plena era de Aquário, debaixo do olhar da humanidade atônita e rica em recursos científicos, filosóficos, tecnológicos e financeiros. Mas, afinal o que nos difere dos dinossauros?

O desespero dos magnatas, senhores desse mercado, caminha na contramão das necessidades de bilhões de seres humanos –, indivíduos esquálidos que vivem e, pelo andar da carruagem, sempre vão estar à margem do processo de distribuição de riqueza – eternas  cobaias nas mãos do sistema financeiro.

Se não bastasse o aquecimento do planeta, pela queima insana de combustíveis e a busca incessante de novas tecnologias para aprimorar os mecanismos de dominação das massas, a elite governante, seja em que hemisfério ela esteja plantada, permanece olhando para o seu próprio umbigo e se alimentando do mesmo sangue durante Eras – sangue de  homens simples ou iluminados ou, de outros tantos mártires,  derramados em vão em cruzes,  praças, ruas, vielas e florestas desse planeta.

Enquanto escrevo, escuto gritos e tiros da janela de minha casa. O bombardeio entra pelas frestas que não consigo tampar e pelas indiscretas janelas da televisão, do telefone, tudo em hight definition, num mosaico de imagens reais e distantes da realidade que, infantilmente, eu penso que me guarda dos perigos que avançam sobre nossas vidas.

A vocação  humana para a autoproteção  não é novidade, mas a apatia que tomou conta da humanidade pós-revolução industrial é de fazer revirar nos túmulos os grandes pensadores de nossa era. Sócrates se tivesse sobrevivido à cicuta, estaria hoje nos embalos da Corona fest,  num bate estaca e, ou, quem sabe, consumindo balinhas de vento, assim como andam fazendo os pensadores de hoje, que são incapazes de filosofar sem a garantia dos cofres e dos copos cheios, do tiro de pó branco ou de muita heroína nas veias.

Os caminhos sem saída para os quais fomos orientados a seguir, revelam que não há luz no fim do túnel. Enquanto isso, o dragão do oriente segue alimentando a sociedade ocidental e oriental com seus subprodutos, aumentando o nível de poluentes em nossos mares, rios e escassas fontes água potável. A águia voraz, senhora de todas as guerras, segue plainando sobre as riquezas naturais do mundo, desrespeitando os limites territoriais e políticos dos acordos internacionais. Ela voa com bombas nas garras. Já no reino dos Tupinambás, substituímos a ararinha azul por um palhaço chamado de Birolilo.

O oxigênio, que a partir da revolução industrial  vem acrescido de abundantes partículas de monóxido de carbono e outras substancias cancerígenas, agora nos é caro e está em falta no mercado, pois o vírus, esse microbio de nós, se espalha pelo mundo tomando conta de todos os cenários,  nos trancafiando nos nossos armários e impondo sua força invisível sobre ricos e pobres, mas é no meio dos pobres que ele encontra o terreno fértil para o seu trabalho – a morte.

A grande recessão que vivemos, de fato,  não é econômica,  mas de  valores que ficaram perdidos no tempo. Veja as igrejas – elas proliferam pelas esquinas das grandes cidades , pelas vilas amareladas de poeira e ruelas sem saneamento  nas periferias e pequenas cidades, tentando tirar dos miseráveis, o pouco que ainda lhes sobram para o pão de cada dia. A fé é cega e a faca é bem amolada. E os pós modernos imperadores   prometem injetar  trilhões  de dólares para manter a economia pulsando  e frear momentaneamente os efeitos da recessão  que se alastra como um vírus muito mais letal, que o próprio Covid-19, destruindo a imunidade histórica dos grandes mercados.

As potencias que se construíram com base em sólidos conhecimentos de economia de mercado e com frágeis percepções sobre a realidade das massas, da ética,  vêm se auto destruindo e no bojo dessa destruição, como um tsunami, arrastam tudo o que encontram pela frente , principalmente, as pequenas e emergentes economias que sempre sustentaram  toda  essa pujança, que elas refletiam para o mundo como se fosse delas.   O poço é profundo e só quem já está em franca queda sabe o quanto é difícil estar sempre caindo.

O Brasil, o eterno país do futuro, que num dado momento da história pareceu um gigante acordando, hoje, não passa de um anão ajoelhado diante dos senhores do mercado. Com a economia agonizando e vidas indo embora precocemente, temos que dar adeus a ilusão de um futuro e nos enxergar no presente, que descortinou  as nossas mais escondidas mazelas e milhões de brasileiros invisíveis.

Agora, finalmente, a floresta  vai poder ser destruída com o consentimento do Estado. Os povos originários estão ganhando de fato, aquilo que sempre lhes foi de direito – a cova rasa no meio da mata, a parte que lhes cabem nesse grande latifúndio.

Os discursos hipócritas dos nossos governantes ganharam a proteção do mercado  e, assim, vamos dançando, oscilando sobre o novo eixo expansionista e nos contorcendo para nos manter vivos em frente a  governos de ideais macabros e gananciosos, que comemoram a cada fogueira acesa, a cada limite rompido na direção da higiene social que prevê o movimento de eugenia dos povos. Exterminam-se os índios, matam-se os negros e escravizam-se os brancos pobres.

O que fazer diante desse quadro caótico em que nos colocamos?  O projeto da grande corporação de substituir os líderes por gestores, finalmente  mostra a que veio. Só esqueceram de preparar os gestores para liderar em tempos de caos. O mal que assombra Brasília está disseminado por todo continente  chamado Brasil.

O mar de corrupção atinge cada ser humano das formas mais variáveis – do ativo ao passivo. É policia que rouba o pó da mão do negrinho favelado, que coage, que extermina  sem o dolo, debaixo dos silenciosos olhos do mundo.

Seguimos nesse paralelo, desafiando a fome, sendo assaltados, tendo os direitos cassados, a esperança reduzida a simples espera de que algum milagre venha nos salvar da nossa própria desumanidade.  Ou que o meteoro acerte o alvo e a história se repita, assim como os dinossauros.

Em meio a tantos pensamentos e realidades duras sinto que um sopro quente de esperança avança sobre nós – um despertar de consciência, uma morte que veio nos trazer de volta para a vida. Vejo a marcha de homens negros, brancos, latinos, pardos que, desafiando o vírus, caminham pacificamente na direção dos grandes palácios em todos os países, onde se escondem os poderosos e isso,  pode estar revelando que a nossa sina tende a ser bem diferente das dos dinossauros. Afinal, temos uma história de lutas, que precisa e merece ser coroada com a vida. E teremos pela frente muitos encontros marcados. Termino essa crônica com as palavras do escritor mineiro, Fernando Sabino, no livro o Encontro Marcado, para nos lembrar que tudo passa e pode sempre se transformar…

De tudo, ficaram três coisas:
a certeza de que ele estava sempre começando,
a certeza de que era preciso continuar
e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção, um caminho novo.
Fazer da queda, um passo de dança,
do medo, uma escada,
do sono, uma ponte,
da procura, um encontro